20 de setembro de 2024

O Brasil como um swing state da ordem global

Não é de hoje que termos da política doméstica são empregados nos estudos de assuntos internacionais. O termo “swing states” não se limita apenas às eleições dos Estados Unidos, mas também pode ser aplicado à lógica de cooperação e conflito da política internacional. No contexto global, swing states são Estados cuja posição ou aliança pode variar e influenciar significativamente o equilíbrio de poder e a correlação de forças em questões internacionais.

É certo que tais países — de forma isolados ou alinhados em coalizões com outros países — têm a capacidade de balançar as decisões globais e impactar nos acordos multilaterais, fazendo deles atores cruciais na conformação do sistema internacional. Em outras palavras, a importância estratégica desses Estados reside justamente na sua capacidade de influenciar coalizões, negociações e decisões em organismos multilaterais em tempos de paz e de guerra.

Num cenário de ascensão e concretização de uma ordem internacional multipolar, a posição de swing states atrai vantagens estratégicas e custos no processo decisório. Afinal, movimentar-se em múltiplas arenas, de um lado para outro, e entre inimigos, pode parecer difícil — o que verdadeiramente é — dada a tensão geoestratégica das potências em luta pelo controle dos recursos e dos ganhos relativos.

Vejamos, pois, seis características marcantes da atuação dos swing states na política internacional. Em primeiro lugar, a capacidade geopolítica, geoeconômica e geoestratégica dos swing states em regiões fundamentais no equilíbrio de poder global. Em segundo, é possível identificar uma política exterior mutável às circunstâncias de um mundo em transformação. Em terceiro, levar em conta o pragmatismo — a obtenção de ganhos relativos — sem perder de vista obviamente os ganhos absolutos advindos da tradição diplomática. Em quarto, resguardar as alianças regionais e as coalizões globais em torno de uma agenda policêntrica, aberta e regida pelo direito internacional. Em quinto, empregar o poder de influência, de negociação e de tática num cenário de constantes mudanças nos alinhamentos entre as nações. Por fim, em sexto, ter a capacidade de liderar em situação de assimetria e conflito.

Diversos países podem ser considerados swing states em diferentes contextos e períodos históricos. A Turquia, por exemplo, localizada entre a Europa e o Oriente Médio, entre o centro da civilização cristã e da civilização islâmica, desempenha um papel decisivo na conformação do complexo de segurança regional e nas relações entre a Europa, os países muçulmanos e a Rússia e seu entorno. Suas alianças e políticas podem variar conforme seus interesses nacionais imediatos ou de longo prazo, tornando-a um ator-chave em várias questões internacionais contemporâneas.

Outro swing state central é a Índia. Com uma economia em crescimento e uma posição estratégica na Ásia, notadamente no Sul da Ásia, a Índia equilibra suas relações exteriores com os Estados Unidos, a Rússia, a China, e o Paquistão (a principal ameaça regional), buscando explorar vantagens e benefícios em questões de segurança internacional, bens e serviços, investimento e desenvolvimento regional.

O Brasil é também um swing state de peso no sistema internacional. Como liderança regional no complexo interamericano, isto é, na América Latina, sobretudo na América do Sul, o Brasil busca agregar interesses econômicos, políticos e diplomáticos em organismos como: MERCOSUL (Mercado Comum do Sul), UNASUL (União de Nações Sul-Americanas), IIRSA (Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana), OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica), ALADI (Associação Latino-Americana de Integração). O poder de liderança do Brasil nas últimas décadas tem sido errático, infelizmente. Fora do regionalismo interamericano, o Brasil tem se tornado um país importante — uma voz terceiro-mundista ou do Sul Global — na formulação e implementação das agendas da ONU (Organização das Nações Unidas) e do BRICS+.

As grandes potências — EUA, China, Rússia — frequentemente desenvolvem estratégias específicas para atrair e manter o apoio dos swing states. Essas estratégias podem incluir o favorecimento em acordos comerciais, a cooperação em acordos militares, e parcerias estratégicas, diálogos diplomáticos em alto nível entre outros.

Swing states nas relações internacionais são atores cruciais que podem influenciar de maneira significativa a dinâmica da ordem global. Sua capacidade de alternar alianças e impactar decisões em fóruns internacionais sublinha a importância de entender suas políticas e estratégias. Para as grandes potências, engajar de forma eficaz com esses estados é essencial para manter um equilíbrio de poder favorável e promover a estabilidade global.

*Breno Rodrigo de Messias Leite é cientista político.

Breno Rodrigo

É cientista político e professor de política internacional do diplô MANAUS. E-mail: [email protected]

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