23 de novembro de 2024

Merquior e o liberalismo 

Breno Rodrigo de Messias Leite*

Em “O Liberalismo: antigo e moderno”, José Guilherme Merquior proporciona ao leitor um balanço completo do ideal liberal desde suas origens até a contemporaneidade. Clara e objetivamente, ao menos de maneira inicial para os leitores não familiarizados com a temática, são estabelecidas as definições de liberalismo, liberdade, autonomia, democracia e Estado de Direito, concepções estas diferenciadas pelas orientações intelectuais de toda a teoria política moderna.

Na definição de liberalismo, Merquior destaca a dificuldade inerente devido a pluralidade de ideias em circulação e pensadores de várias épocas e geografias, movidos por causas e processos históricos radicalmente distintos. “É muito mais fácil – e muito mais sensato – descrever o liberalismo do que tentar defini-lo de maneira curta” e definitiva.

Ao tentar descrevê-lo, Merquior utiliza uma brilhante citação do filósofo espanhol José Ortega y Gasset: “o liberalismo forma suprema de generosidade: é o direito assegurado pela maioria e, portanto, o apelo mais nobre que já ressoou no planeta. A determinação de conviver com o inimigo e ainda, um inimigo mais fraco”. Pensando dessa maneira, é coerente perceber que o liberalismo defende, em última análise, a menor de todas as minorias: o indivíduo.

O estudo de Merquior estabelece uma diferença fundamental na concepção de liberalismo e liberismo. O liberista é aquele que acredita que, se não houver liberdade estritamente econômica, as outras liberdades – a civil e a política – desaparecem totalmente. No entanto, também cita o italiano Benedetto Croce: “enquanto, o liberalismo é um princípio ético, o liberismo não passa de um preceito econômico. Degrada o liberalismo”. O liberismo representa a liberdade econômica, restrito a não intervenção do Estado na atividade econômica.

Fica claro que o liberalismo ou o liberismo não representam, em linhas gerais, ameaças aos movimentos igualitários, uma vez que a sociedade está caracterizada pelo crescimento da liberdade e a busca pela igualdade. Tal igualdade conquistada pelos liberais nos movimentos constitucionalistas, na teoria dos direitos humanos e nas lutas por liberdade religiosa pelo fim das guerras de religião que abalaram profundamente o continente europeu.

José Guilherme Merquior recorre aos conceitos de liberdade para explicar a postura liberal dos filósofos, sejam simpatizantes da liberdade negativa (ausência de coerção externa ou governamental) e liberdade negativa (presença de opções pautadas em escolhas individuais) – ou ambas.

Sobre as Escolas de teoria de liberdade, destacam-se a francesa, inglesa e alemã. Na Escola Francesa, a “liberdade consiste na autodeterminação”; na Inglesa, foca-se na liberdade negativa; por fim, o liberalismo alemão volta-se para a “realização pessoal”.

A diversidade dos liberalismos europeus, como o liberalismo econômico de Vilfredo Pareto, o ético de Benedetto Croce, o de direitos de Norberto Bobbio, o conservador de Walter Bagehot, o de esquerda de John Maynard Keynes, são tratados com maestria por José Guilherme Merquior. Este livro é um guia incorrigível da longa história do liberalismo.

*cientista político e professor de política internacional do Diplô Manaus.

Breno Rodrigo

É cientista político e professor de política internacional do diplô MANAUS. E-mail: [email protected]

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