É inevitável! Em muitas situações precisamos estabelecer conversas que são difíceis, seja um pedido ao chefe, o retorno de um compromisso que não conseguiu concluir, um feedback negativo a um liderado, reportar um erro, dizer não para um amigo, precisar corrigir um filho ou até mesmo abordar um assunto delicado.
No fundo ninguém gosta de ser portador de notícias pouco ou nada agradáveis. Quantas vezes postergarmos, deixamos para depois e escolhemos a procrastinação? Outras vezes, por falta de habilidade, “despejamos” de qualquer maneira sem o devido cuidado com as palavras. Quem nunca?
Quantos carregam as mágoas das suas palavras, o peso da raiva da sua abordagem, o rancor da maneira como lidou com o tema, a sensação de injustiça pela forma tratado por você. Sei que não controlamos o sentimento ou ressentimento dos outros, mas podemos nos preparar para não causar tanta dor ou sofrimento.
É importante aprendermos formas de se comunicar para falar sem machucar, mas também sem precisar “engolir sapo”. O caminho da comunicação é criar uma ponte e descobrir o que o outro precisa, e conectar com os sentimentos e necessidades antes mesmo da notícia em si.
Algumas pessoas terão mais momentos que outras para estes diálogos, mas todos nós em muitas situações ao longo da vida nos depararemos com esta necessidade. Seja porque erramos e precisamos pedir desculpas, seja porque trabalhamos gerindo e compondo grupos com opiniões diferentes, seja porque nos depararemos com situações desafiadoras na educação de crianças, nos ambientes familiares e nos profissionais.
Na educação formal, nenhum de nós aprende a maneira como se relacionar e se comunicar no banco das escolas, mas é fato que precisamos de ferramentas para ajudar no diálogo com todos ao redor, principalmente em circunstâncias de temas mais desafiadores.
Não há receita pronta para conduzir diálogos equilibrados — nem mesmo seria produtivo seguir um script, já que aí não seria mais um diálogo — mas há meios de fortalecer a musculatura nas relações para lidar com temas desafiadores. Atenção ao contexto, a aspectos do universo pessoal do interlocutor e suas reações são alguns dos elementos que ajudam na hora de falar sobre assuntos sensíveis.
Exercícios, como empatia na busca de compreender as experiências do nosso interlocutor e a melhor maneira de abordá-lo ajuda bastante. Eliminar ou evitar ao máximo os julgamentos que nos levam aos rótulos e as críticas. Reconhecer as necessidades impostas na cena para avaliar a melhor hora de abordar o tema sem agir com impulso e nem retardar a abordagem.
Estar disposto a ouvir é um passo relevante para que o diálogo aconteça. Seja para romper parcerias de trabalho, comunicar notícias tristes e até mesmo, escutar sem se ofender, sempre será importante abrir-se para o ouvir genuinamente.
Algumas estratégias são importantes para fazer um bom caminho para tornar estas conversas difíceis em diálogos positivos e produtivos, como: estabelecer uma preparação, inclusive emocional para lidar com a situação; preparar o ambiente para a conversa; planejar sua fala para que tenha uma sequência lógica do que precisa ser conversado; entender o ponto de vista do seu interlocutor, escutando ativamente e não com desejo de responder; compreender e processar o impacto que a conversa causa para que mantenha o diálogo em fatos, mas sem perder a empatia; levantar alternativas possíveis para lidarem com a situação; fazer o acordo necessário para próximos passos; garantir que ambos ou todos entenderam a prática combinada e aprender a cada vez que se deparar com este tipo de diálogo.
É fundamental neste processo, a autorresponsabilidade para focar a solução e não o problema, o protagonismo para ser suficientemente ator do melhor desfecho para a situação, a confiança para falar o que precisa ser dito, sem se esquivar, e, a coragem de quem chama o outro para transformar uma conversa difícil em diálogo construtivo.
Sabemos, e aqui foi reforçado, que abordar um assunto delicado ou expor que discordamos de algo que foi dito, por exemplo, nem sempre ficamos confortáveis e encontramos a melhor forma para lidar com isso de maneira leve, mas podemos internalizar que será uma capacidade a ser desenvolvida, que podemos aprender e com ela, avançarmos nas boas relações em qualquer âmbito em nossa vida familiar, social ou profissional.
Se você não tiver todo o tempo para pensar, acalmar os ânimos ou planejar melhor o que e como falar, pode exercitar o distanciamento da situação. Procure num milésimo de segundo, desassociar-se da cena e se colocar no papel de observador para processar o ocorrido sem toda carga emocional.
Se você já tiver habilidades com os elementos da comunicação não violenta, ajudará sobremaneira no inesperado. Tenho artigos específicos sobre CNV, mas posso resumir aqui que como premissa básica é observar sem rotular, entender os sentimentos que vêm a partir da situação, o que você precisa, o que está por trás desses sentimentos e comunicar isso ao outro de forma clara, por meio de um pedido sincero.
No entanto, sempre que possível, se prepare para um diálogo difícil. Entenda com clareza o seu objetivo com a conversa para não ficar girando em círculos sem concluir o propósito, bem como se for necessário ensaie com uma lista dos pontos importantes a serem tratados para que se sinta mais seguro e confiante para conduzir o diálogo.
Fato é que a habilidade de comunicação é uma das principais soft skills e um dos pilares do sucesso de qualquer relação no mundo em que vivemos e também é fato que inevitavelmente no meio do caminho teremos algumas conversas mais espinhosas, por qualquer que seja o motivo.
Diante disto, tome nota das dicas e estratégias deste artigo. Exercite os passos, gerando adaptação às suas necessidades individuais e circunstâncias, aprimore-se na arte de lidar da melhor maneira possível com as mais variadas situações em que a vida irá lhe colocar. Não tem jeito certo de fazer as coisas erradas, então que aprendamos a fazer certo as falas difíceis.
Cintia Lima
Psicóloga, Mentora de Líderes e Master Coach
@psi.cintialima