Carlos Silva
Vou abordar um tema extremante delicado e sensível. Na verdade é um tabu na sociedade, desde sempre: hemorroidas! Mas, vou falar das minhas “amigas”, que me acompanham por muitas décadas, e me fizeram “pagar micos” inúmeras vezes. Bem, tudo começou ainda na minha fase adulta inicial, por volta dos 19 anos. Um belo dia, após a cervejada com os amigos, chego em casa e após o banho sinto “algo” na região de “fique longe”, ou a parte mais fraca de corpo do homem, depois do bolso, é claro. Não era nada de mais, apenas uma coceirinha, que se agravou para uma verdadeira festa de comichões. Com a maior carga de vergonha do planeta, não falei absolutamente nada com ninguém a respeito. Corri a uma biblioteca e pesquisei vários livros para tentar entender o que estava acontecendo. Claro que pesquisei os efeitos da cerveja com carne de porco em excesso e consequente alergia ou algo semelhante. Descobri que se vendia nas farmácias umas pomadinhas que iriam aliviar as tais coceiras. Fui lá e comprei. Mas, como sempre, “nada é tão ruim que não possa piorar”, a tal pomada tinha um objeto pontiagudo, chamado de “bico aplicador”, que, para mim, parecia uma ogiva nuclear. Voltei para casa e esperei até as corujas e o Saci Pererê dormirem e me escondi no banheiro, trancando a porta com 23 voltas na chave. Então, ali, no silêncio do banheiro, eu li a bula da pomada, e, claro, a minha coragem me afastou de ao menos pensar na possibilidade de me enfiar aquilo tudo. Bem, de repente tive uma ideia de jerico: conhecer a “situação”. Você já viu tuas “partes íntimas do número 2” ou seja lá o nome que se dê? Bem, depois de séculos de raciocínio, tive outra asinina ideia e fiquei de cócoras e pus um espelho sob o “alvo”. Foi a única vez na vida que olhei, de frente, para “ele”. Aí, eu fiquei sabendo o que eu tinha: 2 hemorroidas, enormes e doloridas. Me apavorei e não disse nada a ninguém mesmo, pois, pensei, a quem vou confidenciar isso? Enfim, os anos se passaram e de vez em quando eu tinha crises e passava pomadinha, por fora, pois nunca tive coragem de introduzir nada ali. Mas, um dia a crise foi violenta e fui parar no hospital. Enfim, depois da cirurgia, eu já no apartamento, acordando da anestesia geral, sozinho e pensando que tinha me livrado das “meninas”, a enfermeira entrou, fez as verificações de rotina e me trouxe uma sopinha, chamada de dieta líquida, o que foi a minha única alimentação por 3 dias. Ocorre, que a jovem enfermeira, querendo me proporcionar um pouco mais de conforto, abriu a janela e foi embora. Como eu estava, ainda, no ar condicionando, o calor externo me fez fazer algo simples, mas, que, naquele momento, foi como se eu tivesse tomado um tiro: espirrei! Os impropérios que eu gritei não existem no nosso idioma. Você talvez não saiba, mas qualquer movimento do nosso corpo, reflete “nele”. Foi A Dor! Toda a equipe médica disponível correu para me acudir. Me deram um sossega-leão e dormi como um recém-vivo. No dia seguinte, senti, após mais de 4 horas, a vontade de fazer o “número 2”. Claro que me apavorei só de imaginar o que iria ocorrer. E ocorreu o pior das piores hipóteses! De novo, meus berros acionaram até o pessoal da limpeza, e mais um sossega-leão e apaguei. Mas, apesar de tudo, tive alta no sexto dia. Mas, no dia da alta, me entra o médico no apartamento e diz, com toda educação: vamos fazer o toque! Você, leitor, deve imaginar o que aconteceu. Ele fez o tal do toque, que me pareceu algo pior que um empalamento. Berrei feito um cara sendo realmente empalado. Mas, sobrevivi. E hoje, aos 64 anos, quando vou ao urologista, até que é light perto do que já senti, mesmo sendo muito desagradável. E você? Se tem hemorroidas, se cuide. Não é a melhor das sensações e cuidado com o pós-cirúrgico. Mas, sobrevive-se. E se tiver que operar, opere sim.