21 de outubro de 2024

O cidadão e a política

As pessoas, em geral, e muitas vezes com justa razão, reclamam dos políticos. Que são corruptos, que não têm compromisso com os eleitores nem com os cargos para os quais foram eleitos. E por aí vai. Em vista disso, essas pessoas também desenvolvem uma espécie de fobia da política. Não querem se envolver, mas passam o tempo a bradar aos quatro cantos que não confiam em políticos, nem querem saber de política.

Se pensarmos bem, temos de concordar que quem se posiciona assim não está fazendo sua parte na sociedade em que vive. Sim, porque o homem é um ser social e político. Homem, aqui, designando a espécie humana. É um ser social, por conseguinte, vive em grupos. É um ser político porque a tendência é o cidadão organizar-se em uma hierarquia governamental. Assim sendo, ele precisa votar para eleger aqueles que vão administrar a polis, ou seja, a cidade, o lugar. Ou ser votado para governar os demais cidadãos.

Dessa forma, o ser humano social e político deverá, forçosamente, participar da vida política de seu lugar. Não somente como espectador, mas como agente da coisa pública, ou aquele que contribui para que a coisa pública funcione como deve.  Aí estão incluídos o ser político e a ciência política. Mas como será essa participação?

Certamente, há várias formas de o cidadão participar da vida política de seu Município, de seu Estado, de seu País. Uma delas, a mais simples, será votando, conscientemente, após análise do currículo de cada candidato, a fim de optar por aqueles que lhe pareçam ter as qualidades necessárias. Outra forma, mais complexa, será enfronhar-se na política, começando por ler jornais e revistas, acompanhar as notícias pela mídia, inteirar-se dos feitos dos candidatos, assim como dos acontecimentos em seu país e no mundo. Finalmente, entrar na política de cabeça, candidatando-se a cargos eletivos. Essas seriam maneiras de avaliar o papel do político, suas obrigações, seu trabalho, sua atuação na gestão da coisa pública,

 A essa última forma de participação, porém, poucos homens e mulheres aspiram. Provavelmente, porque dá trabalho e exige comprometimento total. E nem todo o mundo quer arcar com esse ônus. Então, muitos cidadãos, valorosos, honestos, entregam a direção de suas vidas a pessoas que nem sempre estão comprometidas com as tarefas inerentes aos cuidados com os bens do Estado, ou porque não aprenderam o que deveriam saber, ou porque ignoram os princípios de honestidade, de dignidade, de lisura. 

Sobre esse propósito, vamos encontrar em a República I:347, de Platão (428 a.C.-348 a.C.) que o castigo para quem não se interessa pela política é ser governado por pessoas inferiores, sem comprometimento, sem preparo, nem desejo de realizar com lisura as tarefas para as quais foram eleitas. Anos mais tarde, em fins do século XIX, o economista e historiador Arnold Toynbee (1852-1883) disse que o maior castigo para aqueles que não se interessam pela política é serem governados pelos que se interessam. E nem sempre os que se interessam têm as qualidades necessárias do bom político.

Recentemente, lemos no belo Discurso de Posse à Presidência do Tribunal Superior Eleitoral, do Ministro Luís Roberto Barroso, que

“Numa democracia, política é gênero de primeira necessidade. Não há alternativa a ela.  Considero que a vida pública vivida com integridade, idealismo e espírito público é    uma das atividades mais nobres a que alguém pode se dedicar. Ajudar a traçar os rumos da nação, escolher os caminhos do desenvolvimento, da justiça social e do avanço civilizatório é a missão sublime que toca aos agentes públicos eleitos. Uma vida que pode ser vivida com extraordinária grandeza.”

O Ministro continua,

“Precisamos despertar, em muitas faixas do eleitorado, a compreensão de que o voto não é um mero dever cívico que se cumpre resignadamente, mas uma oportunidade de moldar o país e mudar o mundo.”    

Procurar conhecer como funcionam as instituições de seu país, em todos os níveis, é fundamental para o cidadão. Do mesmo modo, é importante compartilhar seus conhecimentos com outras pessoas, pois a união faz a força e, em grupos, pode-se contribuir mais efetivamente para mudar uma sociedade para melhor.

Concluindo, temos de convir que é uma omissão sem tamanho recusar-se a participar do processo político-eleitoral de sua comunidade, pois, de qualquer modo, somos parte desse processo. Se não nos informarmos do que se passa nos bastidores da política, ficaremos sem entender seus meandros e continuaremos cultivando aquela confortável mentalidade de não querer envolvimento com uma realidade que é bem nossa. Além disso, perderemos a oportunidade de funcionar como agentes de mudança. Ou pelo menos de contribuir para a mudança.

Marluce Portugaels

Professora

Veja também

Pesquisar