17 de outubro de 2024

Política e Religião: são compatíveis?

Luís Lemos lança livro ‘Jesus e Ajuricaba na terra das Amazonas’

Atualmente fala-se muito em Deus, mas poucos são aqueles que praticam, verdadeiramente, o que Ele nos ensinou. Muitos, até, preferem seguir o que o “político” de estimação ensina, alegando que a Bíblica está desatualizada. Imagine você, prezado leitor e estimada leitora, que o atual presidente do Brasil disse que “Jesus não comprou pistola porque não tinha”. 

Quando os políticos fazem do púlpito da igreja palanque, eles estão colocando pessoas de uma outra lógica, no centro da atividade política. E como essas pessoas, geralmente, são “ligadas” ao sagrado, muitos “perdem” a conexão com a realidade, e aí são facilmente “manipuladas”. Infelizmente, muitos políticos, conhecedores dessa realidade, usam as igrejas para esconder suas verdadeiras intensões, disfarçados de “lobo em pele de cordeiro”.  

No Brasil, especialmente no período das eleições, políticos se aproximam de pastores, bispos, missionários, padres, entre outros, para tirar vantagens do prestígio desses líderes e ganhar votos. Muitos, ainda, usam a igreja para espalhar suas ideologias, para promover o ódio de classe, o preconceito religioso, e como isso acontece com muita frequência, muitos fieis começam até a desconfiar da Palavra de Deus. 

Essa perda de confiança é resultado de uma série de processos que misturam religião e política. Não estamos aqui falando que política e religião não podem se misturar. Elas podem caminhar juntas, pois ambas possuem objetivos, métodos e campos próprios de atuação. O que não pode é o político mal-intencionado usar o templo, as igrejas, os fiéis, como meio para fins que não são nobres, para interesses particulares. Toda forma de manipulação, de desrespeito, de atentado contra à vida, contra à democracia, contra à ética, contra à dignidade da pessoa humana, deve ser repudiada.

Embora essa relação, quase sempre tempestuosas, entre religião e política, seja defendida por inúmeros grupos influentes e de orientação liberal, jamais surgiram na história recente do Brasil formuladores de políticas públicas genuinamente interessados em pôr fim à essa situação. O que se verifica, na prática, é uma poção de “políticos” se valendo do púlpito das igrejas para se eleger, ganhar cargos administrativos; políticos pensando apenas em benefícios próprios, correlegionários, e irmãos de “fé”.

Dessa forma, política e religião estão sob a arena de uma batalha constante e mortal, travada contra todo tipo de alienação, e, na verdade, contra todos os políticos que pensam lucrar com a fé do outro. Quanto aos verdadeiros religiosos, homens e mulheres de fé, não importando a sua denominação religiosa, se são católicos, evangélicos, espiritas, judeus, budistas, do candomblé ou da umbanda, o importante é manter a fé, a esperança e continuar acreditando que a construção de um novo mundo passa pela união de todos.

Por isso, quando os cristãos brigam entre si, os políticos têm todos os motivos do mundo para esfregar as mãos de alegria. Isso porque só eles ganham, e será evitado definitivamente o “perigo” de os religiosos se unirem contra os responsáveis por essa cisão, como ocorreu no passado, sempre que o princípio “dividir para governar” foi efetivamente implementado. 

Hoje, infelizmente, há razões e regozijos, específicos de nossa época, que favorecem determinados “líderes religiosos”, condicionando o “caráter” do povo de Deus a determinados políticos e partidos, vendendo a sua fé, apenas para conseguir benefícios próprios. Por esse caminho, categoricamente, religião e política são incompatíveis!

Que possibilidades restam hoje para um diálogo (sincero, verdadeiro e profundo) entre religião e política? Não queremos ser pessimistas, mas com tantos casos de “políticos profissionais”, especialmente no Brasil, que usam as igrejas como palanque para esconder suas verdadeiras identidades, podemos dizer, assim, como Nietzsche (1844-1900): “A própria palavra “cristianismo” é um mal-entendido — no fundo só existiu um cristão, e ele morreu na cruz. O “Evangelho” morreu na cruz.” (O AntiCristo, p.62)

Por fim, e não menos importante, é impressionante observar como muitos políticos brasileiros, especialmente aqueles que se dizem “religiosos”, adoram usar o nome de Deus em vão, simplesmente para justificar seus erros, para lavar dinheiro, para esconder suas falcatruas, suas verdadeiras intensões. Que os políticos brasileiros parem de usar a boa-fé do povo e que os fiéis, “os eleitores mais fáceis de se conquistar”, saibam diferenciar o “joio do trigo”.

Luís Lemos

É filósofo, professor universitário e escritor, autor, entre outras obras, de "Filhos da Quarentena: A esperança de viver novamente", Editora Viseu, 2021.

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