Enquanto o Brasil fervilhava com os protestos pela insatisfação do resultado das eleições, um grupo de pescadores resolveu não abandonar uma programação de meses anteriores e foi pescar longe das balbúrdias da cidade, no interior do município interiorano de Autazes. O grupo que seria de 18 pessoas teve a falta dos inscritos do Mato Grosso e Goiás, porque não se arriscaram a viajar até os aeroportos.
Cabe aqui um esclarecimento: os participantes do Amazonas não estavam exatamente “em casa” porque para chegar ao local de pesca tiveram de atravessar o rio Amazonas a partir do Porto Ceasa e depois pegar um ônibus por duas horas para chegar a outro porto, no Rio Madeirinha e seguir de lancha rápida, por hora e meia até a pousada Acará, na margem direita daquele rio, isolada de tudo. No dia seguinte cedo começaria a pescaria em si. Mais uma hora de lancha rápida subindo o mesmo rio, para chegar a uma faixa de terra que separa o rio dos lagos. Com mais 20 minutos de caminhada no meio da selva, chega-se a um micro porto onde ficam os botes de alumínio movidos por motores de rabeta. Claro que é necessário andar mais um pouco para achar um lugar onde provavelmente haja peixes. Cada bote é comandado por um piloteiro e leva dois pescadores.
A pesca ao tucunaré é feita no sistema de arremesso. Com muita habilidade as iscas artificiais eram arremessadas para o ponto em que se acreditava ter peixes. As iscas presas por uma linha a carretilha recebem o impulso da vara de pesca. A recolha dessa isca imita um pequeno peixe em movimento que visa atrair o voraz tucunaré. A aventura que começou no dia anterior atinge seu objetivo na pesca do primeiro peixe que se deixa iludir.
O prêmio para quem pescar o maior? Uma linda foto, histórias para contar detalhando o tipo de isca, vara e linha, além de pagar uma taxa extra ao piloteiro que conseguiu levá-lo a um bom pesqueiro. O bote de alumínio tem estrutura que permite aos dois pescadores ficarem em pé para arremessarem a linha com mais distância e precisão. O peixe depois de fotografado é medido e devolvido à água. Medido sim, porque não interessa ao pescador o peso dele, uma vez que não vai ser consumido. Na pesca esportiva, o peixe é o ator principal, o pescador é mero coadjuvante.
Quem são os pescadores? São profissionais liberais, empresários e executivos, aficionados da pesca que reservam um tempo, dinheiro para passarem por um desconforto grande para se dedicar ao seu hobby. Os mais experientes sabem tudo sobre comportamento do peixe, melhor clima, melhor nível de água e até pressão atmosférica favorável. Eles são amigos do peixe, não seus agressores. Por isso não jogam nada na água que não pertença a ela. Sua consciência ambiental é tamanha que conseguem ensinar pelo exemplo aos piloteiros e ao pessoal da pousada.
O equipamento de pesca não se consegue comprar de uma vez com um cartão de limite baixo. Varas, carretilhas, iscas e linhas para formar um conjunto de pesca, não ficam abaixo dos dez mil reais, se o pescador não sofisticar muito. Além do que existe o custo da pescaria, que no caso presente custou a partir de três mil reais por pessoa. Não estamos incluindo despesas de avião e hotel para quem veio de fora.
Aqui cabe uma reflexão: Não seria a hora de liberar reservas ambientais para a pesca esportiva? Esta sim seria uma isca tentadora para atrair grupos de pesca. (Luiz Lauschner)