Todos os que experimentaram a educação têm na figura do professor um mediador da luz do conhecimento.
Não somos uma nação que valoriza o professor e, mais recentemente, temos acompanhado nas redes sociais milícias digitais reproduzindo propostas deprimentes de parlamentares que exigem, por exemplo, exame de toxicologia aos profissionais da educação…
O gesto reforça o quão doente está essa minoria social, muito estridente no afã da lacração e revela, infelizmente, que já passamos em muito da medida.
Desde Paulo Freire e Darcy Ribeiro aprendi o sentido revolucionário da educação. Cito eles, pois, demonstraram em suas histórias de vida e escritos o papel da sala de aula, mesmo aquela improvisada na sombra de uma árvore, da escola em tempo integral e do papel integrador do professor.
Na Amazônia, educar milhões de pessoas -tradicionais, indígenas, ribeirinhos e os que vivem nas cidades -não é uma tarefa fácil. Além das questões pedagógicas, o desafio da educação no Bioma requer ainda ações diferenciadas e comprometidas com os avanços de infraestrutura oferecidos às nossas distâncias.
Programas públicos como Luz para Todos e Amazônia Conectada foram e continuam revolucionários.
Mas, ter luz e acesso às plataformas digitais não basta, principalmente, num território onde ler e escrever ainda não é um direito universal (no Censo de 2010 havia mais de 150 mil analfabetos na Região Metropolitana de Manaus).
A iniquidade amazônica é atroz e desmata.
Tenho imenso carinho em ser professor nessas terras, principalmente, no interior. Aprendo muito, a cada dia, com meus alunos.
Almoçando no restaurante Pescador em Barcelos com dois alunos, fui apresentado à senhora Lindalva, proprietária do estabelecimento. Fui recebido por ela como uma autoridade. Logo, foi chamar seu filho, formado em odontologia pela Universidade do Estado do Amazonas, me apresentando. Tal distinção e respeito a mim oferecidos valem mais que as dificuldades do ser professor…
Trazemos na experiência de professorar uma grande responsabilidade: abrir caminhos aos que encontramos na sala de aula. E a motivação resulta de muito desejo de construir uma sociedade melhor, justa, educada e feliz.
Há professores sisudos, rebeldes, comprometidos, alegres, petulantes, competentes … de todas as cores e credos. Se lhes faltam meios, constroem fins pela força da imaginação e do compromisso com o ato de educar.
Aprendi com meu saudoso professor Alziro Zarur (1914-1979) que “governar é ENSINAR a cada um a governar a si mesmo”. (Grifo meu).
As nações que aprenderam tal lição estão muito bem, obrigado. Aportaram confiança na formação de recursos humanos, pesquisa e inovação, mobilizando a roda estruturante da economia, diferenciaram suas sociedades.
Hoje, como territórios resilientes, independentemente do tempo, ou do espaço que ocupem na geopolítica mundial, países asiáticos como Japão, China, Singapura, Coreia do Sul, etc demonstraram que o investimento em Educação e no Conhecimento fez a história de algumas décadas trabalhar a seu favor, como força motriz do presente e de um futuro próspero de oportunidades.
Ser professor ou investir nas pessoas e no protagonismo delas são escolhas. Não está na hora do Brasil escolher e trilhar o caminho da Educação?
Daniel Borges Nava – Geólogo, Analista Ambiental e Professor Doutor em Ciências Ambientais e Sustentabilidade na Amazônia da UEA