Estamos em um momento mundial em que congelados pelo “inesperado” cada indivíduo tem o desafio pessoal de decidir para onde olhar, qual caminho seguir e para onde pretende canalizar suas forças, incluindo seus pensamentos, seus sentimentos, seus comportamentos e consequentemente, seus resultados.
Neste exato momento, em todos os cantos do planeta inacreditavelmente temos um tema comum, e frente tantas dúvidas e incertezas sobre o futuro, uma constatação é certa: o mundo não será mais o mesmo. Não há qualquer possibilidade de voltarmos a viver como vivíamos, não existe a chance de congelarmos o antes e prosseguirmos de onde havíamos parados, não temos a oportunidade de voltar ao passado e resgatar a linha do tempo para um exato momento, pois esse momento já se foi.
Embora seja simples, racional e óbvio este raciocínio, quantos neste exato momento ainda não viraram a página? Quantos ainda acreditam que logo logo tudo estará como antes? Quantos ainda vivem a vontade de seguir do ponto de origem? Quantos ainda se lamentam, sem reagir? Quantos ainda reclamam ao invés de entender, aceitar e mudar?
Sim, estamos com uma oportunidade de aprender através do processo de desaprender para reaprender. Este é o momento da mudança, da transformação, da cura, da descoberta e de renascer. Esta geração tem a oportunidade de entender todos os estágios do luto, aprender com ele e encarar o presente como um presente, e preparar-se para o futuro ao juntar seus “cacos” e renascer numa nova vida.
Estou comparando ao estágio de luto porque este se inicia com a perda, que acontece através de uma experiência emocional profunda e individual, que se define pela capacidade de lidar com essa perda. Quanto mais rápido elaborarmos a perda, mais rápido estaremos prontos para reconstruir a melhor forma de viver.
Atualmente, quantas pessoas estão vivendo o isolamento social após perder o emprego ou terem seus contratos suspensos e se perguntam: como será o amanhã? Quando nos deparamos com a perda, é natural que haja uma mudança temporária no estilo de vida, a diminuição do interesse no convívio com outras pessoas, que perca a empolgação com as atividades cotidianas. Entrarmos em estado de choque é uma alternativa saudável, e bem melhor do que fingir que nada aconteceu, e com isto ter a crise de choro e uma dor profunda como sinal de compreensão do que aconteceu. No entanto, não podemos permanecer neste estágio, não precisamos viver nele. Resgatar-se dentro de si mesmo, acolher a emoção negativa e encontrar a abordagem positiva de cada uma dessas emoções é um caminho para quem quer reaprender.
Para registrar as emoções como raiva, medo ou tristeza neste momento de choque que podem levá-lo para angústia, para o desespero, para a frustação ou a raiva pode impulsionar para o vencer, o medo impulsionar para caminhos de análise e descoberta da coragem, bem como a tristeza para encontrar todas as pequenas oportunidades que se abrem ao olhar atento aos detalhes antes não percebidos.
Quando penso em emoções no caminho do autoconhecimento, fico sempre atenta em entender, aceitar, para então conseguir mudar. Entender dentro dos estágios do luto nos faz avançar da primeira fase, que é simplesmente negar. Não temos como negar que tudo mudou e que um mundo novo se molda a nossa frente. O segundo estágio do luto surge quando não é mais possível negar o fato e há um sentimento de revolta. Se neste momento você paralisou na pergunta: Por que comigo? Arraigada de dor e sofrimento, sugiro encontrar caminhos de aprendizados para que a raiva crônica, a ponto de tornar patológica, não se instale em você.
Se estamos no momento de aprender, um caminho após não poder mais negar é não ficar no ressentimento, e descobrir maneiras de transformar a energia da raiva em alternativas para ação, para que o estágio da barganha no luto chegue no momento em que começa a ter esperança, em troca de méritos que acredita ter, ou ações que promete empreender.
Mesmo que você já tenha passado da negação, da raiva e da barganha, o próximo estágio é um ponto importante da sua atenção, pois vem carregado de tristeza e medo. É o momento que mais olhamos para trás e nos deprimimos. É o estágio da depressão, entender, aceitar e encontrar os aspectos positivos farão você superar a angústia e alcançar o estágio da aceitação.
A aceitação é o estágio em que a saudade dos momentos que teve com os colegas de trabalho, a visualização do positivo sobre os planos que não se concretizaram se tornam perspectivas sossegadas do que poderia ter sido e não foi, mas sem a revolta de não ter feito, e a paz interior se concentrará em criar condições de reorganizar a vida. É o estágio de entender, aceitar e conseguir agir no aqui e agora, compreendendo que o que passou passou e tudo pode ser melhor nos dias que estão por vir.
Lembrando que a esperança é uma aliada, pois sem ela é o prenúncio do fim, não a esperança de esperar, mas o sentimento de quem vê como possível a realização daquilo que deseja; confiança em coisa boa, ter fé que é possível.
Revisitando os estágios do luto: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação, é importante registar que nem todos nós passamos por todos os estágios e nem todos seguem a mesma sequência, mas todos nós, diante das perdas somos sujeitos a sentir raiva, medo e tristeza e cada um de nós pode escolher o caminho dos aspectos negativos dessas emoções e mergulharmos nas profundezas da angústia, do desespero e da dor, ou podemos resgatar uma força para usarmos estes sentimentos sobre os aspectos positivos de impulsionamento, proteção e compaixão, e avançarmos com esperança para aprender o que precisamos, desaprender o que não faz mais sentido e reaprendermos com amor, alegria e coragem.
Quando o hoje é dotado de esperança, mesmo com todas as dores, é possível olhar para o futuro como um portador de condições melhores que as oferecidas pelo presente e encorajar você a lutar pela vida. Com este empoderamento, os sofrimentos podem ser enfrentados como situação passageira, na marcha para algo melhor, maior e mais bonito. Eu creio no amanhã e acordo todos os dias com amor, alegria e coragem de quem ama e honra o passado que passou, enchendo o peito de esperança hoje, para um futuro cheio de vida para todos nós.
*Cintia Lima é Psicóloga, Master Coach e Mentora Organizacional [email protected] – 92 981004470
Fonte: Cíntia Lima