Não é de hoje que as fake News proliferam no ambiente político – e não político – brasileiro. Na realidade, espalhar boatos não comprovados, de modo culposo ou doloso, é uma prática social antiga no Brasil e no mundo. A imagem de uma pessoa fofoqueira inescrupulosa me vem à mente como símbolo da falta de cuidado ao relatar versões de notícias não comprovadas, muitas que podem causar prejuízos a pessoas inocentes, vítimas das mentiras.
Penso que se já é errado expor notícias verídicas que envolvam a intimidade de outras pessoas, muito pior é quando se dissemina mentiras ou insinuações sem a devida comprovação. Os danos à reputação de alguém muitas vezes é irreparável. Mesmo que em alguns casos possa ocorrer o reconhecimento e ressarcimento por dano moral, por meio de um processo que costuma ser complicado e moroso, o fato é que comumente não se consegue alcançar mais todos aqueles que tomaram ciência da mentira inicial.
Pois bem. Reitero que a prática de propagar notícias falsas esteve presente no nosso universo cultural desde a chegada dos primeiros portugueses ao Brasil e se manteve ao longo da nossa história. Mas ressalto que a capacidade de reprodução dessas mentiras, a maioria maliciosa, se ampliou enormemente com as redes sociais. Eu mesmo já fui vítima disso, sem conseguir me defender à altura de calúnias e notícias distorcidas, com grande dificuldade de desmenti-las, principalmente as que foram espalhadas no WhatsApp, mas também em outras redes sociais.
Há o famoso ditado de que “mentira tem perna curta”. Isso pode até ser verdade num ambiente familiar ou num círculo social restrito, mas nas redes sociais, as mentiras costumam ter “pernas longas” e correm mundo afora com uma velocidade impressionante. Nesse sentido, é cabível lembrar que um dos mais “eficazes” disseminadores de mentiras no campo político foi Joseph Goebells, um notório assecla de Adolf Hitler, na época do nazismo na Alemanha. Ele afirmava com a propriedade de um “gênio do mal”, que “uma mentira contada muitas vezes, se tornaria uma verdade”. Esta foi uma tática do nazismo para convencer grande parte dos alemães que os judeus e os socialistas eram os principais responsáveis pelos problemas da Alemanha e que Hitler seria o único líder político capaz de conduzi-la para um futuro de gloriosas conquistas… Com muito sofrimento de gente inocente, essas e outras mentiras do nazismo, como do fascismo também, foram derrotadas na II Guerra Mundial, com o maior morticínio da História da Humanidade. No comunismo stalinista as mentiras “oficiais” também causaram grandes sofrimentos. Acrescente-se que em qualquer regime político, a mentira pode “alimentar” o culto à personalidade, visando transformar em mitos líderes que não passam de seres humanos, com defeitos e limitações. E muitas vezes inescrupulosos.
Eu me impressiono como há pessoas aparentemente de boa índole que acreditam em qualquer notícia que corrobore suas convicções, sem se dar ao trabalho de conferir se são verdadeiras ou não. Minha decepção aumenta quando disseminam as mentiras, visando com elas tentar convencer outras pessoas de suas próprias ideias políticas, religiosas ou filosóficas. Não percebem que são manipuladas por “cérebros do mal” e ainda auxiliam nessa “manipulação” … Para mim, trata-se de um retrocesso ético perigosíssimo, que acaba propiciando “narrativas” de um mundo paralelo, onde parece valer tudo, menos a verdade dos fatos.
Por essas e outras tenho dito que o maior problema brasileiro é de ordem ética, acima mesmo das questões ideológicas. Uma mentira pode servir aos interesses imediatos de segmentos da direita, da esquerda, do centro e até apolíticos. Mas sempre será uma mentira. Sempre irá de encontro ao que aprendemos desde tenra idade, “que mentir é feio”, mentir é errado.
Sou a favor da ampla liberdade de expressão, nos limites da responsabilidade. Produzir e/ou disseminar fake News é absurdamente antiético e maldoso. Nenhuma prática política, religiosa, filosófica, cultural se justificará moralmente pelo uso da mentira. Em português claro, trata-se de safadeza, enganar os outros. E de uma burrice, enganar a si próprio.
Aprendi que ninguém é dono da verdade. Mas aqueles que se julgam os “donos” das falsas verdades, fazem muito mal aos seus semelhantes. Por isso conclamo a todos que me escutam: vamos evitar propagar notícias que não sabemos ser verdadeiras. Não se permitir agir com maledicência. Evitar que sejamos “condutores do mal”.