7 de setembro de 2024

Metendo a colher (Parte 2)

Quando escrevi sobre a mania que os americanos têm de se meter a colher onde não são chamados, muitos me deram os parabéns.  Logo em seguida, estes mesmos americanos protagonizaram um show digno da Bolívia, Venezuela ou outro lugar qualquer onde a democracia só é boa quando favorece algum grupo específico.  

Podemos exercer nosso direito de “recíproca verdadeira” e meter nossa colher nisto? Afinal, temos PHD em medidas arbitrárias. Evidente que eles sabem corrigir seus erros sem se preocuparem muito com o exemplo, nem com a opinião do mundo todo. Há pouco tempo um policial matou um preso indefeso com sete tiros e foi absolvido. Ah, bom! O sujeito era um negro e o policial precisava testar a pistola. Respeitadas as devidas proporções, em países pobres os ricos podem tudo. Num mundo pobre os países ricos podem tudo. Ninguém se atreve a questionar porque eles mesmos escolheram o castigo para o crime que não foi possível esconder do mundo. A África do Sul vai eliminar antes o ranço da apartheid que os americanos o da segregação racial.  

O recado é claro: Os nossos problemas nós resolvemos. Os de outros países menores metemos nossa colher. No caso da palhaçada de Trump em negar o resultado das eleições que ele perdeu por apenas sete milhões de votos de diferença fica difícil esconder o escândalo. Afinal,  este serviu para acobertar outro, também de enorme significado que foi o assassinato do negro. São crimes grandes que jogariam outro país na lama, contudo aqui o julgamento obedece a “justiça” americana que protege a democracia. Na “família real” tudo não passa de fofocas. 

Notícias dão conta de que quatro pessoas morreram. Entre eles, uma mulher baleada. O protesto não foi nada pacífico pois 14 policiais foram feridos, um morto e 68 pessoas presas. No entanto, diferente daqui, os baderneiros mortos não são consideradas como vítimas. Provavelmente, os policiais que usaram dos meios ao seu dispor para conter a horda, não serão execrados pela mídia e, provavelmente, nem terão suas licenças cassadas. Afinal, baderneiro é baderneiro, não vítima ideológica. Está muito difícil até de descobrir o nome dos mortos, tão pequena é a importância que recebem.  

Toda a estrutura e segurança postas na eleição para ser questionadas por um derrotado de equilíbrio duvidoso? Parece-nos com aquele jogo de pelada infantil num campinho improvisado onde a bola sai ou deixa de sair de conformidade com a decisão do dono dela. Ou então no jogo de bolinha de gude do “nicou ou não nicou”. Vamos combinar: o mundo esperava mais dos Estados Unidos. Não basta ter grana para dar bom exemplo. 

Que legado este exemplo dará ao mundo? Trump para sempre será sinônimo de truculência, trombando na lei e na ordem? Muitos falam na vigésima quinta emenda, a da incapacidade. Se ele fosse considerado incapaz, isto é louco, não seria uma vergonha para todos os americanos? Já não apresentava sintomas antes de ser derrotado na reeleição? Afinal o homem tem o acesso ao botão vermelho que pode acionar as bombas nucleares no mundo todo. Os americanos não precisariam ter mais responsabilidade que os eleitores de países emergentes? Não merecem nossa execração por colocar tanto poder na mão de quem se desequilibra quando as coisas não saem como ele quer? Acusam outros países de não ter democracia, mas eles próprios sabem votar? Lá, como cá, as punições políticas demoram. A celeridade fica por conta do Twitter que baniu a conta de Trump em poucas horas. 

A democracia é a melhor forma de governo do mundo, embora esteja longe de ser perfeita. Quando o povo vota livremente num dirigente, ele também se torna corresponsável pela gestão.  

Luiz Lauschner

é empresário

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