A crise ambiental no Amazonas se agrava durante o período eleitoral, com seca severa e queimadas em meio à disputa de 205 candidatos a prefeito e 7.646 a vereador. Este artigo apresenta, pela primeira vez, os resultados de um estudo com 1.242 moradores de Manaus, abordando a participação coletiva na gestão urbana, o conhecimento sobre cidades inteligentes e descarbonizadas, e os principais problemas ambientais que preocupam os respondentes.
Semana passada, fui palestrante e ouvinte na 10ª edição do Connected Smart Cities <https://tinyurl.com/2p9295ch>. Colaborei na mesa redonda 10 e junto com quatro especialistas nós refletimos sobre “Como a descarbonização, o combate à desigualdade energética nas periferias e a redução da poluição sonora promovem cidades inteligentes mais sustentáveis, inclusivas e saudáveis?“ No final do dia 03/09, conhecemos as cidades mais inteligentes e conectadas do Brasil, com destaque para as premiadas nas categorias diamante (Recife e Salvador) e ouro (Curitiba, Fortaleza, Foz do Iguaçu, Goiânia, Jundiaí, Londrina, Louveira etc.).
Infelizmente, nenhuma cidade do Amazonas recebeu o ilustre reconhecimento, valendo lembrar que em 2016, o então prefeito Arthur Neto foi reeleito com forte apelo de marketing, prometendo transformar Manaus em uma cidade inteligente. No entanto, após a eleição, essas promessas se revelaram uma falácia, conforme demonstrado em estudo publicado em dezembro de 2023 na PeerJ Computer Science (Qualis 1 – https://peerj.com/articles/cs-1694/).
Esta pesquisa envolveu dois questionários aplicados em Manaus em 2022, um enviado para os gestores da PMM para levantar informações sobre o estado do projeto de cidade inteligente, o qual foi complementado com estudo documental de todas as publicações feitas no DOM entre 2016 e 2022 envolvendo o termo “cidade inteligente”. O outro questionário eletrônico envolveu uma coleta amostral com as seguintes características: c1) publico: pessoas com idade acima de 17 anos que moram em Manaus, as quais participaram de forma voluntária, entre 16/12/21 e 09/12/22; c2) com 13 questões; c3) nível de confiança de 95%; e d) margem de erro de 3%.
Estes estudos foram bancados com recursos do professor, sem nenhum apoio da CAPES, do CNPQ, da FAPEAM ou de empresas do PIM que são beneficiadas com incentivos de P&D. A seguir, há alguns resultados do segundo questionário, com informações recebidas de 1242 moradores que responderam corretamente a enquete:
Q1) Qual seu nível de conhecimento sobre cidades inteligentes? R1) 1118 participantes responderam, maioria (63.8%) informou nenhum ou baixo, 28,9% médio, e apenas 7,3% informaram ter alto nível; Q2) Qual seu nível de conhecimento sobre cidades descarbonizadas? R2) maioria (75% de 1085) informou nenhum ou baixo, 21% médio, enquanto apenas 4% informaram ter alto nível.
Assim, há a necessidade de mais informação, educação sobre esses conceitos, suas metodologias e tecnologias em Manaus, já aplicados com sucesso em cidades que estão promovendo a transição energética, gerando empregos verdes e melhorando a qualidade de vida de sua população.
Q3) Como cidadão(a), desde 1988, quantas vezes você foi convidado(a) pela administração pública para construir um Plano Sustentável para o Amazonas ou Manaus? R.3.1) Convidado pelo Governo Federal: maioria esmagadora (95,2% dos 1172) informou que nunca foi convidado, enquanto 2,6% apenas uma vez; 0,9% duas vezes, 0,8% três vezes, 0,1% quatro vezes e 0,4% mais de quatro vezes;
R.3.2) Convidado pelo Governo do Estado do Amazonas: maioria esmagadora (93,2% de 1123) informou que nunca foi convidado, enquanto 4% apenas uma vez, 1,4% duas vezes, 1,1% três vezes, 0,1% quatro vezes e 0,2% mais de quatro vezes;
R.3.3) Convidado pela Prefeitura Municipal de Manaus: maioria esmagadora (93,7% de 1108) informou que nunca foi convidado, enquanto 4,2% apenas uma vez, 1,1% duas vezes, 0,7% três vezes, 0,3% quatro vezes e 0,1% mais de quatro vezes.
Q4) Em 2016 um candidato venceu as eleições prometendo tornar Manaus uma cidade inteligente, de lá para cá, quantas vezes você foi consultado(a) para ajudar esse projeto? R4) maioria (95,4% de 1242) informou que nunca foi convidado, enquanto 2,8% uma vez; 1% duas vezes; 0,7% três ou mais vezes.
Os resultados revelam uma completa falta de engajamento público nas iniciativas de sustentabilidade e desenvolvimento urbano em Manaus. Minha percepção como estudioso de gestão pública é que cada administração que assume o governo tem priorizado maximizar o benefício próprio em vez de adotar soluções inteligentes junto com a população. Além disso, a corrupção impede a criação de mecanismos participativos e transparentes, enquanto a gestão antiquada dos governantes dificulta a implementação de boas práticas de participação cidadã, como informação, consulta, envolvimento, colaboração e empoderamento.
Q5) Se você fosse convidado(a) para ajudar a construir um plano de longo prazo para transformar Manaus em uma cidade inteligente, você participaria? maioria (66,5% dos 1242) respondeu sim, 30,8% talvez, enquanto apenas 2,7% não. Apesar da exclusão observada, há um grande interesse da população em se engajar em processos de transformação sustentável, desde que oportunidades claras e acessíveis sejam oferecidas.
Q6) Quais os 5 problemas ambientais que mais lhe incomodam em Manaus? R6) de uma lista com 17 opções, os problemas mais críticos são: P1) aumento da poluição dos igarapés/rios (78,4% dos 1242); P2) Aumento do acúmulo de lixo nas ruas (61,4%); P3) Arborização Urbana Insuficiente (árvores sem manutenção, empreendimentos urbanos implantados sem arborização adequada, etc.)(49,3%); P4) Aumento da poluição do ar (incluindo odor e mau cheiro)(40,3%) e P5) Aumento do congestionamento (39,7%).
Por fim, deixo as conclusões para cada leitor(a). No próximo artigo, farei uma avaliação crítica com pontuação de cada proposta de governo dos sete candidatos à Prefeitura de Manaus, com foco nos cinco maiores problemas ambientais revelados pela pesquisa, a fim de ajudar o(a) leitor(a) na sua decisão de voto.