Segundo relatado no texto imediatamente anterior, são inúmeras as manias que acometem as pessoas que sofrem do transtorno acima. Num exemplo prático, é o caso da pessoa que checa muitas vezes as trancas de suas portas e janelas porque pensa sempre que alguém pode invadir sua casa em função de um mero “descuido”; ou, ainda, confere infinitas vezes determinados objetos, com medo de perde-los, mesmo sabendo que tudo está certo, mas o medo e a ansiedade são tão intensos que é quase impossível suspender a apuração.
A propósito, as compulsões também são conhecidas como rituais e podem ser expressas das mais variadas formas, na dependência de cada caso per si. Por vezes, não tem uma relação direta, ou pelo menos plausível com o pensamento básico.
Vejamos, um seguro passo de se entender as obsessões no TOC é fazer o seguinte teste: por segundos feche os olhos e não pense na cor azul. E aí, percebeu a dificuldade da impossibilidade de não pensar nessa cor? Assim, com certeza também acontece de que quando se deseja muito não pensar em alguma coisa, por paradoxo esse pensamento se fixa em sua mente de maneira incontrolável. Isso é sempre automático!
Pois bem, é exatamente esse descontrole no pensar que leva a praticar os rituais compulsivos, que são sempre de natureza negativa, catastróficos e persistentes. E além disso, quanto mais o portador de TOC tenta se livrar de tal pensamento nefasto, por meio das manias, na tentativa de exorcizar as obsessões causadoras de grande ansiedade e sofrimento, muito mais ele se torna presente e repetitivo, mesmo sabendo que não faz nenhum sentido. É fato!
Nesta altura da narrativa, convém colher do cotidiano passagens quitais que se mostrem consentâneas com o assunto, tal como o fez a autora Ana Beatriz já nomeada no artigo imediatamente anterior, partido desta mesma estação de abordagens semanais, ao relatar o acontecido com o personagem Henrique, alguém de 26 anos, que cita a forma como surgiram os primeiros sintomas e a proporção que o problema tomou com o passar dos anos, (Está na página 214 do livro Mentes Ansiosas, daquela médica e autora).
A seguir o relato que convém reproduzi-lo na íntegra, porque verídico: “Tudo começou aos 15 anos. Nessa época, eu me sentia responsável pela minha irmã mais nova e gostava de me impor. Mas Cristina adoeceu e faleceu antes que eu completasse 16 anos. A partir daí, passei a pensar que ela morreu por minha culpa, pela forma como eu a tratava. Jamais me perdoei por isso Comecei a ter pensamentos estranhos que me perturbavam tanto que eu me obrigava a fazer certas tarefas, caso contrário, mais alguém da minha família iria morrer. Assim, passei a organizar simetricamente todos os tipos de estante, os CDs e tudo que encontrava pela frente, sem nenhum controle. Tinha total consciência de que isso era absurdo, mas também a nítida impressão de que, se eu não o fizesse, poderia prejudicar outas pessoas. Depois, impus-me a andar sempre com alguma roupa branca, principalmente a camisa. Acreditava que qualquer outra cor pudesse atrair coisas ruins … Com o tempo, os pensamentos ruins e manias foram aumentando e hoje estão num nível insustentável. Todos dizem que sou esquisito, sistemático, metódico. Mas pra sincero acho que estou enlouquecendo. Pedi férias no trabalho, pois não consigo mais raciocinar direito.”
No momento o personagem encontra-se em tratamento com a médica aludida. O medo e a ansiedade traduzem-se no amparo que sustentam o pensamento obsessivo e, assim sendo, a compulsão, ou manias. Sucede, seu portador vive em uma prisão emocional e mental de que somente ele tem a chave, mas, por medo ou falta de entendimento ou orientação, não consegue fazer uso dela. Assim, o medo e a ansiedade podem se tornar insuportáveis se o indivíduo não der vasão à compulsão, que é o caminho mais curto para se livrar do pensamento desagradável. Infelizmente, esse caminho que parece mais fácil, na realidade, é uma grande emboscada!
Sabe-se, por conta de algumas pesquisas, as pessoas com TOC levam cerca de dez anos, após o surgimento dos primeiros sintomas, para procurar ajuda profissional. Isso se deve aos seguintes fatores: o portador sabe que tais pensamentos são absurdos; acredita que, por si próprio, conseguirá controlá-los, nem que seja dando força aos seus atos compulsivos; acredita que essas compulsões não afetarão drasticamente sua vida; e tem vergonha de expor os seus problemas aos outros.
Alterações no comportamento do portador do TOC, por vezes os familiares as percebem, todavia consideram esses hábitos repetitivos como “esquisitices” e, carentes de informação, não acreditam tratar-se de uma doença. É assim, então a atitude da família só começa a mudar à medida que o caso progride e piora de tal forma que compromete a rotina diária desse indivíduo, assim como a de todos os envolvidos.
Não é incomum que uma pessoa com TOC, que, habitualmente, é muito pontual e irrepreensível no cumprimento de seus deveres, acabe mudando esse comportamento, uma vez que a realização dos rituais (manias) impostos por ela mesmo demanda um tempo considerável. Banhos demorados, arrumação impecável antes de sair de casa ou verificar todos os detalhes às vezes consume horas e interfere nos compromissos sociais, profissionais e acadêmicos do indivíduo.
(Continua)
É advogado (OAB/AM 436).Ex.func.Bco.Brasil Manaus e Rio, comis. p/BC.como Fiscal de Bancos p/atuar junto as ags.locais voltadas p/operações Zona Franca. Cursou Direito, Contabilidade, Comunicação Social, Corretagem de Imóveis, Oratória, Taquigrafia, Inglês, Lecionou História Geral.[email protected].