23 de novembro de 2024

Licença poética

Dizem que ser velho é um problema. Pode ser, em alguns casos. Mas, nem sempre ou quase sempre. Depende do referencial. Eu, nesta condição cronológica da vida, tenho uma boa coleção de memórias das coisas boas e das coisas maravilhosas que vi, e vivi. E das emoções também. Hoje, em tempo integral, apenas faço o que há de melhor na vida: apenas viver! Sim, e  neste contexto, ainda trabalho, e muito, e sou, principalmente, pai, avô e marido. De fato, ser avô é uma benção divina. Nada pior para educar uma criança do que um avô babão. Sim, porque faço tudo que a netinha quer. E no tempo dela. E daí? Vai me criticar? Pois critique e tenha netos. Assim me entenderá. Mas, tem algumas agendas que eu simplesmente não sigo: festinhas, churrascos, eventos religiosos, ou políticos, ou qualquer coisa que não me interesse, não me diga respeito, não me agrade ou que eu não tenha paciência de ir. Não vou dizer que faço apenas o que eu quero. Mas, no tempo livre, e quando tenho opção, eu escolho o que me agrada. E isso não é obvio. Quando se é jovem e estamos no início de carreira, é comum fazermos coisas para agradar chefes, gestores, supervisores etc. Mas, agora, velho e aposentado? Não sofro mais desse mal.  Porém, apesar de ser bom ter fila exclusiva, vagas próprias em estacionamentos, e algumas prioridades, temos que trabalhar e mostrar que somos úteis. Aprendam: o mercado não tem pena de ninguém mesmo! Mas, dia desses, no trabalho, meu chefe, que é da idade do meu filho mais velho, me demandou um relatório. Apresentei dias antes do prazo. Ele gostou. Mas, no dia seguinte, eu disse que iria a fisioterapia, cuidar das hérnias de disco. Ele me disse: “o senhor fique à vontade, pois o senhor tem licença poética.” Fiquei pensando. O que significa, naquele contexto, a tal da licença poética? Não sou compositor e nem cantor. Mas, aprendi, de fato, que é, na verdade, um forma prestigiosa de respeitar e considerar os mais velhos e, ainda mais quando são úteis de verdade. Gostei. E trabalho com mais amor ainda. Vida que segue. E com cervejas  ! Geladas !

 

É Professor Universitário em Manaus.

Carlos Alberto da Silva

Coronel do Exército, na Reserva, professor universitário, graduado em Administração e mestre em Ciências Militares

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