21 de dezembro de 2024

Nem tão aprendiz Trump não aceita demissão

Desde a semana passada, acompanhamos atentamente, daqui do Brasil, a corrida presidencial dos Estados Unidos. A disputa, que foi se tornando cada vez mais acirrada entre Joe Biden e Donald Trump, passou a ser bem mais interessante do que o enredo enfadonho das programações dos canais brasileiros, o que fez até a nossa população mais humilde declarar sua preferência por um dos candidatos, apesar de não ter ainda escolhido o candidato à prefeitura de Manaus e, menos ainda, o vereador!

Sem meias palavras

Mas, o que mais se destacou nesse processo eleitoral americano e, talvez por isso, desperte tanto o interesse da opinião pública é o comportamento difícil do milionário! Ao longo de todos esses anos, como presidente dos EUA, Trump foi “marrento”, como dizem os manauaras. Agiu mais como um chefe do que como um líder. Um cara que bate o pé, fala o que quer sem pensar e sem medo dos possíveis embaraços e desastres diplomáticos que possa causar. Inclusive, é capaz de proferir as maiores bobagens sem cerimônias, que nem valem à pena repeti-las aqui, mas que envolvem mulheres, imigrantes, refugiados e etc. e etc. Sobre o novo Coronavírus? Seu posicionamento foi o pontapé inicial para a derrocada final.

Você está demitido

Um homem de negócios bem-sucedido, o magnata ficou ainda mais famoso por apresentar o “The Apprentice”, reality show originado nos Estados Unidos e veiculado no canal NBC. Por aqui, o programa ganhou versão brasileira e levou o nome “O Aprendiz”. O enredo é voltado para o mundo corporativo e mostra executivos competindo por uma posição de destaque que, nos tempos da apresentação do Trump, era para assumir um cargo em uma das empresas do empresário. A corrida entre os aprendizes era quase presidencial e qualquer deslize cometido por um dos competidores, Trump era implacável e dizia alto e bom som: “Você está demitido”. Game over para o competidor!

Mesmo que durante as atividades, talvez a pessoa não estivesse no seu melhor dia, talvez, numa situação pontual, optou em escolher uma alternativa que o deixou em desvantagem em relação aos demais. Afinal, nem sempre acertamos em tudo, mas isso na competição, não era considerado! Estava demitido e ponto final. Era a regra!

Tanto por nada

Muitos anos depois em pleno ano 2020, Trump não aceita perder a eleição para Biden, que em minha opinião, não ganhou o pleito porque é melhor ou mais bem preparado que o seu concorrente, mas porque o povo americano não aguenta mais o rabugento e imprevisível Trump, e terminou essa história mandando Trump pra casa! Esse é o motivo para tantas comemorações!

O perdedor jogou a democracia americana na lama, afirmando – sem provas – que foi trapaceado na votação, ou seja, afirmou que houve fraude! Trump colocou em xeque todo o sistema eleitoral do país, mostrando ao restante do planeta, uma possível fragilidade institucional da maior potência mundial! Tudo porque ele não aceita ser demitido!

Claro que o empresário, se sentindo indignado, tem o direito de pedir a recontagem de votos em alguns estados, o que poderia até evidenciar algum erro, diferença de voto ou algo parecido que o beneficiasse e justificasse a solicitação, porém é impossível que a diferença de votos entre os candidatos seja suficiente pra mudar a colocação de Trump! Isso significa que o cara fez e tá fazendo o maior estardalhaço pra absolutamente nada!

Você contrataria o Trump?

Será que é esse comportamento que esperamos lidar nos nossos times? Um gerente, um diretor, um gestor que coloque a companhia em risco porque não aceitou seguir normas corporativas, porque não soube lidar com uma situação aqui ou outra dali? No reality, os participantes são avaliados no calor do momento, mas – na vida real – Trump sempre mostrou intransigência, arrogância, impaciência, soberba, zero de empatia e menos ainda de compaixão, compreensão e assim por diante! Aí você pode virar e me dizer: “Mas Trump melhorou muito a economia dos EUA!”. Perfeito, mas a qual preço?  O futuro ex-presidente dos Estados Unidos poderia, durante sua jornada, ter aprendido mais sobre comportamento humano, desenvolvimento pessoal, psicologia e assim por diante, pois além de números ou dados econômicos, somos gente! Já era pra ele ter aprendido essa lição. Afinal ele não é mais um aprendiz!

Cristina Monte

Cristina Monte é articulista do caderno de economia do Jornal do Commercio. Mantém artigos sobre comportamento, tecnologia, negócios.

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