Essa semana saiu um artigo alarmante, na renomada revista científica Science, sobre a disponibilidade e qualidade das nossas águas: metade da população do planeta não tem acesso à água segura. Mais de 4 bilhões de pessoas sofrem com a falta de água!
Importante, primeiro, definir “água segura”. Este termo envolve potabilidade, acesso, territorialidade (distância), qualidade e disponibilidade para o bem-viver e a prosperidade humana. E não podemos ter, somente, potabilidade sem disponibilidade e acesso. Ou ainda, disponibilidade a uma distância enorme. Para a Organização das Nações Unidas (ONU), uma pessoa tem acesso à água segura quando todos esses critérios estão satisfeitos. E, infelizmente, a não temos visto isso na Amazônia e, especificamente, aqui no Amazonas nas últimas semanas.
O período de seca, que parece ser o mais intenso já registrado nos últimos 100 anos, já está afetando disponibilidade, potabilidade, qualidade e territorialidade da água para centenas de milhares de pessoas. As consequências deste cenário são preocupantes e iminentes.
Além de colocar em risco milhares de famílias, esta seca prolongada comprometerá todas as safras da agricultura familiar, aumentará significativamente os custos logísticos, prejudicará o calendário escolar, colocará em risco milhares de espécies de plantas e animais, e modificará todos os ciclos naturais de polinização, migração de pássaros e peixes, e de acasalamento.
Isto não prejudicará somente questões ambientais e de saneamento público, mas também a economia do nosso estado. Da provisão e oferta de energia, que é hidrelétrica, à logística e a fartura da agricultura em nossas mesas.
Alguém, mais desavisado, pode questionar: e se alguma empresa inventasse algo que produzisse água? Para este desavisado, já existe uma tecnologia muito eficiente e importante que produz água: a árvore!
Uma floresta saudável é capaz de produzir centena de milhões de litros de água por dia, por seu processo de respiração, na recarga de rios e lagos, e a transformação de vapor em água líquida nas nuvens mais altas. Portanto, aquela história que “cuidar de floresta é coisa de ambientalista” cai por “água abaixo”.
Quem cuida de floresta é o agricultor consciente, é o estudante que busca saúde, é a mãe e o pai que cozinham para seus filhos, é o jovem que curte um final de semana nas cachoeiras de Presidente Figueiredo, e devem ser candidatos e candidatas nessas eleições.
O processo de seca aconteceu, acontece e acontecerá todos os anos. Por conta das mudanças globais do clima, intensificada pela perda e a queima das florestas, as secas vão ficar maiores e mais longas.
Portanto, somente com políticas públicas sérias, investimentos estruturantes, participação social e seriedade na tomada de decisão que conseguiremos nos adaptar a este nem tão novo cenário.
E, ao mesmo tempo que a gente tem que se adaptar, precisamos proteger e recuperar nossas florestas.
A Amazônia pode demonstrar ao mundo como, em pouco tempo, a reversão da curva de destruição da floresta pode ascender a curva de prosperidade e bem-viver!