Depois que a professora Carmem leu todas as redações de seus alunos sobre o Natal, ela discursou: — Prezadas alunas, prezados alunos, vocês foram formidáveis em seus trabalhos. Gostei muito das redações de todos vocês. No entanto, gostaria de destacar aqui alguns trabalhos que, para mim, foram originários, fora da curva, geniais. Em primeiro lugar, eu escolhi a redação do Alexandre. Ouçam o que ele escreveu: “O Natal é respeito. Respeito às diferenças. Respeito às minorias. Respeito às crianças. Respeito aos idosos. Respeito à natureza. Respeito às leis. Respeito aos pais. Respeito aos professores. Respeito aos costumes e tradições dos povos. Respeito a religião do outro. Respeito. Respeito. Respeito.” Em segundo lugar, ficou o trabalho do Diego. Ele começou assim a sua redação: “Natal é a data mais bela e importante do ano. O nascimento do Filho de Deus: Nosso Senhor Jesus Cristo. Tempo de festa, de alegria, de amor, de paz. A época do ano que brotam os melhores sentimentos em nossos corações e, ao mesmo tempo, nos desafia a sermos solidários com os mais pobres, os humildes”. E em terceiro lugar, a redação da Juliete. “O Natal é uma oportunidade que Deus nos dá para nos conectarmos com o Seu Filho e assim recarregarmos as energias para superamos os obstáculos da vida. Nosso Senhor Jesus Cristo está sempre disposto a ajudar quem Nele busca socorro. O que Jesus quer de cada um de nós é que nos amemos e nos respeitemos”. — Estimadas alunas, estimados alunos – continuou a professora Carmem visivelmente emotiva. — Talvez vocês estejam aí pensando com os seus botões assim: “A professora Carmem só está lendo o que os alunos escreveram sobre o Natal, mas o que ela pensa sobre o Natal? O que é o Natal para ela?” Pois bem minhas prezadas alunas e meus prezados alunos, eu vou dizer para vocês o que eu penso sobre o Natal. Depois de fazer uma pausa, respirar fundo, tomar um gole de água, a professora Carmem continuou: — Para mim, o Natal traz em si uma mensagem de alegria e de paz. Ou seja, o Natal é um grito de paz para o mundo. Afinal, não foi o próprio Jesus Cristo que disse: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (João 14:21). Este é para mim o verdadeiro sentimento do Natal: que todos tenham paz e que vivam em paz. Depois desse discurso, a professora Carmem passou a andar pela sala de aula olhando para os rostos de seus alunos; num gesto brusco, virou-se noventa graus, parou diante do Alexandre e olhando-o no fundo dos olhos lhe indagou: — Você tem medo de quê? E antes que o Alexandre respondesse, ela indagou a Juliete: — Quais são seus sonhos? E antes que a Juliete respondesse, ela indagou o Diego: — O que você deseja do novo governo? E antes que o Diego respondesse, ela indagou o Josué: — O que lhe tira o sono? E antes que o Josué respondesse, ela indagou a Raimunda: — O que você quer ser quando crescer? E antes que a Raimunda respondesse, ela indagou a Fátima: — O que você espera do novo ano? — Eu espero um mundo melhor, professora! – respondeu com veemência e sem titubear a estudante Fátima. Foi aplaudida de pé e por uma interminável salva de palmas. Aparentemente todo aquele entusiasmo não foi pela resposta da aluna e sim por ela ter colocado um ponto final naquele interminável interrogatório da professora Carmem. — “Quanto a mim, eu sou uma professora com mais de cinquenta anos de idade e trinta de sala de aula. Eu já participei de muitas formaturas. Eu sei que a fala é uma característica da minha profissão. Não existe professora ou professor que não goste de falar. Toda professora, todo professor fala muito. Mas eu preciso diminuir o meu discurso, as minhas falas, as minhas palestras. Tome atento professora Carmem, a senhor fala demais” – pensava a professora Carmem enquanto entregava os certificados para os autores das três melhores redações sobre o Natal. A professora Carmem só despertou daquele mundo nostálgico quando os alunos começaram a gritar em voz alta: “Esperança de dias melhores. Esperança de um país melhor. Esperança. Esperança. Esperança”. A professora Carmem retomou o controle, a liderança daquela cerimônia. — É o que todos nós desejamos. Esperança de um mundo melhor. E é o que eu desejo para todos vocês. Que vocês sejam felizes. Mas lembrem-se de uma coisa. Não se conquista nada nessa vida no grito, na balbúrdia e sim no diálogo. Aprendam a dialogar. O diálogo é a ponte certa para muitas conquistas – disse a professora Carmem colocando um ponto final no seu discurso e sendo aplaudida de pé por seus alunos.
Esperança de dias melhores
Luís Lemos
É filósofo, professor universitário e escritor, autor, entre outras obras, de "Filhos da Quarentena: A esperança de viver novamente", Editora Viseu, 2021.
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