Não é de hoje que se defende a necessidade de planejar atividades rurais incorporando variáveis ambientais, como um processo evolutivo e irreversível, de modo a identificar ameaças e oportunidades em prol de um crescimento com sustentabilidade. A partir disso devem surgir instrumentos de política e fortalecimento institucionais que deveriam ordenar essas práticas.
No entanto no mundo real o embate ainda persiste, como se um não complementasse o outro. Isso praticamente é desconsiderar um enorme acervo de trabalhos científicos, pronunciamentos políticos locais e sobretudo o agrupamento formal e informal de indivíduos que propõem soluções, como forma de corrigir essas falhas.
No entanto para isso é necessário um ambiente que propicie um conjunto de ações ordenadas e pacíficas de se relacionar com diferentes grupos de interesse, que poderiam ser agrupados em torno de correntes que defendem o crescimento de atividades produtivas com sustentabilidade seja por meio de soluções tecnológicas e/ou na vertente institucional por meio de protocolos e acordos.
Muitas vezes a convicção da necessidade de impor limites ao crescimento rural, e a necessidade de redirecionamento de um modelo de insucesso foi associada a ideia de travamento frente à área ambiental. Evidentemente que existem diversos exemplos científicos e práticos que mostram que isso não é verdadeiro e ao contrário, tende a ser um tema sempre a mesa, não de forma contraditória, mas de forma orgânica, eliminando o aumento de conflitos e disputas acirradas pelo acesso aos recursos naturais e a necessidade de melhor utilização nas áreas de uso de propriedades rurais legalizadas.
Em particular no Amazonas entendo que a vertente institucional é certamente o componente mais sensível para solução de impasses de pensamento, com medidas aplicáveis suficientes para minimizar ameaças de deterioração ambiental e o estabelecimento gradativo de uma governança em prol do crescimento econômico rural sustentável.
Estou convicto que os instrumentos de política hoje existentes não são a causa maior do travamento de atividades produtivas na área rural, e sim um claro desencadeamento de ações, sem espaço para inovações gradativas como base para mudanças em vícios institucionais e sociais.
De fato, apesar de críticas constantes, muitas medidas delineadas nas políticas públicas no passado recente, propiciaram modificações em processos produtivos rurais. Mas como, sutilmente apresentado, esses processos possuem caráter evolutivo e serve de sustentação para argumentos que buscam a eliminação de resistências em entender o caráter transversal dos temas aqui colocados e seu impacto na esfera econômica, produtiva e social para a população do interior do Estado do Amazonas.
Dito isso, esse desafio é recorrente em muitos Estados, cada qual buscando uma solução, no entanto, não existe antagonismo nem dúvidas quanto a necessidade de entendimento e compreensão à real demanda imediata a população, sendo essa hipótese respaldada em acertos e erros na construção de modelos de desenvolvimento no interior que não considerou aspectos evolutivos e lições aprendidas que demonstram a interdisciplinaridade e os vários significados da sustentabilidade.
*Sérgio Gonçalves é doutor em Ciências do Ambiente / Economia Ambiental – Universidade Federal do Amazonas