O clamor das ruas visa a manutenção do respeito com o dinheiro público. Sempre é bom lembrar que já tivemos um governo que institucionalizou a corrupção. Infelizmente, boa parte dos brasileiros parece aprovar isso. O cinismo no tratamento da coisa pública sempre esteve presente na alta esfera dos governos. Lembro-me do Ministro do Trabalho do governo Collor que usou um avião da FAB para levar um cachorro para cruzamento em outro extremo do país. Foi demitido num governo que até então era o mais corrupto da história.
Cachorros costumam sujar as vias públicas como alguns políticos conspurcam a administração pública, sem o menor escrúpulo. Muitas vezes, roubam tanto que dá pra comprar a liberdade e acusar a vítima. Diferente destes corruptos, os cachorros podem ser adestrados para exercer certas tarefas, mormente as de vigia e proteção. Muitos criadores de ovelhas ensinam aos cães pastores a vigia-las e as trazerem de volta ao rebanho. Contudo, quando existe algum cachorro que desvirtua a função e mata ovelhas para comê-las ou para se divertir, este é sacrificado. Neste caso aplica-se a máxima de que “pau que nasce torto nunca se endireita”.
“Justificar” benesses e mordomias parece ser a coisa mais natural do mundo. Em 2007 Renan Calheiros “vendia” seus bois a um frigorífico por R$ 60.000 a unidade para justificar sua fortuna. Nem gado selecionado para reprodução atingia este preço. Não foi sacrificado nas urnas e hoje posa de defensor da moralidade. Porém, todos falam das mordomias dos políticos sem contudo tocar em outro ramo de poder que é altamente beneficiado pelo dinheiro público. Falo do Poder Judiciário que sequer precisa ser transparente para o eleitorado, porque seu poder não parece vir do povo. O Supremo deveria explicar porque cada ministro precisa de 210 auxiliares. Muito mais que os funcionários da maioria das empresas que geram riquezas para sustentá-los. Por que cobram fortunas para palestras para as quais são convidados exclusivamente porque têm o cargo de ministros? Políticos não costumam fazer isso.
No poder público há muitos cachorros pastores que devoram as ovelhas que deveriam proteger. Desculpem-me fazer estas comparações. Embora o número de pessoas que tratam com mais carinho os animais que as pessoas, um animal nunca deixa de ser um animal, mesmo parecendo humano, assim como muitos humanos não deixam de sê-lo porque se comportam como animais. Os animais doentes, fisicamente ou por comportamento, podem ser sacrificados, mesmo que haja defensores ferrenhos deles. Contudo, isso não é crime, mesmo em se tratando de animais de estimação. Claro que não falamos dos milhões que são abatidos todos os dias para servirem de alimentação.
Quando vemos a cara beatificada de ocupantes de cargos públicos, querendo atribuir a outros os seus erros e gritando contra a corrupção que eles mesmo praticam, não devemos esquecer do “pau que nasce torto…”. Talvez possamos atribuir o mesmo destino aos humanos que se dá ao cachorro, até porque, o cachorro nem sempre é morto, mas isolado em outro lugar. Para um político execrado pelo voto, o castigo é o mesmo que o do cão, separado de sua diversão favorita. O altar do sacrifício não é um lugar ermo onde o executor isolado detona o tiro que tira a vida do animal, mas a urna que por vontade do eleitor afasta o político da cena do crime. Não nos iludamos: mesmo que os membros do judiciário não sejam eleitos, os juízes honestos terão espaço para exercer pressão sobre os corruptos (sim, no judiciário também os há) para que estes não se sintam tão à vontade como atualmente para atropelar as leis. Os “paus tortos” precisam ser incinerados nas urnas.(Luiz Lauschner)