Nossa política tem salvação?

Em: 6 de setembro de 2022

Reginaldo de Oliveira*

E-mail: [email protected] / BLOG: www.doutorimposto.com.br

Dona Fran é uma simpática costureira que atende seus clientes com um belo sorriso no rosto. Certa vez, eu levei uma calça para embainhar. Enquanto concluía o serviço, ela fez um comentário emblemático. Disse que certo catador de recicláveis colocava areia nas latinhas amassadas para aumentar o peso e assim ganhar mais de dinheiro. Dona Fran discorria sobre essa história com desenvoltura e certa admiração pela ideia genial do catador.

Se quiser conhecer a alma de um país, basta prestar atenção nos seus políticos. O sistema político sintetiza o caráter de uma nação. E o motivo é bem simples. Os piores políticos brasileiros, por exemplo, não vieram do planeta marte nem das profundezas do inferno; eles foram paridos das massas. Isso significa que o voto representa um alinhamento de valores entre votante e votado. O político eleito, portanto, está em perfeita sintonia com o espírito daqueles que o elegeram. Trocando em miúdos, cada eleitor faria exatamente aquilo que o empossado faz. É claro e óbvio que o seu João das Couves ou o pastor da igreja não seriam capazes de abominações características do universo político. Será mesmo?

Será que alguém que coloca areia nas latinhas também seria capaz de grandes desvios se tivesse oportunidade? Será que a Dona Fran seguiria na mesma linha? Ou será que pequenos desvirtuamentos são táticas de sobrevivência dos excluídos? Pois é. Quem reclama da corrupção desenfreada é gente que acha normal, a prática de “pequenos deslizes” (ou grandes). É mais ou menos assim: O macaco que segue atrás debocha do rabo do macaco que vai na frente.

É muito contraditório, o fato de acompanharmos décadas e mais décadas de protestos contra a corrupção enquanto o sistema corrupto só cresceu nesse mesmo período. Pesa aqui o velho ditado: Por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento. Essa pantomima ignóbil fica mais evidente quando se analisa o arquétipo do político brasileiro, que no inconsciente coletivo possui traços bem característicos, onde o candidato esperto constrói uma imagem nos moldes dessa percepção deturpada. Por isso, não adianta adotar um comportamento sério e honesto na televisão porque o eleitorado está acostumado com o fanfarrão demagógico, barulhento, agitado e populista. Ou seja, quanto mais embusteiro, mais chance de ser eleito porque é esse o padrão incrustado na cabeça do cidadão mediano.

Lembro bem, que muitos anos atrás eu frequentava uma igreja evangélica comandada por um pastor inteligente, comedido, ponderado, cujas palavras eram cheias de sabedoria. Mesmo assim, os fiéis gostavam mesmo era de outro pregador, que era barulhento, tosco, semianalfabeto que só falava besteira.

Então, não adianta alimentar expectativas de um futuro diferente se o eleitor é o mesmo de sempre. E se o eleitor nunca mudou, o sistema político continua o mesmo. Inclusive, impressiona a falta de criatividade dos candidatos, onde todos falam a mesma coisa. Até mesmo, os presidenciáveis falam coisas na televisão como se tivessem decorado um texto feito por assessores. A bem da verdade, esse pessoal quer o poder pelo poder, já que não tem projeto nem visão própria nem preparo nenhum para o cargo que pleiteia.

O mosaico de personalidades tortuosas é o laboratório perfeito do político desonesto. A arte da política se traduz num profundo conhecimento da alma do eleitor. O político moderno não precisa envidar grandes esforços para convencer ninguém sobre contos de fadas. O político sabe que seu eleitor tem uma alma bandida. Mesmo porque, a sociedade está mais descarada; as pessoas estão abandonando os estereótipos romantizados e assumindo um comportamento mais pragmático. Afinal de contas, o mundo é dos espertos; e no jogo da esperteza vale tudo. Quem ainda insiste na profissão de bondade aprende no BBB que é preciso mentir, trapacear, agredir e passar por cima dos brothers para ganhar o jogo. O BBB faz um gigantesco sucesso porque mostra tudo o que o brasileiro é; mostra um retrato sem retoques da alma brasileira. E o pior de tudo é que desse caldo de ignomínias nasce as escolhas dos políticos que conduzem o destino da nação. Portanto, o nosso sistema político seguirá imutável e o noticiário continuará entupido de manchetes tenebrosas. Não há como mudar os políticos se os eleitores continuam os mesmos. Curta e siga @doutorimposto. Outros 460 artigos estão disponíveis no site www.next.cnt.br

* é consultor empresarial, palestrante, professor do ensino superior e especialista em capacitação profissional nas áreas de ICMS Básico e ICMS Substituição Tributária.

Reginaldo Oliveira

é consultor empresarial, palestrante, professor do ensino superior e especialista em capacitação profissional nas áreas de ICMS Básico e ICMS Substituição Tributária
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