22 de novembro de 2024

Fusos horários

Carlos Silva

Partindo do princípio que não está ocorrendo nada no planeta que me tire o sono ou que desperte a minha atenção, vou contar um fato ocorrido há algum tempo e que me faz rir até hoje. E se você, rir, também, tudo bem. Caso contrário, e daí? Uma linda manhã de sábado, estava eu tomando uma gelada na praia do Atalaia, em Fernando de Noronha. De repente, me chega um empresário, grande amigo, cujo pai é meu amigo de infância. Foi uma surpresa muito agradável, mesmo. Conversamos muito e tomamos mais algumas cervejas. E, de repente, ele me disse que estava testando um novo jatinho, se não me engano, de fabricação canadense, e estava em um circuito Recife, Fernando de Noronha, Recife, Brasília, Rio Branco e Cruzeiro do Sul. Eu estava, de férias, sozinho e completamente sem compromisso com nada e com ninguém pelos próximos vinte dias. Ele me convidou a participar do périplo e me pagava todas as despesas, incluindo a volta para casa ou qualquer destino, no Brasil. Como eu não tinha, naquele momento, a responsabilidade de cuidar nem de um pinto para beber água, aceitei. Iríamos sair depois do almoço. Após digerirmos uma linda galinha ao molho pardo, decolamos e chegamos em cerca de 59 minutos em Recife. Nem adianta me questionar nada sobre altitude e velocidade do jatinho. Mas, foi o que aconteceu. Bem, creio que você, leitor, sabe que o nosso Brasil possui quatro fusos horários, e que o fuso de Fernando de Noronha o torna o local mais “cedo” no Brasil. E, naquela oportunidade, estávamos no horário de verão. Bem, a viagem, além de muito rápida, foi extremante tranquila, e era um “Céu de Brigadeiro”. Alex, meu amigo, e, também, piloto e dono da aeronave, pousou em Recife, para reabastecer e seguir para Brasília. No local do pouso, encontramos parte da família dele que insistiram, e muito, para almoçarmos. Lembrando que devido ao fuso horário, chegamos, de novo, na hora do almoço. Não adiantou alegarmos que já havíamos almoçado, e repetimos a dose. Por coincidência, era, de novo, galinha ao molho pardo, só que sem cervejas. Explodimos o bucho e seguimos para Brasília. Dormi o trecho todo e chegamos na Capital Federal em uma hora e cinquenta e oito minutos. Muito rápido mesmo. Só que nessa pernada, tivemos que pousar na Base Aérea da Aeronáutica pois havia alguma intercorrência técnica no aeroporto privado que iríamos utilizar. Na Base Aérea fomos muito bem recebidos e o Comandante conhecia o Alex. E insistiu para almoçarmos junto com a equipe de plantão, naquele dia. Claro que não foi possível recusar e fomos almoçar…acreditem…frango ao molho pardo. Sim, dessa vez foi frangão e não galinha. Lembrando que em Brasília era hora do almoço devido ao fuso horário etc, e, na verdade, em termos de hora, ainda não havíamos saído de lugar nenhum. Em tese, é claro. Com o semblante aborrecido, reembarcamos com destino a Rio Branco, capital do nosso estado do Acre. Desmaiei de sono, a bordo, e só me recuperei na linda capital acreana. Como era horário de verão, ali era duas hora mais cedo que em Brasília. E no aeroporto, privado, alguns amigos do Alex preparam uma surpresa: um lauto almoço com galinha ao molho pardo! Tive vontade de ficar por ali, e descobrir um jeito de sair correndo. Mas, não teve jeito. Lá fomos nós entupir o estômago, mais uma vez, com a bendita galinha ao molho pardo. Reembarcamos quase chorando, mas seguimos para a bela e graciosa Cruzeiro do Sul, distante 700 km de Rio Branco e onde morava o Alex. Ocorre que devido ao bendito fuso horário, no horário de verão Cruzeiro do Sul ficava a menos 3 horas de Brasília. Ou seja, chegamos…na hora do almoço. E, pode parecer piada, mas, a mãe do Alex nos ofereceu o prato principal da culinária dela: galinha ao molho pardo! Fazer o quê? Lá fomos nós, de novo, comer o abençoado almoço, pela quinta vez no mesmo dia e o mesmo prato. E a vida seguiu !

Carlos Alberto da Silva

Coronel do Exército, na Reserva, professor universitário, graduado em Administração e mestre em Ciências Militares

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