23 de novembro de 2024

Nivelando por baixo

Carlos Silva

Por vezes penso que nasci no planeta errado. Às vezes, penso, também, que a humanidade é um conjunto de loucos. Sei que ambos os pensamentos são devidos à minha provecta idade. Ou seja, estou idoso, mas não estou inútil. Mas, analisando com cuidado, percebe-se que a visão do mercado e dos governos quase sempre são bem distintas e conflitantes. E isso não deveria ser novidade para ninguém. E independe da ideologia de plantão. Na verdade, trata-se de ideias de funcionários públicos e de ideias de executivos. E cada qual tem razão, de acordo com o contexto. No entanto, ao nos aproximarmos de época de campanha política, somos assediados diuturnamente por caçadores de votos. Onde moro, existem dois vizinhos que vão se candidatar e já estão no terreno em busca de eleitores. Um deles, dia desses, me encontrou saboreando uma cerveja. Sentou-se comigo e conversa vai e conversa vem, me disse que havia prometido uma vaga de emprego para um sobrinha de outro vizinho nosso, em um cargo que exigia extensos conhecimentos de Estatística. Todavia, ele mesmo confidenciou que sabia que a jovem não entendia nada do assunto, mas iria conseguir a vaga em troca de dezenas de votos. Fiquei pensando: quer dizer que meus impostos vão pagar um salário para alguém não produzir adequadamente? Por outro lado, semana passada almocei com um empresário no Distrito Industrial que reclamou da dificuldade de se encontrar jovens para um cargo onde se investiria em capacitá-lo com cursos para o desempenho de funções específicas em médio prazo. E com um excelente salário, aliado a um plano de carreira muito atraente. Dois momentos e duas visões, simplórias até, no mundo de hoje. E o meu vizinho, pré-candidato, não quer dar vaga para pessoas que sejam “melhores do que ele”. Assim é a vida ! E, ontem, fui visitar uma escola pública, que necessita de obras de infraestrutura. Após analisar, o Diretor me disse que queria apenas um paliativo, pois era mais interessante a escola viver com dificuldades pois assim receberia mais recursos dos políticos em época de eleições, e que preferia nivelar por baixo para sempre estar na visão de necessitado, pois assim angariava fundos. Enquanto isso, um negócio aqui perto de onde moro iniciou a um ano e está, hoje, em obras para ampliação. O proprietário me disse que “quem não está crescendo, está morrendo”. Assim é a humanidade. E vida que segue. Com cervejas ! Geladas !

Carlos Alberto da Silva

Coronel do Exército, na Reserva, professor universitário, graduado em Administração e mestre em Ciências Militares

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