7 de setembro de 2024

O jovem e a política

A palavra ‘política’ é utilizada, muitas vezes, no sentido pejorativo, sendo relacionada à incompetência, corrupção, mentira etc. Contudo, este termo tem origem no idioma grego e foi concebido para denominar o sistema de organização dos habitantes das cidades-estados da Grécia Antiga e, por extensão, significa as diretrizes e medidas que são tomadas em função do interesse coletivo da sociedade, ou seja, comum a todos os cidadãos.

Aristóteles em seu livro “Política” define esta palavra como sendo o meio de se alcançar a felicidade para todos os cidadãos, individualmente e de forma coletiva, sendo necessário para isso que o governo venha a agir com justiça e dentro da legalidade. Porém, devido a diversos acontecimentos e condutas reprováveis de homens públicos nas mais diversas Esferas e Poderes no decorrer do tempo, a administração pública e muitos dos seus agentes tem caído em descrédito perante à população brasileira, o que acarreta um desinteresse e desencantamento muito grande de boa parte do eleitorado, especialmente dos jovens.

Embora a participação de jovens nas eleições tenha aumentado de forma significativa entre os anos de 2018 e 2022, as estatísticas de filiadas e filiados a partidos políticos brasileiros revelam que apenas 1% das eleitoras e dos eleitores jovens até 24 anos integra agremiações partidárias. E este fenômeno tem ocorrido, segundo especialistas na área eleitoral, em virtude da descrença de boa parte do eleitorado de que os postulantes a cargos públicos possam verdadeiramente representá-los, além do fato de muitos cidadãos não estarem conseguindo se identificar com as bandeiras e ideologias de diversos partidos existentes.

Mesmo diante de tantos escândalos e crimes cometidos por agentes públicos ao longo dos anos, os jovens brasileiros têm em suas mãos a maior arma para corrigir os rumos da Nação, dos estados e dos municípios; e esta arma é o voto consciente. Precisamos exercer nossa cidadania de maneira plena. É preciso haver o entendimento real de que os recursos públicos são de todos nós, uma vez que são os nossos impostos que compõem o Erário. Faz-se necessária a compreensão de que quaisquer decisões e ações políticas têm um impacto, direta ou indiretamente, nas vidas de todos. Sendo assim, não podemos e nem devemos abrir mão de nosso dever democrático, que é escolher nossos representantes de maneira lúcida, pesquisando a vida pregressa dos candidatos, a qualificação deles e suas propostas. É fundamental também acompanhar, durante todo o mandato dos que vencerem, o cumprimento ou não dos compromissos assumidos para com a sociedade.

Mais do que nunca temos instrumentos legais, como a Lei da Transparência e a Lei de Acesso à Informação, por exemplo, além de outras ferramentas para fiscalizar e cobrar os mandatários acerca dos atos realizados, seja no Poder Executivo (Presidente, Governadores e Prefeitos), no Legislativo (Deputados Federais, Estaduais/Distritais, Senadores e Vereadores) e no Judiciário. Nenhum jovem ou cidadão em geral é obrigado a se filiar a um partido ou a disputar eleições se não quiser; mas é importantíssimo que todos os cidadãos sejam politizados e participem do processo democrático, pois as medidas tomadas pelo Poder Público refletem em toda a coletividade.

Temos no Brasil uma democracia representativa, em que escolhemos aqueles que vão nos representar, seja no Executivo ou no Parlamento. Mas isto não significa que não possamos ser agentes participativos na Gestão Pública. Órgãos independentes como o Ministério Público podem ser acionados para investigar qualquer suspeita de mal-uso do dinheiro público ou de desrespeito com o bem comum do país, do estado ou do município, da mesma maneira que os cidadãos, de forma individual ou como sociedade civil organizada, podem manifestar seus pontos de vista por meio dos canais diretos, como e-mails, telefones, ouvidorias, espaços reservados para acompanhar as votações  dos parlamentares (como as galerias das casas legislativas), audiências públicas, reuniões dos Conselhos Temáticos ou mesmo através da sugestão de Projetos de Lei de Iniciativa Popular, como ocorreu, por exemplo, com a Lei da Ficha Limpa.

Desta forma vemos que o jovem tem um papel fundamental e indispensável na mudança que se almeja para o nosso país, para a nossa cidade e para o nosso estado; como um agente transformador. Não se trata de velha ou de nova política, mas sim da maneira correta de se fazer política; com base na ética, na transparência, no respeito a todos os que formam a população e no compromisso com a coisa pública. E é somente por meio do exercício diário da cidadania, através do voto (sabendo em quem se está votando e fazendo isso pela motivação correta), da fiscalização de quem tem mandato eletivo e da participação ativa nas decisões que pautam a administração pública; que poderemos, de fato, ter dias melhores e nos sentir, verdadeiramente, bem representados. Teremos eleições neste ano de 2024 e a participação da juventude é fundamental.

Lisandro Mamud

Lisandro Mamud é administrador, pesquisador em Inovação, Tecnologia e Educação do Núcleo Educotec (Ufam)

Veja também

Pesquisar