Dando continuidade a nossa proposta de “identificar os filósofos e as filósofas do Amazonas para conhecimento e divulgação de suas biografias”, hoje apresentamos a Filósofa Víllian da Costa Herculano, “dos cactos do nordeste árido para as águas dos rios da Amazônia”, como ela mesma costuma dizer. Aproveite! Inspire-se com a sua história de vida, uma vida exemplar, digna e modelo para muitos jovens, especialmente para as mulheres que desejam adentrar na área da Filosofia.
“Como filósofa, tenho como lema as perguntas. Desejo que as perguntas continuem sem respostas, assim, o exercício do filosofar permanece em vigor. Se há respostas para nossas perguntas ou questionamentos, que sejam provisórias assim como enxergou Raul Seixas, na metamorfose ambulante que somos.
Que nossa existência permaneça enraizada nos questionamentos, como se fosse a raiz profunda de uma árvore milenar, somente assim nosso Ser continuará na busca de si mesmo, embora o Devir nos alerta sobre os riscos desse encontro.
Nada está pronto e acabado. Quem somos nós para dar respostas definitivas, se estamos numa travessia arriscada? A filósofa e o filósofo autênticos já compreenderam sua condição humana de incerteza e seu inacabamento. A partir dessa surpresa filosófica, qual é o papel da Filosofia e daqueles que se consideram filósofos e filósofas no mundo da Revolução tecnológica?
Qual o posicionamento desses sujeitos do conhecimento diante da violência contra a Natureza, a phylia para os gregos antigos? Heráclito, Parmênides, Anaxágoras, entre outros pré-socráticos, a concebia como a perfeita harmonia entre os homens e o Cosmo.
Como o filósofo e a filósofa protegem a saúde de Gaia, diante das marteladas irracionais daqueles que se identificam com o discurso de ódio? Diante dos interesses do capitalismo ultraliberal que destrói as florestas, impedindo que todos os seres vivos não mais tenham o direito de respirar?
Como os profissionais da Filosofia se movimentam no tabuleiro da hipocrisia, do mundo sofisticado das fake news? O que esses profissionais podem fazer diante da barbárie humana, na qual se sente prazer em aplaudir seus algozes?
São muitos os questionamentos que faço diariamente com medo da barbárie. Hannah Arendt destacou preocupações muito relevantes: “construímos o mundo com nossas mãos e o destruímos com nossas próprias mãos”; “Que mundo iremos deixar para as próximas gerações”? Nietzsche já dizia que “o filósofo é como um terrível corpo explosivo diante do qual tudo corre perigo”.
Considerado o filósofo do martelo, Nietzsche diz que é possível “parir reflexões em meio às dores”. Concordo com Nietzsche! Se for frágil, fraco, procure não se refugiar na filosofia, ela não suporta os medrosos, nem os covardes. A mediocridade não pode ser nossa trajetória existencial, nem política, social, nem tão pouco enveredar pelo caminho sombrio daqueles que estão destruindo nossa Morada Cósmica.
Nossa espiritualidade está comprometida, é necessário deixar morrer de inanição nosso ego, assim, o Outro e todas as relações de alteridade (às águas, fauna e flora, animais, crianças e idosos) terão chances de escrever suas histórias com dignidade. Se não compreendermos que somos humanos e que estamos aqui para nos humanizarmos, o desembarque foi um erro.
Leituras que não posso deixar de fazer e estou fazendo antes de embarcar: Kafka (A Metamorfose), Hannah Arendt (A Condição humana e A Política), Heidegger (Ser e Tempo), Nietzsche (tudo), Byung-Chul Han (Sociedade do Cansaço, Agonia do Eros, No Enxame), Mulheres que Correm com os Lobos (Clarissa Pinkola)”.