7 de setembro de 2024

Políticas públicas voltadas a atletas paraolímpicos

Durante os dias 24 de agosto a 5 de setembro de 2021, pudemos acompanhar a jornada de nossos atletas paraolímpicos em busca do lugar mais alto do pódio. A edição 2020, que se cogitou o cancelamento por conta da pandemia, foi adiado para a segurança dos atletas e colaboradores. Ambientada em Tóquio, a força e a determinação de nossos heróis olímpicos trouxeram resultados positivos.

Com 72 medalhas conquistadas, sendo 22 de ouro, 20 de prata e 30 de bronze, a delegação brasileira finalizou a paraolimpíada em sétimo lugar. O país vibrou por cada vitória e encorajou os demais atletas que não ganharam a não desistir de seus sonhos, pois melhores oportunidades virão.

Ficamos felizes com o desempenho de nossos representantes quando assistimos aos jogos pela televisão, mas o que não sabemos é o que essas pessoas passam para se preparar para a disputa. No início dessa semana, a senadora Leila Barros (Cidadania-DF) solicitou uma sessão especial para homenagear esses atletas e também para cobrar aos demais profissionais, mais políticas públicas voltadas às pessoas com deficiências.

A importância social de cada paratleta que se colocou à disposição de disputar uma medalha chega a níveis que jamais conseguiremos imaginar. Imagina para uma criança, por exemplo, ver uma pessoa que também possui limitações consiga chegar ao mais alto topo do pódio. A sensação de reconhecimento é para poucos, mas com certeza, aumenta a confiança de quem se sente excluído da sociedade.

Durante a sessão no senado, a parlamentar Leila reforçou o sentimento de gratidão pelo esforço individual e em grupo dos atletas, que mesmo com a pandemia, treinaram cada um à sua maneira. ‘’ Nem esses desafios adicionais desestimularam ou diminuíram a garra e a vontade da nossa delegação. O resultado é que vocês nos emocionaram, fazendo ecoar em Tóquio o Hino Nacional, ou quando se abraçaram com a nossa linda bandeira para celebrar, como se esse abraço fosse em cada um de nós’’, destacou Barros.

Ainda que existam programas de apoio ao atleta, não é possível suprir totalmente a necessidade quem estará disputando. O Bolsa-Atleta, por exemplo, mesmo financiando 94% dos competidores que estavam em Tóquio, precisa de mais investimento financeiro para prestar o suporte essencial. No Amazonas, o Governo do Estado disponibilizou o através do Auxílio Estadual ao Esporte, uma bolsa para os esportistas que foram afetados pela pandemia. O valor não é capaz de dar assistência a todos os que precisam, mas já é um tipo de apoio. 

O incentivo deve vir de órgãos regulamentadores, já que são capazes de criar e destinar leis destinadas a essa parcela da sociedade. O presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Mizael Conrado também acredita que precisamos de mobilização não apenas quando o esporte está em evidência. ‘’O esporte amador, salvo raríssimas exceções, é financiado por recursos de origem pública. No Brasil, isso talvez seja ainda mais acentuado que na maioria dos países, pelo menos daqueles que integram o top dez do mundo. E o Parlamento brasileiro tem uma grande responsabilidade’’, pontuou Conrado.

Tendo 260 atletas (incluindo atletas sem deficiência como guias, calheiros, goleiros e timoneiro) na delegação, o time Brasil conseguiu um bom lugar no quadro de medalhas, mas poderíamos ter ido mais longe, sabemos disso. A falta de visibilidade da mídia também dificulta um pouco as coisas; tirando algumas exceções, quase não conhecemos quem está representando nosso país.

É a partir desse momento que sentimos que precisamos apoiar de forma concreta todos os atletas que disputam os jogos. Ninguém se prepara dias antes, o treino é diário e acontecem a anos. Se tivermos apoio através de políticas públicas, haveriam mais atletas prontos para a competição.

A mobilização pode começar de forma simples, desde um patrocínio ao atleta de sua cidade até o reconhecimento do poder público. É triste saber que ainda 75% dos municípios brasileiros não possuem políticas esportivas voltadas aos paratletas. José Agtônio Guedes Dantas, secretário nacional do Paradesporto do Ministério da Cidadania, complementa que é preciso mudar esse quadro para avançarmos na categoria. ‘’ Nós precisamos transferir essas responsabilidades, sensibilizar o gestor público, por meio de cursos de capacitação, para que eles possam estimular dentro da sua estrutura, a criação de projetos’’, afirma o secretário.

Aplausos são bons, mas precisamos de medidas concretas para continuar dando suporte a essas pessoas. Não é fácil, de forma alguma, treinar por horas e conseguir chegar ao primeiro lugar na primeira chance. Discussões como essa, que ocorreu no senado, nos levam a refletir o que pode ser feito a esses heróis que se doam de corpo e alma ao esporte, pois acreditam que possam fazer cada vez mais. Nossa forma de retribuir seria devolver o esforço de cada um através do incentivo público, por meio de leis que assegurem seus sonhos, rumo ao primeiro lugar.

André Zogahib

Presidente da Fundação Amazonprev Professor Dr. da Universidade do Estado do Amazonas

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