Já acharam o paraquedista que jogou sementes na floresta do Amazonas?

Em: 5 de abril de 2022

De novo, o Amazonas, Estado mais preservado do mundo, é notícia na mídia com ligação ao tema “desmatamento“. Isso é muito injusto com nossos caboclos, em especial nossos produtores rurais que acabam pagando a conta com a lentidão no licenciamento ambiental no Estado que tem 97% da floresta preservada. Acredito que deva ter uma grande articulação internacional para esse tipo de notícia que envolve o nosso Estado para estar constantemente na mídia. Nossa floresta está em pé, mas o homem que nela vive está pobre, com fome, subnutrido. O que impressiona é que nas imagens do salto de paraquedas é que só aparece o nosso verde, só aparece a floresta fechada, nosso rio, não vi nada desmatado. Já disse e repito, o mundo não foi, a Europa não foi, mas nós somos conscientes, responsáveis e vamos manter ela em pé, mas não aceito que quem a manteve em pé viva na pobreza, e que a geração de renda digna (falei digna) a essa população não seja a principal pauta nos debates. Tem que acabar com essa bolsa floresta de R$ 50, R$ 100. Isso é uma miséria para quem manteve a floresta em pé para o mundo respirar e ter água. Com esse programa, com esse valor, nós mesmos não estamos valorizando o ser humano que nela vive. O mundo tem que nos ajudar a pagar um valor digno, justo, compatível com a importância que ela representa. Quanto ganham os ambientalistas que só falam na floresta e esquecem o ser humano? Será que R$ 50 por mês, R$ 100 por mês? Isso é brincar com esse povo! Posso estar enganado, mas esse imoral valor proposto de bolsa floresta por “especialistas” aos últimos governadores nos últimos 15 anos é para mostrar ao mundo que precisamos de mais dinheiro para manter a floresta em pé. Em síntese, captar mais recursos internacionais. Ninguém vê isso? Se eu fosse governador jamais remuneraria a pessoa, no caso o nosso caboclo, que presta relevantes serviços para a saúde do planeta com apenas R$ 100 por mês. Começou lá atrás com 50, agora passou pra 100. Tá na cara que esse valor é estratégico para captar mais recursos que não chegaram e não vão chegar até o nosso caboclo. O IBGE comprovou que Wilson Lima recebeu o governo com metade do Estado na pobreza. E vai continuar se não mudar essa estratégia. Apoio financeiro internacional tem que ir direto para o CPF do caboclo, sem intermediário, como é o bolsa família, garantia safra, PAA estadual/municipal, entre outros.

Luciano Hulk, ou sua assessoria, escolheram o Estado mais preservado do mundo para fazer a matéria (97% da floresta em pé) com o paraquedista jogando sementes para reflorestar o Estado, como já disse e repito, Estado com 97% de sua floresta preservada. É o próprio secretário Estadual de Meio Ambiente do Amazonas que confirma esse percentual. Coincidência ou não, a matéria vem logo após o evento sobre “clima e desmatamento” que aconteceu em Manaus. 

Essa já é a terceira matéria que envolve negativamente nosso Estado em termos de desmatamento logo após o evento. Eu avisei que o Amazonas foi escolhido/articulado de forma estratégica e prejudicial para sediar o recente evento internacional. Acredito que quem orientou e convenceu o governador Wilson Lima tinha segundas intenções com esse encontro em Manaus.

Semana passada, no programa do Luciano Hulk, o paraquedista Luigi Cani lançou 100 milhões de sementes para reflorestar parte de Novo Aripuanã. Tem tanto lugar no Brasil infinitamente mais desmatado, mas escolheram o Estado com 97% da floresta em pé para lançar de paraquedas 100 milhões de sementes para “reflorestar”. Nossa Aleam não pode ficar calada. Nem a bancada federal. Quem deu a dica para ser aqui? Quem indicou o tipo de semente? Qual o custo da matéria? Qual a razão de ser Novo Aripuanã? Se teve custo, quem bancou? Não entendo o silêncio dos parlamentares eleitos por quem verdadeiramente defendeu a floresta e que está com fome, doente, foi vítima da Covid por questões nutricionais, sem acesso a política pública pela lentidão na regularização fundiária e licenciamento ambiental.

Tem um detalhe que já é velho conhecido nessas reportagens teatrais. A matéria não fala das pessoas que estão nessa floresta em pé passando por todas adversidades, nem os Pronafs agroecológicos chegam até eles, muito menos o crédito de carbono, o REDD+ e os ganhos da concessão florestal. Cadê a Aleam? Cadê a bancada federal? Aplicar em consultorias e eventos só beneficia pouquíssimos, incluindo a liderança da comunidade que, quando há os encontros, pode conhecer o shopping de Manaus. E os demais membros da comunidade? Com R$ 50 e R$ 100 não dá pra chegar em Manaus. Aliás, essas lideranças de comunidades precisam pensar no coletivo, nas pessoas que representam. Elas também querem tomar um cafezinho no Manauara ou Amazonas Shopping. Fazer um check up na saúde.

Luciano Hulk falou da importância de cada árvore ao mundo, responsável por água ao planeta, mas não disse que as pessoas que moram nela nem água tratada tem para beber, nem estão bem nutridos, fato que levou, como disse acima, a Covid-19 matar vários defensores da floresta por questões nutricionais, de imunidade baixa.

Sugiro ao Luciano Hulk que vá distribuir sementes onde tem mais desmatamento, como fez em 2019.

Sugiro ao Luciano Hulk, a quem tenho grande simpatia, que faça matéria sobre a BR-319 que continua isolando o Amazonas, dificultando ajuda aos amazonenses como aconteceu na pandemia e travando nossa economia. 

Os recursos financeiros utilizados no lançamento de sementes por paraquedas poderiam ter sido direcionados aos manejadores do pirarucu que não receberam a subvenção federal da PGPMBIO. Tá lá no site da Conab o nome e CPF de cada um deles. Esses manejadores defendem a floresta em pé, venderam o pirarucu abaixo do custo de produção. Era melhor pagar esses guerreiros do que lançar sementes onde tem floresta em pé. As imagens mostraram isso.

É só olhar as imagens da matéria para verificar a floresta, o verde, o rio, tudo intacto. A frase que usei no título é do amigo Maeda ao comentar a postagem que fiz no blog Thomaz Rural com este mesmo tema.

Não entendi a razão de ser no Amazonas, o mais preservado! Ou melhor, entendi!

Thomaz Meirelles

Servidor público federal aposentado, administrador, especialização na gestão da informação ao agronegócio. E-mail: [email protected]
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