16 de setembro de 2024

Os meninos da radioterapia

A princípio não compreendemos certas coisas. O câncer chegou de  manso, e foi uma surpresa para quem sempre se achou muito bem em sua  forma física e que ficava muito orgulhoso quando os comentários da minha  idade era sempre menos e quando alguém ficava surpreso de minha aparência  saudável, mas depois de uma ressonância paramétrica e a confirmação da  biopsia o câncer era real. Laços de morte me envolveram fiquei triste e muito  preocupado e até com medo. Mas lembrei de que o Senhor Deus nunca me  abandonou em nenhum momento e não era nesse tão delicado e perigoso que  Ele me deixaria só. Katie e Ana ficaram chorosas, preocupadas, as chamei no  quarto e disse que não era motivo de tristeza, mas de confiar naquele que tudo  pode. 

Meu médico depois de analisar meus exames me encaminhou para  fazer radioterapia em um hospital muito conceituado em Oncologia, nos  primeiros momentos havia dentro do meu coração a ideia que o ambiente  hospitalar é pesado e cheio de dificuldades, mas para minha surpresa, recebi  atenção, carinho e respeito de uma equipe composta de atendentes,  radiologistas, enfermeiras e médicos comprometidos como o que fazerem, isto  acalentou meu coração. 

Foram receitadas 20 sessões de radioterapia é aqui é que começa tudo.  Nos primeiros dias passei a observar que muitas pessoas pareciam tristes e  distantes, então senti uma necessidade de conversar foi ai que conheci Zé  Luiz, nascido em Tianguá, Ceará, pastor, homem de 70 anos homem muito  alegre e dona Maria Rita uma auxiliadora exemplar, Zé Luiz chegou muito novo  em Manaus onde passou por muitas dificuldades, trabalhou até de engraxate,  hoje um servo de Deus comprometido com o que faz e logo apareceu entrando na roda de conversa Luiz Gonzaga, paraibano de 89 anos que se apaixonou  por sua cabocla de Alenquer que conviveu 45 anos, homem forte, ficou  independente muito cedo, sobreviveu a queda de um avião, montou em  cavalos brabos, hoje um comerciante nato. A conversa tomou grandes  proporções e começamos a contar nossas experiências de vida, iniciando uma grande amizade que se tornou coesa e forte que por meio das gargalhadas de  satisfação, foram acrescentando outros meninos, como Deodato o mais criança  de 50 anos, natural de Salvador, profissional de área de beleza, amante das  tatuagens e brincos, pontual e sempre muito apressado, chega também o  Celso de 73 anos paranaense, tenente coronel aposentado do Exército, onde  passou a maior parte de seu tempo com a responsabilidade de manter a  qualidade dos produtos que eram enviados aos quarteis, hoje tem negócios na  área da Veterinária, e nesses últimos momentos, foram agregados mais três meninos um de 73 anos seu Raimundo, natural de Quixadá, soldador  aposentado e sempre acompanhado de perto pelo seu filho pastor Marcelo e  sua esposa, o Marcos de 51 anos, maranhense, administrador de farmácias  também sempre acompanhado de sua esposa e o seu José Assunção, homem  calmo, calado, maranhense sempre acompanhado pela sua esposa e a sua  filha.  

Nos encontramos por causa do câncer, mas creio que o Senhor Deus,  que tem no controle todas as coisas nos fez convergir no hospital para  aprendermos a lidar com as nossas debilidades, nossas feridas internas e com  a nossa fé que às vezes está adormecida em nossas tribulações. O Senhor nos  uniu e nos fez um, na esperança de um dia melhor, uma vida melhor depois de  tudo isso. Não sei o que vai acontecer depois em minha vida, mas tenho  certeza que os meninos da radioterapia não mais serão os mesmos, pois, Deus  nos proporcionou tantas coisas que vão além da nossa condição social, da  nossa crença, da nossa regionalidade, Ele nos fez ver que podemos contar  com Ele. 

Deixo aqui em nome dos meninos da radioterapia nossos  agradecimentos, primeiramente a Deus, aos Servidores do Setor de Oncologia,  que nos deram carinho, atenção e respeito com esse jeito especial de tratar  cada um de nós e todos nossos familiares que acompanharam o nosso tratamento. 

Meninos, grandes homens, o meu abraço fraterno aprendi amar vocês e  me coloco a disposição de fazer perdurar essa nossa união que mexeu com os meus sentimentos mais nobres de minha alma. Que Deus continue nos  abençoando ricamente. 

Dedico a minha esposa Katie Ane e a minha filha Ana Maria, que são  incansáveis em cuidar de mim, no tempo e fora do tempo, respeitando esse  momento tão difícil de minha vida. Amo vocês. 

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.

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