23 de novembro de 2024

Imortalidade?

Carlos Silva

Ano Novo, vida nova, nada muda ou tudo muda? Eis uma das maiores dúvidas existenciais na natureza humana. Mas, nada que uns goles de cerveja não resolvam. Ou piorem. Mas, dia desses, em conversa com velhos amigos, e amigos velhos, um deles disse: eu queria ser imortal ! Como estávamos saboreando sardinhas fritas e muitas cervejas, bem geladas, nossos cérebros estavam “ligados”, “on”, e isso não quer dizer em plenitude de funcionamento, é claro. Fiquei pensativo e busquei, nas cavernas da minha memória e do meu parco conhecimento do mundo, adquirido há mais de 67 anos, argumentos para contrariar, ou concordar, com a ideia do meu amigo, que, por sinal, é um Desembargador aposentado, ou seja, uma pessoa muito culta. Enfim, a tal da imortalidade indica que não se morre nunca, certo? Mas, isso não quer dizer que não se destrua? Por exemplo, temos, à luz das Ciências, alguns espécimes animais que sobrevivem ao calor e ao frio, extremos, por séculos e séculos. Mas, se esses animais forem devorados por predadores? A imortalidade, então, não é sinônimo de indestrutibilidade. Ou seja, se pode ser destruído, não é mais imortal. Ou não? Complicado! Daí, eu pensei: se fossemos imortais, não haveria necessidade de prosseguir com a raça humana, e, então, não haveria necessidade termos filhos, netos, bisnetos etc. Logo, não existiríamos, pois Adão e Eva estariam, hoje em dia, perambulando no Éden. E, não haveria a sociedade como conhecemos. Se fôssemos imortais, não haveria necessidade de Medicina, História, guerras, empregos, alimentos, cargos políticos, acidentes, trânsito, ou seja, não haveria motivo para manter um padrão de vida, e nem haveria por que conquistar novos espaços na sociedade, que, de fato, nem existiria. Ou seja, Graças a Deus, não somos imortais, pois, se assim fosse, eu não estaria aqui, agora, digitando este artigo e você, caro leitor,  não o estaria lendo. Ou seja, a imortalidade tem relação proporcional  com a ausência de vida. Ou não? Tire suas próprias conclusões, então. Eu decidi não comentar a ideia do amigo. E outro parceiro, na mesma ocasião, e esse é um Delegado aposentado, ou seja, uma pessoa experiente na vida, disse assim: eu queria ter 20 anos com a cabeça que tenho agora, aos 72. Daí, eu redargui, na hora: você não teria errado, como errou, e, portanto, sabendo que iriar dar errado, não faria, e não aprenderia nada, na vida, e, talvez, nem aqui estivesse, tomando cerveja com a velha guarda. Depois de um silêncio sepulcral, a mesa, toda, se acabou na gargalhada. E a vida seguiu! Como sempre! E com cervejas! Geladas!

Carlos Alberto da Silva

Coronel do Exército, na Reserva, professor universitário, graduado em Administração e mestre em Ciências Militares

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