23 de outubro de 2024

O Custo de Pensar I

Colhe-se de registros pertinentes que as espécies humanas compartilham diversas características a despeito de suas muitas diferenças. O fato de que humanos possuem cérebros extraordinariamente grandes em comparação com o de outros animais, é a mais notável. Pesando sessenta quilos mamíferos tem em média um cérebro de duzentos centímetros cúbicos. Já os homens e as mulheres mais antigos, 2,5 milhões de anos atrás, tinham cérebros de cerca de seiscentos centímetros cúbicos. Os sapiens modernos exibem um cérebro com, em média, 1200 a 1400 centímetros cúbicos. O cérebro dos neandertais era ainda maior.

Pode parecer óbvio que a evolução devesse selecionar cérebros.  Somos tão encantados por nossa inteligência refinada que presumimos que, quando se fala em capacidade cerebral, mais significa melhor. Porém se fosse assim, na família dos felinos também haveria aqueles capazes de aprender cálculos e os sapos teriam a essa altura lançado seu próprio programa espacial.  Por que cérebros gigantescos são raros no reino animal?

Um cérebro enorme, é fato, representa uma exigência enorme para o corpo. Não é fácil carregá-lo para toda parte, em especial quando revestido de um crânio maciço.  E é ainda mais difícil abastecê-lo com energia. No Homo sapiens, o cérebro representa entre 2% a 3% do peso corporal, mas consome 25% da energia do corpo quando em repouso. Em comparação, o cérebro de outros macacos demanda apenas 8% de energia enquanto o corpo descansa.

Arcaicos, os humanos pagaram por seu cérebro grande de duas maneiras.  Primeiro, dedicaram mais tempo à busca de comida. Segundo, seus músculos se atrofiaram. Como um governo redirecionando recursos da defesa para a educação, os humanos desviaram a energia dos bíceps para os neurônios. Não é difícil concluir que essa não foi uma boa estratégia para sobreviver na savana. Um chimpanzé não pode ganhar uma discussão com um Homo sapiens, mas pode destroçá-lo como se fosse uma boneca de pano.

Nosso cérebro grande se mostra hoje vantajoso, pois podemos fabricar carros e armas que nos permitem uma locomoção muito mais rápida que a dos chimpanzés e a possibilidade de atirar neles de uma distância segura em vez de enfrentá-los numa luta corpo a corpo. Mas carros e armas são fenômenos recentes. Durante mais de 2 milhões de anos, as redes neurais dos humanos não pararam de crescer, embora, exceto por algumas facas de sílex e uns espetos pontiagudos, os humanos tivessem pouco com que se defender. O que, então, impulsionou a evolução do substancial cérebro humano ao longo desses 2 milhões de anos? Honestamente, não sabemos.

Andar com o corpo ereto sobre duas pernas é outra característica singular dos humanos. De pé, é mais fácil visualizar a savana a fim de localizar animais de caça ou inimigos, e os braços desnecessários para a locomoção ficam liberados para outros propósitos, tal como atirar pedras ou fazer sinais. Quanto mais coisas essas mãos pudessem fazer, mais exitosos eram seus proprietários, motivo pelo qual a pressão evolucionária gerou uma concentração crescente de nervos e músculos bastante precisa nas palmas e nos dedos. Como consequência, os humanos podem executar tarefas muito complexas com as mãos – em especial produzir e utilizar ferramentas sofisticadas.

Data de aproximadamente 2,5 milhões de anos, a primeira evidência da produção de ferramentas e a manufatura e o uso de ferramentas são os critérios com que os arqueólogos reconhecem os antigos humanos.

Andar ereto, entretanto, tem suas desvantagens. O esqueleto de nossos antepassados primatas se desenvolveu por milhões de anos a fim de transportar uma criatura que andava de quatro e tinha uma cabeça relativamente pequena. Adaptar-se a uma posição ereta foi um desafio significativo, em particular quando a estrutura precisou suportar um crânio de dimensões substanciais. A humanidade pagou pela visão mais ampla e pelas mãos hábeis com dores nas costas e torcicolos. (Segue).

 É advogado de empresas (OAB/AM 436). Contato: [email protected].

Bosco Jackmonth

* É advogado de empresas (OAB/AM 436). Contato: [email protected]

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