O setor de transporte é responsável por uma parcela das emissões globais de CO2, impulsionando a busca por alternativas sustentáveis. Nesse cenário, o hidrogênio emerge como uma solução promissora para descarbonizar o setor e impulsionar a transição energética. Então embarque na nova série de artigos para conhecer as estatísticas, empresas e alguns veículos pioneiros movidos a hidrogênio que estão moldando o futuro da mobilidade.
Na COP24 ocorrida em 2018, um extenso relatório < https://tinyurl.com/5yycr78h> deixou os participantes atônitos com revelações sobre o impacto ambiental do setor de transporte em nível mundial. Essa análise foi conduzida por 40 organizações especializadas em transporte limpo e baixo carbono. O documento é fruto da compilação de dados oficiais de 40 países, incluindo o Brasil, o qual trouxe à tona estatísticas como as listadas abaixo:
1o) Os transportes são a terceira maior fonte de emissões de CO2 depois do setor energético e de outras combustões industriais; 2o) as emissões diretas de CO2 vindas do setor de transportes aumentaram 29% (de 5,8 Gt para 7,5 gigatoneladas (Gt)) entre 2000 e 2016, momento em que os transportes produziram cerca de 23% das emissões globais de CO2 relacionadas com a energia, e (em 2014) 14% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE); 3o) dos 14% das emissões globais de GEE, 45% vêm de veículos leves, 21% de caminhões, 11% da aviação, 11% de transporte marítimo, seguido por 5% de ônibus e micro-ônibus, 4% de veículos de duas ou três rodas e 3% de transporte ferroviário.
Além de expor números preocupantes, o relatório é propositivo. Por exemplo, ele apresenta uma abordagem chamada “Evitar-Mudar-Melhorar” (E-M-M), com recomendações para governos, legisladores e empresários repensarem o setor de transporte de forma sustentável e transformadora: 1) Evitar e reduzir a necessidade de viagem motorizada o que pode ser feito a partir do gerenciamento da demanda dos transportes; 2) Mudar para modos de transportes mais amigáveis ao meio ambiente. Aqui o foco está concentrado em transporte público urbano, em ferrovias, incentivo ao ciclismo e a caminhada, bem como desenvolvimento de novos serviços de mobilidades tais como compartilhamento de veículos, micro mobilidade elétrica etc.; 3) Melhorar a eficiência energética dos transportes modais por meio de veículos de combustível econômico, mobilidade elétrica e energia renovável.
O mais interessante é que ao longo do tempo, este relatório tem sido atualizado e até ampliado, sua terceira edição conta com 470 páginas, mais parceiros e experts. Neste site <https://tcc-gsr.com/> o(a) leitor(a) tem acesso ao documento e a uma plataforma digital riquíssima de informações sobre vários países, incluindo o Brasil.
Este e outros artigos abordarão sobre veículos considerados pioneiros em usar hidrogênio e que já estão disponíveis no mercado, ou em fase de teste. A ordem segue as categorias de veículos em que o uso de energia fóssil resulta em maiores emissões, sendo que neste artigo o foco será sobre dois casos pioneiros de veículos leves.
O primeiro escolhido é o Toyota Mirai, um dos pioneiros entre os carros movidos a célula de combustível de hidrogênio, lançado em 2014 e com produção em escala industrial.
Após aprimoramentos, o Toyota Mirai 2021 superou seu próprio recorde anterior (1.003 km) e entrou para o Guinness Book ao percorrer 1.360 km com apenas uma carga de 5,65 kg de H2 <https://tinyurl.com/nhentyuk>.
Esse feito ocorreu em agosto de 2021 na Califórnia, Estado usado como laboratório vivo para testar esses tipos de veículos, valendo lembrar que no final de 2023, havia 97 estações projetadas na região, das quais 55 estavam abertas para o público <https://tinyurl.com/4jryjd8u>.
Sobre o Mirai, sua nova versão é o Mirai XLE 2024 <https://www.toyota.com/mirai/>, uma maravilha de carro que capta ar pela frente e emite apenas vapor de água limpo para o ambiente, sendo um purificador de ar silencioso sobre 4 rodas.
Apesar da Toyota ter vendido apenas 22.000 Mirais até o ano passado, a empresa demonstra resiliência e determinação para expandir a produção e as vendas de veículos movidos a células de combustível de hidrogênio. De janeiro a setembro de 2023, a empresa registrou um aumento de 166% nas vendas globais desses veículos, em comparação com o período anterior. Nestes documentos <https://link.lens.org/mAaF8A2Z35b e https://tinyurl.com/n7chf278>, o leitor tem acesso exclusivo a sete artigos científicos sobre o Mirai, bem como as estatísticas sobre as vendas e a produção de veículos elétricos da Toyota entre 2011 e 2023.
O segundo carro selecionado é o Nexo, lançado pela Hyundai em 2018, sendo o primeiro automóvel movido a célula de combustível a hidrogênio produzido na Coreia do Sul. Este veículo <https://tinyurl.com/yc5b375r> pode percorrer cerca de 666 quilômetros com uma única carga de hidrogênio. Ao reabastecer em um posto adequado, o processo de recarga pode levar 5 minutos para ser concluído. E para quem gosta de ciência, neste link < https://link.lens.org/8qBbVjhLsbi> há cinco artigos científicos sobre este veículo.
O fato é que desde 2018 até meados do primeiro semestre de 2023, a Hyundai vendeu cerca de 31995 unidades do Nexo no seu mercado doméstico <https://tinyurl.com/y4tds83p> e um release recém publicado pela SNE Research <https://tinyurl.com/2rzzh5ta> relevou algumas estatísticas sobre as vendas desses carros no mercado global, classificadas por empresas e países. E abaixo há um resumo de um trecho deste documento, pois revela os desafios que estes tipos de carros estão enfrentando nos mercados.
“O mercado global de Veículos Elétricos a Célula de Combustível (FCEV) cresceu desde o lançamento do NEXO pela Hyundai em 2018, ultrapassando 20.000 unidades vendidas anualmente. Porém, em 2023 houve uma desaceleração de 30,2% nesse mercado. A principal causa foi a queda drástica nas vendas de FCEVs na Coreia do Sul, antes líder desse segmento. O modelo NEXO teve apenas dois relançamentos desde 2018, limitando opções. Além disso, os altos custos com hidrogênio, incidentes e escassez de infraestrutura de recarga fizeram os FCEVs perderem espaço no mercado de veículos ecológicos. Em contrapartida, a China acelerou a comercialização da energia de hidrogênio, expandindo ativamente a distribuição de carros a hidrogênio e a infraestrutura necessária por meio de sua estratégia para o setor até 2035. A China ampliou rapidamente sua parcela no mercado de FCEV, aproveitando seu mercado de veículos comerciais a hidrogênio.”
Recentemente, grandes empresas como GM, Toyota, Hyundai e a chinesa BYD anunciaram bilhões em investimentos no Brasil para os próximos anos, visando o promissor mercado de veículos elétricos e movidos a hidrogênio. Entretanto, apesar do setor de transporte no Brasil ser o maior emissor de CO2 (38%), o país ainda está muito atrasado em políticas públicas, incentivos governamentais, pesquisa e inovação para gerar soluções de mobilidade sustentável. A esperança é que o agressivo ingresso desses gigantes automobilísticos, especialmente dos players asiáticos, pressione a elite política e empresarial brasileira a repensar profundamente o obsoleto sistema de transportes nacional. Afinal, nas grandes cidades, a população sofre diariamente com os graves problemas de poluição atmosférica e sonora gerados pelos veículos leves e pesados movidos a combustíveis fósseis.