Faz quase dois anos que o Japão inaugurou sua maior fábrica de Hidrogênio, a Fukushima Hydrogen Energy Research Field (FH2R), então conheça as características do projeto, as principais funções de cada parte da unidade fabril, a capacidade de produção, as medidas de segurança e o modelo de negócio deste ousado empreendimento japonês.
Nas últimas oito décadas o Japão tem surpreendido o mundo com sua incrível capacidade de se reinventar após passar por grandes tragédias: 2a guerra mundial, bem como as catástrofes naturais ocorridas mais recentemente em (a) Kobe no ano de 1995, cujo terremoto de 7,3 graus ceifou 6434 vidas; (b) Fukushima no ano de 2011, quando em um único dia (11/03/11), sofreu consequências de um terremoto de 9 graus, seguido de ondas gigantes de tsunamis que invadiram a cidade por 4 Km a dentro, bem como vazamento de vapor e água contaminados da usina nuclear existente na cidade, resultando na morte ou desaparecimento de 18.434 vidas <https://bit.ly/3GHWXEZ>. Além disso, vale a pena lembrar que Fukushima também foi afetada por um tufão em 2013, outro terremoto ocorrido em 2016, bem como pela Covid19.
Em relação a capacidade de superar inúmeras catástrofes em tão pouco tempo, Fukushima é um bom exemplo, pois desde 2011, vários investimentos têm sido feito para reconstruir e revitalizar a região, tais como: desativação da planta nuclear Daini iniciada em 2019 e que poderá levar 40 anos para ser concluída; descontaminação das casas, florestas, ar, água, etc; tratamento da água contaminada por meio de equipamentos e do Sistema de Processamento Líquido Avançado; evacuação, reconstrução de casas, prédios, rodovias para fins de retorno seguro para certas áreas da cidade; fornecimento de subsídios para revitalizar a indústria; investimento em projetos de inovação, etc. Nestes dois links o leitor tem ideia do que tem acontecido naquela região nos últimos 11 anos <https://bit.ly/3HSH5Rt e https://bit.ly/3LujdWw>.
Entre os investimentos mais promissores que estão mostrando grande progresso para a revitalização da indústria e da região, está a Fábrica de Hidrogênio, conhecida como Fukushima Hydrogen Energy Research Field (FH2R), inaugurada em 07/03/20. Esta planta tem um investimento de cerca US$ 180 milhões <https://s.nikkei.com/3GQk68e> e está localizada na cidade de Nami, a 250 Km de Tóquio, é um projeto-piloto com período de duração entre Set/16 e Mar/23, sua construção começou em Ag/18 e foi completada em mar/20.
As principais características do projeto são: (1) produzir hidrogênio livre de CO2, usando energia renovável, contribuindo para a redução do carbono ao longo do tempo; (2) produzir grande quantidade de hidrogênio, por exemplo, 1200 Nm3 por hora diariamente, com potencial de abastecer 150 casas e 560 carros; (3) realizar a expansão do uso da energia renovável.
Basicamente, a unidade fabril tem as seguintes funções estratégicas: (1) produzir, armazenar e fornecer hidrogênio; e (2) balancear a oferta e a demanda da rede elétrica. Para tanto, a planta tem 18 hectares destinados para a produção de 20 MW de energia solar por meio de painéis fotovoltaicos, bem como 4 hectares destinados para produzir (eletrolisador de 10MW), armazenar e distribuir até 900 toneladas de hidrogênio/ano.
Esta fábrica possui cinco facilidades: (1a) uma unidade para gerar energia solar; (2a) uma unidade que funciona como um sistema de eletrólise da água, a fim de produzir e purificar o hidrogênio; (3a) uma unidade para estocar e fornecer o hidrogênio, usando rebocadores com tubos de hidrogênio comprimido com capacidade de 2642 Nm3 a 19,6 MPa. No rebocador há a mensagem positiva “Vamos criar um futuro a partir de Fukushima, usando hidrogênio”; (4a) uma unidade para controlar todo o sistema; (5a) uma unidade para fornecer eletricidade e água.
Na planta há um centro de Pesquisa e Desenvolvimento focado no hidrogênio, energia solar e outras formas de energias renováveis. E as instalações foram construídas 1,5 vezes mais preparadas do que as construções gerais do Japão, visando suportar os terremotos.
Entre as medidas de proteção relacionadas ao hidrogênio, as principais são: medidas para impedir vazamentos; diretriz para parar tudo quando um vazamento for detectado; criação de sistema para liberar o gás de forma segura; mecanismos de proteção para dificultar o aparecimento de centelhas.
A planta FR2R está inserida no portifólio de negócios de hidrogênio da Toshiba, implementada em parceria com a NEDO, a Tohoku Eletric Power e a Iwatani Corporation. Parte do modelo de negócio desse empreendimento pode ser visualizado de forma resumida neste link <https://bit.ly/3BjjG9o>, e em grande síntese eles esperam inicialmente (A) balancear a oferta e demanda da rede elétrica, depois (B) produzir, armazenar e fornecer o hidrogênio, para em seguida (C) juntar essas duas abordagens (C=A+B), a fim de reduzir custos e expandir o uso das energias renováveis no país.
Finalmente, Fukushima é um exemplo concreto de superação, pois não é qualquer cidade que consegue superar os efeitos nefastos de dois terremotos, dois tsunamis, um tufão e pandemia da Covid19. Novamente, expresso admiração e meus votos de muito sucesso aos gestores públicos e privados do Japão, que tanto lutam para superar desafios, melhorar a qualidade de vida de sua população e o meio ambiente de nosso planeta.