Impossível não perceber o que acontece nos arredores do espaço físico de nossos corpos e da capacidade perceptiva de nossos olhos. Não há como fazer vagar o pensamento nas águas indolentes do mar ameno quando a tempestade incontrolável dos conflitos internos nos açoita segundo a segundo nos costados expostos de nossas passadas.
Abruptamente a mentira tomou posse das vestimentas da verdade e caminha livre e solenemente nas águas turbulentas do escárnio, da insensatez, das vaidades, da maledicência, das coerções e das opressões. O descalabro tomou conta do lugar, diria o mais crente dos otimistas. Os nomes são meros indicadores personalíssimos de momento.
O que realmente se impõe é detectar o germe do mal, afogando a coerência e o escrúpulo em mar de lama que, desesperadamente, partiram em fuga, sem destino, sem seresta, sem luar e sem violão. Assustam ao mais indiferente dos inocentes os conflitos entre seres que deveriam amar-se e proteger-se, mas que, espada na mão, vociferam agressões gratuitas e indesejadas, a troco de um nada sem sentido e injustificado.
É NATAL.
Roupa límpida como a pureza, Papai Noel se apronta na Terra dos Sonhos. As renas são instruídas e preparadas para navegar o céu de estrelas. Sapatos e cartas descansam sobre o beiral das janelas em ritual incomparável. As crianças, brilho indescritível no olhar, emoção visível nos gestos e na fala, aguardam o grande momento. Sem o saber ou até mesmo sem de fato acontecer, todas as crianças serão visitadas. O sono, premeditadamente, chega mais cedo.
A manjedoura está pronta para receber o Santo Nome, simbolizado por emoção e fé. Não há ouro, incenso e mirra. A Árvore de Natal brilha e cintila como as estrelas. O chão da sala, repleto de caixas vazias revestidas de papel colorido, embelezam o ambiente festivo. Com as meias, camisas, sapatos e perfumes, vem o presente maior: o abraço, a ternura, o aperto de mão e o desejar de Feliz Natal; estes os mais caros de todos, onde a matéria prima é o amor.
Paralelamente e a um só tempo, o esgar dolorido dos choros e absurdos povoam a mesa dos sonhos e da realidade crua. Costuma-se dizer que o ser humano perdeu as rédeas de si e enveredou pelas trilhas tenebrosos da luxúria, do poder, da devassa, da traição, da corrupção e do desamor. A história da humanidade desmente categoricamente essa teoria simplória por natureza.
Pelo que se tem conhecimento, desde Adão, assim foi. Caim e Abel; Noé; Moisés; os Impérios Grego e Romano. Em todos casos, sem exceção, o ser humano apequenou-se em suas maldades e incoerências no Império do mal. Cristo sucumbiu humanamente ao peso da cruz. Por pouco cientistas brilhantes não foram mortos por religiosos, quando a estes confrontou e afrontu, ao afirmar que a Terra era arredondada e não quadrada.
Lá vem Papai Noel, trenó reluzente, Renas elegantes e pomposas, fazendo reluzir as estrelas no contraste das cores e do seu cintilar. Quem será o primogênito do próximo NATAL? Virá nu ou em vestes luxuosas? As duas faces do Pierrô. O semblante liso da maquiagem. A máscara viva do palco das verdades e das ilusões. O troglodita e o “homo sapiens”.
A essência única e indissolúvel das contradições humanas vagando por milênios afora, impondo, a ferro e fogo, marcas inapagáveis no dorso do gado humano. Desnecessário será desfiar cada uma das contas desse rosário de rara beleza, loucuras e atrocidades cometidas pelo ser que se proclama “inteligente”. São partes íntimas e integrantes do cotidiano do Planeta Terra, o que nos deixa temerosos e angustiados.
Crusoé de minhas escolhas, prefiro olhar para o céu à procura das luzes do trenó, o cintilar das estrelas, o vigoroso voo das renas e a imagem benfazeja do mais belo de todos os velhinhos. Hô. Hô. Hô.
FELIZ NATAL.