Por: Victor Salviati
Neste mês de abril é relembrada a história e a luta dos povos indígenas no Brasil. O dia 19 de abril tem o objetivo formal de celebrar a diversidade cultural e histórica dos povos originários. Atualmente, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem cerca de 1,6 milhão de pessoas indígenas de mais de 270 povos, com mais de 150 línguas e dialetos, cuidando de mais de 118 milhões de hectares de florestas. Somente na Amazônia são mais de 753 mil de pessoas indígenas, mais de 150 povos, cuidando de 115 milhões de hectares de floresta.
Apesar de algumas conquistas institucionais, simbólicas e avanços políticos, esta data está longe de ser comemorativa. Demorou-se 135 anos da República, e 35 anos da redemocratização, para incluirmos parlamentares indígenas e um Ministério dos Povos Indígenas. Levou mais de 120 anos para a Academia Brasileira de Letras reconhecer e nomear uma pessoa indígena como “imortal”.
E ainda temos muito a fazer: melhorar e criar políticas indigenistas, aumentar a qualidade e a provisão de serviços públicos nas terras indígenas, demarcar mais territórios e intensificar a luta contra o massacre e o genocídio aos povos indígenas.
E por que tudo isso? Por que o Brasil precisa proteger os territórios e os povos indígenas? A resposta é simples e dividida em duas partes: eles são os verdadeiros e originários guardiões das nossas florestas, e todos nós temos algo de indígena em nós.
Eles têm contribuído, por mais de 25 mil anos, a manejar e a cuidar das florestas tropicais na América do Sul. Entre 2013 e 2021, o desmatamento nas terras indígenas na Amazônia representou menos de 3%, enquanto nas áreas privadas foram mais de 56%. Você consegue identificar facilmente uma Terra Indígena, em uma imagem de satélite, quando se vê um maciço verde resistindo à agropecuária extensiva de baixa produtividade.
Este maciço de floresta, que produz chuva, irriga a nossa agricultura, abastece nossas cidades e enche os reservatórios de nossas hidrelétricas. Este maciço de floresta possibilita a bioeconomia amazônica por meio da domesticação e manejo, há mais de sete mil anos, de espécies como cupuaçu, murumuru, copaíba e cacau. Este maciço de floresta permite a existência de medicinas naturais poderosas como a ayahuasca e as diversas garrafadas que utilizamos.
Por conta dos povos originários no Brasil, nós, não-indígenas, temos muito de indígenas em nós. As riquezas culturais e antropológicas indígenas se misturam e constituem nossos hábitos, idioma, regionalismos e modos de vida. Coisas simples, como a nossa higiene pessoal, nadar em rios e ter jardim em nossas casas são costumes que herdamos de nossos ancestrais indígenas. Nossas paixões, como a caldeirada, a tapioca e o Festival de Parintins também vêm deles. E há heranças invisíveis também: grande parte de nós brasileiros não-indígenas compartilhamos de DNA indígena, por mais que isso possa ter sido causado por violências durante as ondas de colonização e massacres por um desenvolvimento irracional.
Portanto, a maior conquista e celebração para este mês indígena é que todos entendam que o Brasil é uma grande Terra Indígena, com pessoas indígenas e não-indígenas convivendo e prosperando. Lutar contra a cultura e as terras dos povos originários é renegar a cultura brasileira, nossos costumes e o interesse de desenvolvimento sustentável nacional.