Eu, alienado, isentão, indiferente, feliz

Em: 23 de janeiro de 2025

O mundo mudou? Não. Continua arredondado e girando. O Brasil mudou? Não. Não engordou e nem emagreceu. Caros leitores, eis algumas repostas que lanço, socialmente, quando me interpelam com perguntas, na minha visão, proferidas por pessoas que precisam de “votos” para sua próprias ideias. Parece que muitos humanos, fundamentalmente aqui no solo pátrio, precisam desesperadamente de arrebanhar seguidores às suas ideias, sejam em conversa de bar ou nas redes sociais. Tanto faz. Tenho a impressão de que tais pessoas vivem em função de mostrar o que fazem e ter muitos humanos seguindo. Não me importo. Aqui onde moro, alguns vizinhos me chamam de alienado, indiferente ou isentão. E considero um elogio. Dia desses, um vizinho me convidou para assistir ao jogo de uma final de futebol, entre o time dele e outro time. Agradeci, dizendo que iria para colaborar com o churrasco e a cerveja, mas, não conhecia nada do esporte em questão e não tinha time de preferência. Coloquei uma camisa, branca, neutra, e participei do churrasco. Ainda disse a eles que o último jogo de futebol que assisti foi na final da Copa de 70. Daí para a frente, nada melhor poderia assistir naquele esporte. E tem sido assim há muitos lustros. Outro dia, me convidaram para um evento com a presença de elevadíssimas autoridades no local X. Mas, naquele momento, eu tinha que atender à minha neta, de 5 anos, para consertar um brinquedo dela. Usei este argumento e declinei do convite. Não me importo se gostaram ou não da minha justificativa. Mas, a neta adorou e é isso que conta. Por curiosidade, quando viajo, entrego, nas recepções dos hotéis, os controles remotos das TV. Não ligo e não me faz a menor falta. Em outra ocasião, transformaram um seminário onde participei, como um dos palestrantes, em discussão sobre o cidadão A, de uma ideologia política e o cidadão B, de ideologia contrária. Me levantei da cadeira alegando um compromisso inadiável e saí do evento. Durante o percurso para o estacionamento, um amigo me perguntou por que eu não fiquei para o colóquio. Eu disse: nenhum dos dois paga os meu boletos e ambos me desinteressam muito. Em uma entrevista, há muito tempo, a menina me perguntou qual a minha religião. Respondi: questão de foro íntimo! E segui meu caminho. Em outra oportunidade, meus alunos perguntaram a minha orientação sexual. Ensinei a eles que religião, orientação sexual e preferência político partidária são temas muito pessoais e eu não respondo tais indagações, as quais, por fineza, evitem fazer. Fui aplaudido. E a vida seguiu. Um dia, amigos me disseram que nas redes sociais me usaram como exemplo de alienação, isenção e indiferença em relação ao que ocorre aqui e ali no nosso amado Brasil. De fato, me senti orgulhoso por isso. Sabe por quê? Porque todas as pessoas das minhas rodas sociais, me tratam com carinho e educação pois sabem que jamais vou discordar delas. E nem concordar. E assim, já se passaram quase sete décadas de uma vida feliz, muito feliz mesmo. E a vida segue! Com cervejas ! Geladas !

Carlos Alberto da Silva

Coronel do Exército, na Reserva, professor universitário, graduado em Administração e mestre em Ciências Militares
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