Desde o início da povoação humana na Terra, a sociedade passou por diversas transformações evolutivas, que vão desde as primeiras gravuras escondidas em rochas subterrâneas até a organização da sociedade por meio de classes sociais. De lá para cá, o ser humano passou a questionar-se o seu papel no mundo e, principalmente, passou a observar o modo de interação entre as espécies.
Na natureza, diversos animais vivem em grupos, que protegem entre si seus membros de ataques e ameaças de outros seres vivos. As orcas, por exemplo, são famosas por caçarem animais grandes, e são bastante temidas por exercerem um ótimo trabalho em grupo. Mas, e se esse animal vivesse de maneira independente, você acha que ele conseguiria manter-se firme na cadeia alimentar?
No ano de 1989, militares dos Estados Unidos estavam em uma missão quando captaram um barulho incomum. De acordo com a classificação da época, o som vinha de uma baleia, mas o estranho era que geralmente a frequência desse animal é medida de 15 a 20 hertz, mas o da baleia em questão era de 52 hertz. Denominada como ‘’a baleia mais solitária do mundo’’, a Whalien 52 nunca conseguiria comunicar-se com outros da sua espécie, excluindo-a totalmente de uma possível vida em grupo.
Apesar dos exemplos citados, não precisamos ir tão longe para identificar as pessoas isoladas da nossa sociedade. A pressão pela perfeição é imposta a todos nós quando ainda somos muito jovens, não podemos errar, pois isso decepcionaria todos ao nosso redor; sempre foi assim e não seria diferente em relação aos estudos.
A educação é capaz de transformar a vida de uma pessoa, através do estudo podemos abrir diversas portas, conhecer novos lugares e formar grandes amizades. Essa perspectiva só é possível se o adolescente ou jovem tiver uma base mental e emocional boa, o que sabemos que é cada vez mais difícil manter esse pilar.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, em 2019, quase um bilhão de pessoas (incluindo 14% dos adolescentes do mundo) viviam com um transtorno mental. O suicídio foi responsável por mais de 1 em cada 100 mortes e 58% dos suicídios ocorreram antes dos 50 anos.
Os números alarmantes nos mostram a gravidade do problema que enfrentamos no século XXI. Nunca foi tão importante falar de saúde mental quanto agora, mas ainda assim, o tema é tabu em grande parte do mundo. Na Coréia do Sul, por exemplo, existe uma grande pressão em torno da prova Suneung, o ‘’Enem Coreano’’. Responsável por testar e habilitar os estudantes para as universidades, a vida dos jovens asiáticos gira em torno da aprovação no vestibular, e quando não alcançado, muitos se culpam de maneira agressiva.
O psicólogo Kim Tae-hyung alerta que o suicídio é a causa número um de jovens entre 10 e 30 anos no país. ‘’A alta taxa de suicídio está sendo causada pela diferença entre a falta de oportunidades de emprego e as expectativas dos alunos de seu próprio sucesso. Também existe uma falta de estratégia para lidar com o estresse’’, pontuou o psicólogo.
No Brasil, o serviço de saúde mental não é ofertado em unidades escolares. Por se tratar de um tópico que ainda é sensível para muitas famílias, alguns acreditam que não é tão necessário atender os alunos com uma equipe multidisciplinar, que é apenas uma ‘’fase’’. Apesar dos números, há ainda aqueles que não acreditam que o problema é real e que precise ser tratado com urgência.
Em contrapartida, tramita em caráter conclusivo na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei 542/21 que determina a realização de atividades de esclarecimento sobre saúde mental durante uma semana em unidades de educação básica e superior. De autoria do senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO), a proposta visa organizar o ambiente de estudo e oferecer ajuda para tratar da saúde mental dos jovens estudantes.
‘’Essa medida poderá ajudar pais, alunos e professores a superar os preconceitos que envolvem a saúde mental, incentivando essa discussão com naturalidade e empatia’’, finalizou o senador.
Precisamos, de fato, falar e abordar o tema saúde mental como um todo. Responsável por ceifar a vida de uma parcela da sociedade, é necessário alertar os riscos e falar sobre a preocupação de cada um, pois só assim conseguiremos ajudar quem muitas vezes se isola dos outros por sentir-se inferior de alguma maneira.
*É Prof. Dr. da Universidade do Estado do Amazonas.