Por algum motivo ocorreu a lembrança do artigo jornalista Ricardo Noblat, ocorrido há mais de dez anos. “Não espere coerência dos políticos”, dizia ele. Simples assim. Os “ladrões” de ontem são os conselheiros experientes de hoje, onde os santos de ontem são os demônios de hoje. Enfim, os adversários de ontem são os aliados de hoje e vice-versa.
Os políticos são uma raça à parte. Isso não é ofensa, é elogio. Quem não for capaz de engolir sapos, esquecer veementes ataques, não ingresse na política. Por que digo que é elogio? Porque, embora os políticos tenham sua mente fixa no eleitor e no voto, eles não podem esquecer que são os mais expostos quando se trata de história. O cidadão honesto fica com o estômago revoltado ao ver nomeações de incompetentes rechaçados há algum tempo. Os políticos nem sempre escolhem seus auxiliares pela competência, mas pela conveniência do momento. Eles se movimentam nesse meio que muitos veem como um lodaçal.
O lado baixo da política é sem dúvida nenhuma o mais propalado e o menos nobre. Contudo, a Política (assim, com “p” maiúsculo) aproxima pessoas, promove a paz, apara diferenças e melhora a humanidade. Fico imaginando a Europa depois da segunda grande guerra. A França pisoteada pelos coturnos da Wermacht, Berlim, Paris e Londres bombardeadas por seus vizinhos, numa matança sem trégua. Estragos, destruições, mortes dos dois lados. Acaba a guerra e as pessoas precisam continuar vivendo sem se matarem entre si.
Inimigos de ontem, sentam-se à mesa em reuniões e jantares. Há necessidade de construir a união, sem as acusações que seriam normais, do tipo “seu pai matou meu tio” ou “seu avô bombardeou nossa casa e quase todos morreram”. A política diplomática teve de passar por cima de tudo isso em nome de um bem maior: Enterrar de uma vez os ódios. Por isso que a política não é para qualquer um. O político não é dono de seu mandato. O dono dele é o povo que o elegeu e, com a mesma sabedoria poderá apeá-lo de lá. Quem não é capaz de entender isso é melhor que fique de fora. Sempre lembrando que falamos dos políticos preocupados com a nação.
Assuntos velhos e resolvidos não deveriam voltar às mesas de negociações, com o risco de prejudicar o futuro. É melhor para todos. Assentada a poeira das eleições, os golpes abaixo da linha da cintura durante a campanha política devem ser esquecidos. Servem apenas para mostrar a personalidade de quem os aplica. O resultado das urnas, uma vez definido deve ser respeitado por vencidos e vencedores. Da mesma forma como não se tripudia sobre o cadáver de quem morreu no cumprimento de seu dever pátrio, não se deve minimizar o trabalho dos derrotados nas urnas, porque tiveram seu papel importante na construção da democracia. O revanchismo praticado por um governante contra um cidadão, comparável a um adulto que pratica violência contra uma criança.
A seleção pelo voto é impiedosa até para vencedores. Os bem intencionados nem comemoram porque sabem que o trabalho vai exigir muito. Até porque o tempo é curto e a data do novo julgamento já está marcada.