No último sábado, bem cedo, recebi uma captura de tela do Instagram em que o secretário do Meio Ambiente do Amazonas exibe sua passagem e passaporte para a COP 29, que será realizada em Baku, no Azerbaijão. Enquanto isso, a população amazonense enfrenta uma dura realidade, isolada e sofrendo com a falta de água potável, alimentos e acesso a cuidados de saúde. O secretário, que veio da milionária ONG Fundação Amazônia Sustentável (FAS), uma parceira do IDESAM/SUFRAMA, compartilhou nas redes sociais que está a caminho de “mais uma COP”, referindo-se à COP 29. Em sua postagem, ele menciona que está indo “para mais uma” conferência, o que nos leva a questionar a real eficácia dessas participações passadas, considerando que a situação crítica persiste no Amazonas, onde 65,6% da população enfrenta insegurança alimentar, a miséria. Parece que pouca ou nenhuma melhoria foi revertida em benefício da população local. É preocupante ver que, mais uma vez, um representante de uma ONG é porta-voz do Amazonas em uma cúpula internacional, enquanto os desafios locais continuam a aumentar. Triste também é ver alguns poucos doutores da UFAM, que conhecem a dura realidade enfrentada pelo povo do interior, aplaudindo essa atitude. Essas ações estão desconectadas da realidade vivida diariamente pelo povo amazonense e podem desgastar ainda mais a imagem do governador Wilson Lima. Para muitos, esse tipo de atitude soa como desrespeito ao povo do Amazonas, que convive com a miséria, a fome e as políticas ambientais que não geram benefícios financeiros para os “guardiões da floresta”. A publicação do secretário foi vista como insensível, reforçando a ideia de que as COPs são compromissos vazios, distantes das necessidades das comunidades que mais precisam de apoio. Mais um passeio turístico. Já publiquei os comentários que acompanharam o print em meu blog, Thomaz Rural. Além disso, no último sábado, a BBC News e a Exame publicaram matérias que também questionam a eficácia e credibilidade das Conferências das Partes (COP), mencionando inclusive que o chefe da COP 29 foi flagrado negociando investimentos em petróleo e gás, o que gera uma percepção de incoerência com os objetivos climáticos. Em vez de promover ações contra a crise climática, esses encontros parecem se transformar em “eventos turísticos” para ambientalistas e especialistas, onde discursos raramente resultam em impactos concretos. Em 2025, a COP 30 será sediada em Belém do Pará, e a cidade já está recebendo investimentos bilionários em infraestrutura para acolher o evento. No entanto, cabe perguntar: em que esses recursos realmente beneficiarão o guardião da floresta? Enquanto milhões são aplicados em estruturas temporárias, a realidade dos que vivem na Amazônia e enfrentam os efeitos diretos do aquecimento global de responsabilidade da Europa, Estados Unidos, China e Índia continua praticamente a mesma. Um exemplo do distanciamento entre os representantes e a população foi a postagem do secretário estadual do Meio Ambiente do Amazonas, mencionada anteriormente, em que ele exibe sua passagem e passaporte com a legenda “mais uma COP”. Quando a área ambiental do Amazonas será liderada por um especialista local, livre da influência de ONGs? Nas últimas duas décadas, não realizaram o Zoneamento Econômico Ecológico (ZEE), não recebemos nada pelos serviços ambientais de preservação da floresta, não obtivemos créditos de carbono nem recursos do REDD+, e presenciamos o aumento do desmatamento e das queimadas. As travas para pavimentar a BR-319 persistem, e a miséria já afeta cerca de 70% da população. Esses fatos deixam a impressão de que, para nossas autoridades, o foco está em captar recursos internacionais, e não em melhorar a vida de quem mais precisa.
12.11.2024
Thomaz Meirelles, administrador, servidor público federal, especialista na gestão da informação ao agronegócio. E-mail: [email protected] ou [email protected]