14 de setembro de 2024

“Opiniões, convicções e princípios”


    Observo nos tempos atuais uma confusão acentuada entre os significados de opinião, convicção e princípio, como se fossem a mesma coisa. Mas não são.
Essa confusão pode se expressar na maneira agressiva e intolerante de algumas pessoas manifestarem e defenderem  as próprias opiniões como se fossem convicções… Pior ainda, como se fossem princípios e valores éticos.
   Acredito que haja uma gradação evolutiva entre uma opinião formada sobre determinado assunto e esta opinião se tornar uma convicção. Diz-se popularmente – e eu concordo – que opinião todos podemos mudar. Mas há que se sinta “proibido” de mudar de opinião e até de convicção, como a mudança representasse uma traição a si próprio . Penso que aí começa o perigo do fanatismo. Porque opiniões e convicções imutáveis representam uma visão de mundo   igualmente imutável. Isso pode redundar numa séria distorção do senso de realidade de quem se apega excessivamente às suas convicções, como se fossem pressupostos de verdade absoluta, que se imporiam a tudo e a todos como uma expressão moral – o que não é.
    Ao longo da História temos muitos exemplos trágicos de convicções aparentemente bem-intencionadas e depois servem de justificação ideológica para atos injustos e infames. Os defensores de regimes autoritários podem até acreditar que estão defendendo ideais superiores para o bem coletivo de uma comunidade ou de uma nação. Mas se esquecem que ditaduras suprimem a liberdade de expressão – e de ação – e as convicções que irão prevalecer serão as dos governantes, que tendem a mudar de ideia de acordo com suas próprias conveniências para se manter no poder . Ou seja, se houver uma injustiça grave contra qualquer pessoa, inclusive os que apoiaram a ascensão do autoritarismo – as “convicções” dos governantes tendem a predominar sobre a própria justiça . É o que ocorre em ditaduras de direita ou de esquerda. Aliás,  em qualquer tipo de ditadura.
   Podemos nos lembrar do triste exemplo do nazifascismo, que tornou convicções coletivas na Alemanha e outros países do Eixo, num instrumento de um terrível genocídio de milhões de judeus e de outras pessoas rejeitadas pelo regime . Algo similar ocorreu durante o stalinismo soviético … A perseguição aos dissidentes do regime comunista então vigente foi cruel … O próprio Leon Trotsky, o segundo maior líder da Revolução Bolchevique Russa, ao lado de Vladimir Lênin, foi perseguido, expulso do país e assassinado no México, onde havia buscado asilo.
    Ser convicto de algo não é necessariamente algo ruim. Mas colocar as próprias convicções como dogmas absolutos, acima da realidade dos fatos, é uma receita certa para o desastre.
    Por que não podemos mudar de convicções, se elas se tornam irreais, intolerantes ou meramente estúpidas? E basta se perguntar se seriam convicções  razoáveis: a) culpar os judeus por todos os males do mundo; b) defender a inferioridade dos negros ou dos indígenas por critérios raciais; c) a tortura de pessoas inocentes; d) a crença de que  o sol gira em torno da Terra e que esta seja plana e não redonda; e) Hittler como um grande líder benfeitor da Humanidade? Estes são exemplos de convicções do passado que felizmente não prevalecem mais nos dias atuais, mas impulsionaram graves erros e enormes sofrimentos.

   Ao longo de décadas de vida fui aprendendo que os princípios e os valores são mais importantes do que as convicções, por mais bem intencionadas que estas sejam. Para mim, os princípios éticos do respeito, da verdade, da honestidade e, principalmente do amor, são superiores à qualquer convicção ideológica. Não me envergonho de ter mudado de certas convicções políticas, evitando que ideologia seja o balizamento de minha existência. Afirmar-se de “direita”, de “centro” ou de “esquerda” não me parece o principal. Ser verdadeiro e ter honestidade de propósitos, sim! E também ser humilde para reconhecer os próprios erros e buscar corrigi-los, antes de julgar os outros. 

      Não se trata de algo fácil, ainda mais num mundo tão conturbado por opiniões e convicções eivadas de intolerância e de ignorância. Mas colocar os princípios éticos como principais balizadores das atitudes individuais, sociais, religiosas e políticas, pode salvar a Humanidade de muitas maldades e injustiças.

Luiz Castro

Advogado, professor e consultor

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