Os testes e retestes de conceitos são considerados uma das etapas das pesquisas de marketing. De fato, é através dos seus resultados que o chamado marketing mix ou 4Ps é colocado em prática. O primeiro P é de produto, que significa saber com exatidão o que o público-alvo deseja, quais são as características do produto, que benefícios ele precisa entregar, quais são os seus componentes, quais são as funcionalidades requeridas e assim por diante. Como será visto mais adiante, os outros os (preço, praça e promoção) são desdobramentos desse primeiro P, mas que precisam ser testados futuramente, ao longo do processo de transformação do protótipo em tecnologia ou produto final. O que deve ser compreendido pelas equipes desenvolvedoras de artefatos tecnológicos é que esses testes e retestes de conceitos têm como meta primeira garantir a viabilidade da tecnologia e sua aceitação por parte de seus públicos sem que ela esteja, de fato, materializada. Dito de outra forma, o teste do conceito é uma pesquisa sobre uma ideia. Quais são os testes, portanto, que precisam ser executados para que a viabilidade e aceitação sejam garantidas? Como é recomendado que eles sejam feitos? O que precisa ser levado em consideração? Vejamos.
Os testes e retestes de conceitos podem ser feitos de forma monádica ou monádica sequencial. Os testes monádicos são avaliações de um conceito por vez, o que pode demandar muito tempo para a validação ou rejeição do conceito, assim como elevar sobremaneira os custos. Os testes monádicos sequenciais avaliam vários conceitos, um a um, um depois do outro, o que reduz muito o custo da pesquisa, com a vantagem de testes de várias ideias. Naturalmente que vários fatores interferem na forma de avaliação, como as especificidades da tecnologia, sua complexidade ou simplicidade, dispersão do público e acesso a ele, recursos de pesquisas disponíveis e assim por diante. Alguns fatores precisam ser testados, como o impacto do conceito, a quantidade e qualidade dos atributos, a intenção de compra, os preços prováveis e o tempo e periodicidade de demanda, dentre outros.
Mas no que consiste os testes e retestes de conceitos? Naturalmente que um dos primeiros é o próprio conceito, a própria ideia. Pode ser feito através de imagens, desenhos, fotografias, equações, maquetes, enfim, alguma representação diagramática que os avaliadores possam emitir suas opiniões sobre aquilo que lhes for inquirido sobre a apresentação do conceito. Também precisam ser avaliadas as reações globais e específicas dos públicos-alvos sobre os conceitos. As globais são o grau de aceitação, nível de atração e disposição para a compra; os específicos são muito variados, mas devem constar a probabilidade de o conceito ser adquirido, a quantidade de demanda por período e os intervalos de preços, além, e isso é fundamental, da identificação de todas as melhorias que o conceito deve sofrer para que possa passar para a fase de prototipagem.
Outra série de testes envolve o detalhamento do conceito em relação com outras tecnologias similares ou concorrentes. Aqui entram variáveis como aceitação e não aceitação, avaliação de todos os atributos do conceito e das tecnologias concorrentes e similares, tecnologias e produtos que possam complementar o conceito e até mesmo substituí-lo em partes ou no todo e análise comparativa baseada em dimensões e categorias analíticas do conceito e dos seus principais concorrentes.
Outro leque de testes e retestes do conceito diz respeito às situações de uso. Aqui devem ser avaliadas as situações para as quais a tecnologia está sendo direcionada e a identificação de outras possíveis utilidades. Devem ser especificadas as frequências de uso por lapso de tempo (horário, diário, semanal etc.), como são os casos de medicamentos ou dispositivos tecnológicos para aferição de pressão arterial, por exemplo. Das situações de uso devem ficar claras as possibilidades de ocorrências de produtos e tecnologias parecidas ou concorrentes existirem, com as quais o uso do conceito deve ser comparado.
A análise de valor e segmentação complementam os restes e retestes de conceitos. A análise de valor diz respeito a técnicas de pesquisas que permitem identificar e eliminar os custos desnecessários de uma tecnologia ou produto, com a finalidade de elevar a relação custo-benefício, enquanto a análise de segmentação é o esforço de se identificar grupos de consumidores e clientes dentro de um determinado público-alvo. Por exemplo, uma tecnologia para o público jovem pode ter os usuários de óculos como um segmento e os jogadores de xadrez como outro. Isso é vital para os outros testes a que o futuro protótipo terá que se submeter, mas que fazem parte do conceito. Afinal, um protótipo é um conceito que passou no teste e reteste.
Os testes e retestes de conceitos precisam superar algumas barreiras naturais a toda tecnologia e produtos. A primeira é que o conceito precisa apresentar uma inovação real, que possa ser vista e apreciada; por isso precisa ser notada, que é a segunda barreira. A terceira é a fundamentalidade da ideia ser clara e precisa, para que possa ser aferida. Se chamar a atenção, passa para a quarta, que é a demonstração de qual necessidade o conceito vai suprir, que seja o melhor suprimento (quinta) e que a equipe de criação seja confiável (sexta). Os pontos negativos precisam ser aceitáveis (sétima), que seja fácil de achar (oitava) a um preço razoável (nona). Complementam as barreiras a garantia do benefício prometido (décima) e por longo prazo (décima primeira).
Como se pode ver, os testes e retestes de conceitos são o primeiro e decisivo passo para a decisão se ele vai ou não passar para a etapa seguinte, que é a prototipagem. E eles não consistem em levantamentos simples e rápidos, como a mente da maioria da população imagina. Esses testes devem ter o mesmo grau de acurácia e precisão que têm as pesquisas científicas. Afinal, como mostra o método científico-tecnológico, uma tecnologia é conhecimento válido encapsulado.
