22 de dezembro de 2024

O poder pelo poder

Parece filme repetido, tudo o que está acontecendo atualmente entre Rússia e Ucrânia, praticamente países irmãos, pois ambos têm as mesmas origens, são de predominância Cristã, cujo postulado doutrinário culmina no Amor a Deus, através do amor ao próximo, aconteceu na Europa de 1945. 

Será que toda destruição causada na Segunda Grande Guerra Mundial não bastou para o ser humano aprender que o mais importante não são os bens materiais e sim o amor? Será que existe justiça no enfrentamento, na aniquilação de outras pessoas e de nações? O humanismo não é mais importante do que todo o ouro da Terra? O que leva um país a invadir o outro? Por que os países brigam entre si? Como justificar o injustificável?

Diante de todos esses questionamentos, só me vem uma palavra à mente: poder. Isso mesmo, o poder, ou seja, a posse, a necessidade de controle, de expansão, de domínio. O poder pelo poder leva os países a guerra, vizinhos a se digladiarem, pessoas a se matarem. E quando a guerra é para medir forças, para saber quem tem mais poder, a soberba, a arrogância e a prepotência tendem a dominar a vontade dos governantes. 

Apropriadamente, Karl Marx define poder como sendo um jogo de dominação política existente na humanidade, desde o seu princípio, por meio do embate entre classes diferentes, o que se evidenciou com o desenvolvimento do capitalismo industrial, e reforçou: “As ideias dominantes de uma época são sempre as ideias da classe dominante”.

Sempre foi e sempre será assim, sejam pessoas, cidades, estados, ou países, quem tem poder é que manda. Alguns filósofos, entre eles Michel Foucault, no seu livro Microfísica do Poder, escreveu sobre o assunto. Ele dizia que, “O poder funciona e se exerce em rede. Nas suas malhas, os indivíduos não só circulam, mas estão sempre em posição de exercer este poder e de sofrer sua ação; nunca são o alvo inerte ou consentido do poder, são sempre centros de transmissão. Em outros termos, o poder não se aplica aos indivíduos, passa por eles”.

O filósofo francês pensa a sociedade em sua estrutura macro. Ele analisa as esferas sociais e suas instituições e nota que o sistema de poder tenta supervisionar todas as áreas políticas, instaurando um viés disciplinar totalizante e que está a todo momento regulando e controlando a vida das pessoas, em todos os lugares, em todas as direções e dimensões, sociais, políticas, religiosas e culturais.

Foucault cunhou o termo panóptico para designar os entes estatais que disciplinam e impõem poder à sociedade em sua totalidade. Assim, o panóptico – o que eu estou aqui chamando de o “Poder do Poder” – é apropriado pelas instituições de poder para obter poderio, soberania, autoridade e hierarquia entre Estado e indivíduo. O problema é quando esse poder cai em mãos de pessoas erradas. E não esqueçamos: o poder político nas democracias é essencialmente a vontade da maioria através do governante!

A esse respeito, disse Maquiavel, “Dê o poder ao homem, e descobrirá quem ele realmente é”. Já para Napoleão Bonaparte, “O poder está nas aparências”. Portanto, saber como obter e avaliar o poder é provavelmente a forma mais importante de exercer o poder, seja em tempo de paz ou de guerra. Por isso, diante dessa guerra entre Rússia e Ucrânia, o mais importante a se fazer nesse momento é estabelecer o diálogo, encontrar a verdade e não saber quem vai ganhar ou perder, mesmo o resultado sendo óbvio, ganhará aquele que tem mais poder e perderá toda a humanidade.

O poder pelo poder é a apropriação das instituições, dos meios de comunicação, da tecnologia, do sistema educacional e da mente das pessoas para propagar notícias incorretas e falsas. Infelizmente é isso o que está acontecendo na Rússia, na Ucrânia, no Brasil e no Mundo. O império das fake news. O panóptico atual. Todavia, já não basta saber da verdade, é necessário que as pessoas incluam, como componentes centrais, o raciocínio crítico e a metodologia da pesquisa. Por fim, que o Deus da Paz habite os corações daqueles que detém o poder de acabar com as guerras no mundo!

Luís Lemos

É filósofo, professor universitário e escritor, autor, entre outras obras, de "Filhos da Quarentena: A esperança de viver novamente", Editora Viseu, 2021.

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