A importância do trabalho dos catadores de materiais recicláveis para o meio ambiente urbano é desconhecida da maioria da população, as vezes das próprias autoridades. Eles são verdadeiros agentes socioambientais do manejo e reaproveitamento de resíduos que – sem sua atividade – sobrecarregariam ainda mais os aterros e lixões ou, ainda pior, ampliariam a poluição e a contaminação dos rios e igarapés de nossas cidades. Lembremos que a legislação nacional de resíduos sólidos define uma responsabilidade clara do poder público quanto ao apoio às associações e cooperativas de catadores. Mesmo assim, diversas vezes isso tem sido negligenciado no nosso país e no nosso estado. É necessário alçar os catadores de materiais recicláveis ao patamar de sua importância para a saúde do meio ambiente urbano e com o enfoque de inclusão social que merecem, por se tratar de pessoas em estado de vulnerabilidade.
Pode-se afirmar que a coleta seletiva avançou gradualmente em Manaus e em alguns municípios do interior do estado, mas ainda muito aquém do recomendável e do necessário. A logística reversa do alumínio é uma exceção, em nível nacional e local, pois o Brasil é o país do mundo com maior índice de reciclagem deste material, com aproximadamente 98% de reaproveitamento! Mas a absoluta maioria das outras cadeias de valor da reciclagem ainda estão deficitárias no nosso estado e em grande parte do país. Defendemos que haja uma verdadeira política pública específica de fomento da reciclagem, envolvendo os três níveis de governo, associações e cooperativas de catadores e a iniciativa privada. O fato é que muitas empresas fazem pouco para evitar o descarte de produtos reaproveitáveis. E que os catadores de materiais recicláveis ainda são subvalorizados tanto pela sociedade quanto pelo Poder Público.
Cabe às prefeituras municipais implementar esta política de apoio à reciclagem, envolvendo e apoiando os catadores e facilitando – no que couber – elos primordiais da logística reversa que viabilizem a chegada e recepção dos materiais recicláveis às empresas recicladoras. E cabe à iniciativa privada concluir e cumprir corretamente os acordos setoriais de logística reversa de produtos industriais. Os igarapés de Manaus são um triste exemplo do descaso de grandes empresas em relação ao descarte incorreto de seus produtos. E da deficiência de educação ambiental de parte significativa da população, bem como da carência do devido suporte público e privado para as associações e cooperativas de catadores. Esta situação evidencia a falta de prioridade para a promoção de um sistema abrangente e integrado de reciclagem. Destaque-se que o reaproveitamento do que for reutilizável ou reciclável é um componente fundamental de uma verdadeira política pública que promova a conservação do meio ambiente e a inclusão social.
Aqui registramos nosso apelo às autoridades municipais e estaduais do nosso grande estado, para que dialoguem com as associações e cooperativas de catadores, assim como as empresas privadas, promovendo em conjunto com elas, um processo sistêmico de reciclagem no Amazonas. Gestores com a percepção da importância estratégica de nossa região para o Brasil e para o mundo, certamente compreenderão que o descarte correto, a reciclagem e o reaproveitamento de resíduos, com a inclusão dos catadores de materiais recicláveis, representam elos essenciais de uma efetiva política socioambiental de âmbito municipal e estadual. Nesse sentido, é preciso corrigir e evitar erros e promover ações concretas e sustentáveis.