22 de novembro de 2024

Earthshot Prize, o Oscar Ambiental (parte 3)

O Amazonas é uma região rica, mas tem alto nível de desperdício de recursos, algo impensável em regiões onde cada M3, Km2, Kg de material é usado com mais sabedoria. Então como reverter isso? este artigo apresenta os países modelos em reduzir desperdícios/resíduos, bem como organizações inovadoras apoiadas pelo Earthshot prize que estão construindo um mundo livre destes problemas.

Para o Instituto Trata Brasil <https://tinyurl.com/2jvxewmk>, o Brasil é o 15º maior desperdiçador de água (40,9%), com o Norte (57% a 60%) e o Amazonas liderando entre os piores casos. Embora Manaus tenha reduzido as perdas de água de 74,6% em 2017 para 59,8% em 2021, esses índices são alarmantes quando comparados a cidades modelos em gestão hídrica.

Em termos de políticas públicas e práticas empresariais a gestão da eficiência energética, em 2018, o Brasil ficou entre os 5 piores quando comparado com 25 países analisados pelo American Council for a Energy-Efficient Economy<https://tinyurl.com/4rmetrtz>. E em 2022, o gerente de P&D da Celesc (Centrais Elétricas de Santa Catarina S.A.), durante reunião da Câmara de Energia da FIESP, revelou que o desperdício de energia elétrica no Brasil é estimado em 43 TWh/ano, o que daria para abastecer 20 milhões de residências < https://tinyurl.com/yp92arte>. Já um relatório da ANATEL revelou em 2020 que enquanto a média mundial de perdas de distribuição de energia elétrica está entre 8% e 15%, o Brasil está no limite (14,8%) com custos repassados ao consumidor <https://tinyurl.com/zz2zh7wc>.

Este ano o relatório Food Waste Index 2024 da ONU <https://tinyurl.com/4ej99fnh>, apontou que a estimativa de desperdício com alimentos no Brasil é em torno de 94Kg/capita/ano com cerca de 20,3 milhões de toneladas de alimentos jogados fora. Já na Mongólia este desperdício é estimado em 18Kg/capita/ano, no Butão é 19Kg/capita/ano, na Bulgária é 26Kg/capita/ano, na Rússia é 33Kg/capita/ano.

Há séculos não temos feito bom uso de nossas terras, rios, florestas e outros recursos. Todos os igarapés de Manaus, outrora cheios de vida, hoje estão mortos e esse assunto não é tratado com seriedade durante e após as eleições. Entra e sai governante e não vemos iniciativas construídas com a população para aumentar a taxa de reciclagem, reduzir os plásticos e lixos que continuam se acumulando nas ruas, igarapés e rios de nossas cidades.

Precisamos minimizar estes problemas! Neste sentido, recomenda-se o estudo realizado pela empresa francesa de embalagem RAJA sobre formas pelas quais cidades de 20 países estão gerenciando o desperdício/resíduo. Segundo eles,  a Suíça é líder, recuperando 100% de seus resíduos municipais, maioria das vezes via incineração. Para a recuperação de materiais via reciclagem e compostagem, a Alemanha, Eslovênia e Austrália são referência, recuperando em média 67%, 62% e 58% dos resíduos. Em minimizar os resíduos, o Japão é campeão, ostentando uma taxa de recuperação de resíduos de 93%.

Já o relatório Enviromental Performance Index, na categoria Waste Management, classificou 180 países com base em geração de resíduos sólidos urbanos/capita, controle de resíduos sólidos e recuperação de energia e materiais a partir de resíduos. Em 2024, os cinco campeões foram 1º) Cingapura; 2º) Japão; 3º) Suécia; 4º) Taiwan e 5º) Holanda, enquanto o Brasil ficou vergonhosamente na 128ª posição, caindo 53 posições em relação a 2022 <https://tinyurl.com/2mwdnzvw>.

Soluções existem e estas são as melhores reconhecidas e apoiadas pelo Earthshot Prize, o Oscar ambiental:

S1) A NOTPLA <https://www.notpla.com/> e suas embalagens com algas marinhas e plantas. Seu produto mais famoso é o “Ooho”, uma embalagem comestível e biodegradável. Em 2023, os 4 milhões de embalagens da Notpla evitaram a emissão de 250 toneladas de CO2 e substituíram quase 8 toneladas de plástico.

S2) A S4S <https://s4stechnologies.com/> fornece secadores solares e equipamentos de processamento de alimentos para comunidades rurais, substituindo métodos caros de preservação. Cerca de 300 mil agricultoras da Índia tiveram um aumento de 10-15% em seus lucros, enquanto 2.000 empreendedoras parceiras dobraram ou triplicaram suas rendas.

S3) Os centros de desperdício de alimentos de Milão, criados em 2019 pela prefeitura da cidade < https://tinyurl.com/2kcs8uzj>, recuperam alimentos de supermercados e refeitórios de empresas e distribuem para ONGs, que os repassam aos cidadãos carentes. Em 3 anos, foram recuperadas 1.386 toneladas de alimentos nestes centros, evitando 3188 toneladas de CO2,  somando 1,23 milhão de refeições.

S4) Cidade de Amsterdã e sua economia circular, estratégia criada em 2020 pela prefeitura da cidade para reduzir até 2030 pela metade o uso de novas matérias-primas e alcançar uma cidade totalmente circular até 2050. E aqui <https://tinyurl.com/nhcas97n> há os documentos e 70 ações voltadas reduzir desperdícios orgânicos, de alimento, de produtos de consumo, bem como ações para criar um ambiente favorável à economia circular. Além disso, pesquisa feita pelo autor e publicada em 2023 <https://doi.org/10.7717/peerj-cs.1694> aponta esta cidade com uma das mais inteligentes e sustentáveis do planeta, com experiência de engajar a população neste processo.

Finalmente, é hora de agir contra o alto desperdício em nossa região, inspirados pelas boas referências, para criar uma cidade circular onde cada família, residência, escola, prefeitura e outras organizações cuidem melhor das pessoas, dos recursos e da cidade. Então que você está esperando?

Jonas Gomes

Prof. Dr. Jonas Gomes da Silva - Professor Associado do Dep. de Engenharia de Produção com Pós Doutorado iniciado no ano de 2020 em Inovação pela Escola de Negócios da Universidade de Manchester. E-mail: [email protected].

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