Não poderíamos chegar ao final de nossa série falando sobre o amor sem citar Vinicius de Moraes. No seu conhecidíssimo “Soneto de Fidelidade”, o “Poetinha do Amor” declara: “De tudo, ao meu amor serei atento. Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto. Que mesmo em face do maior encanto. Dele se encante mais meu pensamento”.
Em sala de aula, quando trato do conhecimento para os filósofos, gosto de recitar para os meus alunos este poema e costumo indagá-los: “Você tem um amor?”, “Qual é o amor da sua vida?”, “Como você está cuidando desse amor?”, “Se você não tem um amor, eu vos apresento um: o conhecimento”.
Depois de fazê-los pensar sobre o que eles querem ser, sobre os vossos propósitos, os vossos sonhos, os vossos desejos, sobre o que é importante em vossas vidas, geralmente alguns deles me respondem assim: “Professor, eu não tenho um amor, eu tenho vários amores”.
Oh céus! Como os jovens de hoje são diferentes da minha geração. São capazes de fazer múltiplas tarefas ao mesmo tempo. São capazes de amar e odiar com a mesma intensidade. Possuem milhões de amigos nas redes sociais e são tão sozinhos, solitários. Oh Deus, meu! Ajude-me a compreender esses jovens!
Diferentemente de muitos dos meus alunos, eu só tenho um amor e sou monotemático. Não costumo fazer duas coisas ao mesmo tempo. O meu foco é a Filosofia. O amor da minha vida é a Filosofia. Costumo dizer que sou casado, mas cometo adultério todos os dias com a Filosofia. Amo filosofar. A filosofia me deu a capacidade crítica, o gosto pela leitura e a vontade de escrever.
Não sei escrever, mas gosto de escrever. Escrevo todos os dias. Meu lema é: nenhum dia sem escrever uma página. Escrever tem sido o meu passa tempo favorito. Escrevo não por obrigação. Escrevo porque gosto de escrever.
Assim como tem gente que gosta de beber, eu gosto de escrever. Assim como tem gente que gosta de jogar, eu gosto de escrever. Assim como tem gente que gosta de armas, eu gosto de livros. Assim como tem gente que gosta de dançar, eu gosto de ler. Eu vivo lendo. Vivo escrevendo. Vivo filosofando…
Embora eu tenha compromisso de escrever semanalmente um artigo para este jornal, para mim a escrita não é um sacrifício. Naturalmente tem dias que as palavras não querem sair, mas tem outros, como hoje, na hora em que escrevo este texto, as palavras brotam como água da fonte e aí o cuidado é para que o texto não saia grande demais, pois eu sei que ninguém gosta de texto muito esticado.
Como já escrevi aqui nessa série, quando se tem um amor nessa vida tudo se torna mais fácil, alegre e colorido. Entretanto, a angústia de não vislumbrar no horizonte um amor verdadeiro vem contaminando com a desesperança um número crescente de pessoas. Com isso “emerge a sociedade do cansaço e da perda da alegria de viver”, como diz o teólogo brasileiro Leonardo Boff.
Contra toda essa desesperança, nós dizemos: ame e deixe-se amar. O amor é um brinde à vida. “E assim, quando mais tarde me procure. Quem sabe a morte, angústia de quem vive. Quem sabe a solidão, fim de quem ama. Eu possa me dizer do amor (que tive). Que não seja imortal, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure”.
Em suma, o alerta do poeta é oportuno e necessário. Se as coisas não são fáceis, se a vida anda turva, quando não se tem amor tudo se torna ainda mais difícil. Por fim e ao cabo dessa série faço uso das palavras do profeta Jó (19:23-24): “Oxalá que as minhas palavras fossem escritas! Oxalá que fossem gravadas num livro! Que, com pena de ferro, e com chumbo, fossem para sempre esculpidas na rocha!.”