Por Juarez Baldoino da Costa(*)
“À tua volta queimam pulmões respirando a fumaça do teu fogo que te queima por dentro e por fora, tua pele verde e as tuas entranhas vivas, secando as seivas dos teus caules.
O fogo te consome porque, para alguns, tu és um mero monte de mato e bichos que pouco servem, e por isso te ateiam. E és mesmo um monte de mato e bichos, mesmo que até com gente dentro.
Teus ecologistas sonhadores, teus ambientalistas inocentes, teus preservacionistas iludidos e teus conservadores ultrapassados, todos eles, meio poetas, não te querem bem nem te querem crescida, nem culta e nem desenvolvida.
Não te querem eles urbanizada, integrada, com um grande PIB e com o teu habitante civilizado e rico, como são os de Nova Iorque, São Paulo ou Paris.
Te querem quieta, verdejante, emblemática, perdida nos séculos e intocada.
Te querem eles apenas para as coisicas simples e triviais, como limpar o ar do teu povo, filtrar a água e prover a chuva e a maniva, curar as chagas e criar os peixes, calada e incompreendida, inerte e silenciosa. Alguns deles são cientistas, que de ti pouco sabem, a não ser apenas te estudar. Pensam eles, estes meio poetas, até nas futuras gerações. Que absurdo! Pensam em décadas e séculos à frente como se fossem estadistas. Poetas estadistas? Melhor que continues não os ouvindo, e sigas queimando pelos outros, mais espertos.
Os espertos são os que te atiçam as labaredas, que sabem que tu só serves para o comum e para o futuro deles. Sabem que és muita, e que, de tão farta que és, não acabarás no tempo deles. Só eles, os espertos, sabem o que te serve. São rápidos. Conseguem pensar no próximo mês e alguns até no próximo ano. Eles não são cientistas e talvez nem poetas. Continues a escutá-los e sigas te queimando por eles.
Sabem eles, espertos, que a hora é esta, que a madeira é um bom fruto, que o teu ouro é precioso, que teu pasto engorda e que tua terra viceja.
São eles que te esquartejam de estradas para que te tornes adulta, penetrada e fértil, para que os torne senhores com heranças mil, espertos que são.
Às futuras gerações, oferecem o presente – deles.
Pregam eles integrar-te, envolver-te na monocultura da terra, na monocultura da língua e na monoetnia, unificar tuas danças e te infra estruturar, para que possas cumprir o papel que te deram, de enriquecer aos que te buscam, como eles. Tua diversidade confusa é ainda uma fantasia e por isso um atrapalho, e deves ceder aos que te talham. Ouça os espertos.
Espalha, pois, tua riqueza transformada na fumaça democrática dos setembros e outubros, para que ela seja de todos, dos espertos e dos inocentes meio poetas, sem distinção. É só respirar. E que se entranhe nos pulmões de todos para que sejam todos ricos de tua essência, até o próprio fim.
Vai Amazônia! Queima e ruma ao teu destino fumaça, traçado pelos que te querem bem.
Bem morta!”
Manaus, setembro de 2015 – revisado e mantido nos setembros seguintes…
(*) Amazonólogo, MSc em Sociedade e Cultura da Amazônia – UFAM, Economista, Professor de Pós-Graduação e Consultor de empresas especializado em ZFM.