Augusto Cesar Barreto Rocha (*)
De acordo com um texto de Rebecca Lindsey, publicado pelo NOAA, uma instituição ligada ao governo dos EUA, revelou que a pior seca da Amazônia (em 2023) teve mais relação com o aquecimento global do que com o El Niño. Este achado, ainda em revisão por pares, levanta a questão: como lidar com isto, considerando que 2024 está mais quente do que 2023? Afinal, a seca afetou severamente a indústria, o comércio e o interior em todas as dimensões, uma vez que somos muito dependentes dos rios.
Ao governo do Estado caberá a elaboração de um plano para lidar com a situação e ao governo federal, há uma dimensão muito relevante para os atores econômicos: como garantir a circulação de navios de grande porte durante a seca? Como transformar a “hidrovia” em uma hidrovia? Qual o calado que será garantido nas regiões mais críticas? Quais as ações de obras que serão tomadas e em até que proporção de seca elas serão efetivas? A pergunta não tem resposta trivial, pois no ano passado achava-se que seria a dragagem e o que realmente resolveu foi a chuva.
Como podemos entender a complexidade da Amazônia se olhamos para os problemas de longe? O que precisamos é abordá-los com ciência e pesquisa primária, na própria região. A solução de dragagem que foi feita, se for repetida, provavelmente terá o mesmo resultado de um aparente desperdício de recursos, pois não cumpriu o que propôs e a hidrovia ficou fechada para os grandes navios por cerca de dois meses.
Ao governo Federal é que cabe a principal responsabilidade sobre o desafio, pois é papel institucional dele tratar as hidrovias, em especial nos casos de conexões interestaduais e internacionais, como é o caso da “hidrovia” do Amazonas. É esperado que um plano esteja em elaboração para ser iniciado em breve, com ações preventivas e corretivas para lidar com o assunto, em especial nas regiões mais críticas.
Aos prefeitos da capital e, principalmente, do interior será necessário um conjunto de ações junto aos demais entes federativos, considerando o cenário do ano passado. Cada aprendizado decorrente dos problemas que houve, precisará ser utilizado. Há uma grande probabilidade de repetirmos a crise de transportes. É necessário que exista uma construção política no sentido de elaborar um Plano Amazonense para Logística e Transportes (PALT) – na dimensão federal –, para começarmos a corrigir nossa deficiência histórica.
Mais do que crise e emergências, precisamos de ações planejadas. Tanto um plano para correção dos problemas de ausência de infraestrutura, quanto um plano para as emergências decorrentes das secas e das cheias extremas. O Amazonas funciona ao sabor das águas e, efetivamente, não temos controle nem capacidade de prever muitas coisas. Todavia, há muito de informações que precisam ser usadas para ações mais estruturadas, para não contratarmos obras e intervenções que depois se mostram inúteis.
Enquanto não houver um PALT, com escala de prioridades e cronogramas, seguiremos reagindo de susto em susto e desperdiçando recursos. É necessário mudar o curso da história, para que a Amazônia não seja destruída. É fundamental uma integração logística sustentável e perene, com condições mínimas de conexão com todas as áreas povoadas e os centros de monitoramento e proteção. Enquanto não existirem estas condições, seguiremos em uma existência não cidadã.
(*) Professor da UFAM.