Quando se pensa em Manaus, de imediato começa uma verdadeira viagem passando pelos tantos lugares bonitos e históricos, pela nossa deliciosa culinária, pela miscigenação que enriquece a nossa história e a formação do nosso povo, passando pelos mais variados ritmos, cantos e encantos de uma cidade que recebe a todos de braços abertos.
Sou testemunha disso. Vindo de Parintins há mais de 40 anos, aqui cheguei como a maioria dos jovens que descortinam novos horizontes, com incertezas e medos naturais da idade, mas com esperança num futuro melhor. E aqui estava uma cidade a me acolher muito bem, na época bem mais humana, mais calma e sem os tantos e gravíssimos problemas de violência hoje vivenciados.
Era muito comum a pessoa ir a pé de um bairro para o outro e parecia até que o calor não era tanto quanto o de hoje. Até viajar de ônibus era bem mais prazeroso. Os balneários eram próximos e as águas bem geladas. As peladas ocorriam no fim da tarde e nos finais de semana aconteciam as chamadas “brincadeiras”, sempre em casas de famílias diferentes, que acolhiam os jovens da época.
Hoje muitas coisas não vão bem e faço aqui algumas reflexões. E nessas reflexões não tento encontrar culpados, mas vale pensar que o sucesso ou o fracasso de uma cidade depende muito das pessoas, e aí entra um apelo para que haja mais sentimento de pertencimento em torno do que aqui temos. É preciso abraçar Manaus como sua.
Cidadãos e governantes estão no mesmo barco e são eles que fazem ou não fazem acontecer coisas boas em qualquer cidade. Quando governantes e governados se respeitam, quando respeitam cidade como verdadeiramente sua, certamente se cria um ambiente favorável para que reine a harmonia, o bem estar, a alegria e a prosperidade.
Por exemplo, não precisamos implorar aos governantes por melhorias urbanas ou por resoluções de problemas simples de um bairro, de uma rua, e sequer podemos tolerar a prática de vandalismo por alguns munícipes. Não podemos tolerar que uma das maiores riquezas que temos, o Parque Industrial de Manaus, fique cercado de buracos e uma autoridade empurrando para outra esse problema crônico.
Não podemos, com esse clima pesado, imaginar ambientes públicos descampados, sem arborização, bem como milhares de casas sem uma árvore sequer na frente. E aqui vai um pequeno exercício: veja na sua rua quantas casas possuem árvore plantada.
Não é possível, também, observar que muitas pessoas sequer conhecem os seus direitos e isso reflete diretamente na qualidade e na quantidade dos serviços públicos colocados à disposição da sociedade. É comum um poste ficar com luz queimada durante dois meses e ninguém toma a iniciativa de ligar. E isso é ótimo para o governante, já que ninguém reclama.
A mesma coisa ocorre com problemas que só irritam a população. Como exemplo cito o Conjunto Kissia, dito remediado, pequeno e fácil de se controlar. Depois de muitos anos, as ruas ganharam novo asfaltamento, pois por lá os carros andavam pulando de banda, mas os esgotos transbordam e as ruas continuam fedendo.
No cruzamento da Rua das Acácias com a Rua Jacareúbas duvido que uma autoridade passe mais que cinco minutos com o ar insuportável, sem contar com os tantos acidentes nos cruzamentos oriundos da péssima educação e irresponsabilidade dos motoristas e da falta de redutores de velocidade. A sua praça está abandonada, talvez à espera da próxima Copa do Mundo no Brasil.
Às vezes penso que todos estão satisfeitos porque a população acaba elegendo e reelegendo sempre as mesmas pessoas, e isso levo também para as demais esferas de governo. O que todo eleitor deveria aprender é que político não precisa de fã clube. Político precisa de cobrança.
Mas não basta só cobrar. É fundamental que cada cidadão faça a sua parte. Dizer que adora Manaus e continuar jogando lixo nos igarapés e ruas é uma tremenda contradição. Amar Manaus também exige que se peça notas fiscais nas suas compras e serviços, pois a cidade depende do dinheiro dos impostos para crescer e prosperar. E isso é tarefa de todos. Amar Manaus é uma obrigação.