A inclusão digital permite a muitos, que antes não tinham voz, de serem ouvidos ou vistos nas redes sociais. Alguns extravasam sua criatividade em frases de crítica, de humor, de sátira, de religião, de inconformismo e até de raiva. Outros, mais versados nessa nova maneira de se comunicar se esmeram em suas “artes” e alcançam um público não tão anônimo, que até a pouco só era atingido pelo rádio ou televisão. Essa modalidade também é usada por aqueles que querem divulgar seu hobby, seu trabalho, seus produtos ou simplesmente querem ser vistos.
Há muitos “caçadores” de frases jocosas na internet. Mesmo os que não procuram, por vezes, tropeçam em algo interessante que se destaca da mediocridade geral. De norte a sul, de leste a oeste do Brasil e fora dele, acabamos nos familiarizando com alguns termos não traduzidos que refletem bem a urgência que o mercado tem em absorvê-los. Queremos ver um post, um reel, ou assistir a uma live, ou um(a) podcast sem nos preocuparmos exatamente o que significa. Além disso existem expressões que crianças aprendem antes mesmo de aprender a escrever, muito menos conhecer uma língua estrangeira.
Se, em tempos remotos, consagrados escritores criavam um neologismo este levava séculos para cair no costume popular. Sem contar com termos técnicos que nunca foram traduzidos e simplesmente incorporados à língua porque necessitariam de muitas palavras para expressá-los. Existem os que dizem que nossa língua é pobre de palavras e por esse motivo que acontece isso. Justamente o contrário. O idioma da internet é o inglês que sabemos mais limitado em palavras que o português. A aparição de termos é tão frequente que estimula o comodismo. Crianças sabem o que é um plug, um driver, um hub, um chip ou um pen drive sem saber que as palavras ou expressões não são portuguesas. São aprendidos e usados com tanta rapidez que os que não estão ligados se atrapalham.
Ariano Suassuna dizia que não fazia shows, mas sim apresentações. Num mundo globalizado quem defende as origens linguísticas pode acabar sozinho. Para aqueles que têm mais de 60 anos e aprenderam a lidar com controle remoto, quando antes apenas conheciam o interruptor apelidado de “pera” que desligava a luz sem levantar da cama, se impressionaram com o telefone de teclas e mais tarde o sem fio, tudo é novidade de difícil aprendizado. A revolução é tão rápida que todos precisam assimilar, para não serem excluídos.
Não é só a linguagem que está se tornando internacional, mas toda a atividade. Uma pessoa que antes só cuidava de panelas, hoje dá verdadeiras aulas de culinária, via internet, quase sempre usando somente palavras básicas. A imagem que esclarece também é aquela que dispensa a palavra escrita. Talvez por isso existam cada vez mais pessoas ou grupos que querem realçar a linguagem regional que, afinal, denuncia suas origens. A rica linguagem regional não nos torna diferentes, mas nos faz compreender que não precisamos pesquisar outras línguas para encontrar palavras diferentes para a mesma coisa.
Há os que afirmam que “hoje em dia não se lê”, referindo à falta de procura por livros. A esses podemos esclarecer que talvez se leia mais que antigamente. Porém, a associação da palavra com a imagem, originou um leitor que não lê textos com mais de dez linhas. Advogados e até professores encontram modelos de textos prontos, em qualquer assunto, na internet.
Por isso, talvez nem este artigo seja lido até o final. (Luiz Lauschner)