23 de novembro de 2024

O que a tragédia do Rio Grande do Sul prenuncia ao Amazonas e ao Brasil

Vivenciamos uma crise climática perigosa, traiçoeira e de proporções globais e de extremos com alto poder destruidor. 

Ruy Marcelo

São estarrecedoras as imagens. É brutal a força das águas. É triste o padecimento das vítimas. Milhares de famílias perderam suas casas e estão desaparecidas ou desabrigadas. Dezenas de mortos. A maior enchente histórica. Centro de Porto Alegre inundado. Prejuízos bilionários. Cenas de guerra e filmes de terror. O pesar é grande. Muita dor.

Neste momento, devemos nos unir e nos lançar à solidariedade ao povo rio-grandense. Estamos todos desolados em preces por todos. Uma questão também ética, de reciprocidade, pois eles ajudaram o Amazonas naquele janeiro de 2021, em meio à pandemia e à crise de falta de oxigênio. A chave-pix 92.958.800/0001-38 (Banrisul) está disponível encurtando distâncias a quem possa ajudar financeiramente. 

Não obstante, por ser igualmente forma de solidariedade geral, cabe o incentivo a uma séria e inadiável reflexão sobre o que o episódio sul-riograndense nos fala sobre nossas possibilidades futuras e rumos de sobrevivência, desenvolvimento e de adaptação.  

Força para encarar, à luz da Ciência, que o episódio é apenas uma amostra de uma crise generalizada em pleno curso de instalação e que vai piorar segundo a Ciência e os números de emissões de gases de efeito estufa. Secas, enchentes, chuvas recordes, alagamentos etc vão se intensificar e ninguém e nenhuma região está imune a seus catastróficos efeitos. Vivenciamos uma crise climática perigosa, traiçoeira e de proporções globais e de extremos com alto poder destruidor. 

Segundo estudos da Administração Federal, são quase dois mil municípios brasileiros altamente vulneráveis a eventos climáticos extremos, isto é, sob o risco de suportar semelhante calamidade como a que assola presentemente o RS. Nesse contexto, as cidades são pouco resilientes a despeito de reunirem a maior parcela da população brasileira.

Manaus e outras cidades no Amazonas destacam-se como mais frágeis e expostas a enchentes, estiagens, inundações e alagamentos. 

Então, o que fazer?  

Primeiramente, basta de negacionismo. Não precisa mais olhar para cima. É fato patente. É ferida que dói. Calo que aperta. Veneno que mata. Sociedade, governos e mercados não podem mais ser incoerentes, tímidos, indiferentes ou procrastinadores. 

Não temos mais o direito de negligenciar, errar e adiar a necessidade de nos precaver e prevenir tomando o assunto como prioritário e da mais alta relevância estratégica. Nunca foi tão inadiável a transição para a sustentabilidade para não abrirmos mão da vida, da economia próspera, da saúde e da segurança climática. 

Além disso, não se pode mais tolerar a fragilidade, a languidez e até a contradição das políticas públicas de transição, com pouco caso para o caráter emergencial das mudanças do clima e prevenção de desastres, sob pena de condescendermos com tragédias plenamente previsíveis e de efeitos majoritariamente contornáveis.

Rio Grande do Sul foi um Estado que flexibilizou as leis ambientais em prol das demandas imediatistas do Agro, supondo que a Ciência seria uma exagerada “ecoxiita”. Em 2019, uma série de retrocessos no código ambiental estadual. Em 2024, há cerca de um mês, a lei 16.111/24, que autoriza a construção de barragens e açudes para irrigação da agricultura em faixas de APP…

Crise climática precisa ser tema central nas próximas eleições. Candidatos precisam assumir compromissos sérios.

Enfim, todo nosso apoio aos irmãos gaúchos e, atitude aos brasileiros!

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.

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