22 de novembro de 2024

Prototipagem

Daniel Nascimento-e-Silva, PhD

Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)

A prototipagem é o primeiro grande desafio que os cientistas precisam enfrentar e superar para transformar conhecimentos em tecnologia. É por essa razão que é lícito e conveniente dizer que uma tecnologia é conhecimento aplicado. A razão primária dessa consideração é que conhecimento pode ser definido como todo e qualquer tipo de explicação acerca do comportamento da realidade ou de uma parte dela. Por esse motivo, consequentemente, há diversos tipos de conhecimentos, em que a maioria dos que nos fazem viver e agir é do tipo senso comum, enquanto a minoria é da natureza tipológica chamada científica. É isso mesmo. Muito pouco levamos em consideração a ciência nas nossas ações do dia a dia. Aliás, muitas e muitas vezes agimos contra o próprio conhecimento científico, como é o caso dos fumantes que sabem que a ciência demonstra que quem fuma tem muito mais chance de provocar doenças graves do que quem não fuma, mas que, mesmo assim, continua fumando. Outro exemplo é o dos dirigentes de instituições e organizações que sabem que a ciência da administração apresenta procedimentos e instrumentais gerenciais confiáveis para a gestão, mas que, ainda assim, preferem agir de forma improvisada e intuitiva. A prototipagem, sob a ótica do método científico-tecnológico, é uma atitude racional que se recusa ao improviso e intuição nas suas grandes decisões.

A prototipagem é o esforço de materialização de conhecimentos. Ela representa, portanto, o estágio posterior aos procedimentos de aquisição e produção de explicações científicas acerca de aspectos fundamentais que serão levados em consideração para a construção de artefatos físicos. Esses artefatos físicos, por sua vez, são conjuntos de valores direcionados para o suprimento de alguma necessidade. É justamente essa relação lógica que os cientistas têm em mente todas as vezes e a todo momento que se defrontam com o desafio da prototipagem. Por essa razão o MC-T considera a prototipagem como o primeiro estágio da materialização do artefato que vai produzir os benefícios que serão entregues a um público-alvo, usuários ou clientes. Prototipar, portanto, não é apenas a construção de artefato físico, mas o encapsulamento de conhecimentos e grupos de conhecimentos que vão produzir benefícios para a solução de alguma necessidade.

Sob a ótica do MC-T, o processo de prototipagem tem um conjunto de esquemas lógicos que permitem aos cientistas a elaboração de esquemas operacionais capazes de acelerar a geração de protótipos. Esse esquema lógico se aplica tanto para a produção de produtos quanto para a construção de processos, que são os dois resultados essenciais de qualquer produto tecnológico. Quaisquer que sejam os esquemas lógicos que o cientista queira construir, eles sempre vão começar com o protótipo conceitual. Isso quer dizer que o conceito do produto ou da tecnologia é a primeira coisa que se deve construir. Em seguida, se a intenção for a materialização de um produto físico, o esquema lógico precisa ser seguido pela prototipagem da estrutura e as demais que proporcionem a garantia de que os benefícios vão ser gerados; se, por outro lado, for um serviço ou processo, é a prototipagem processual que deve ser a próxima etapa e todas as demais que permitam a confirmação de que os valores desejados pelos usuários, clientes e públicos-alvos desejam.

Se a tecnologia for simples, a metodologia de prototipagem também será simples; se for complexa, a complexidade também fará parte de cada etapa de sua materialização. Novamente, o termo complexidade diz respeito à quantidade de componentes, subcomponentes e partes de alguma coisa. Um produto que seja composto de oito mil partes é mais complexo do que outro feito com duas mil. Um processo executado com sete etapas pode ser considerado simples, quando comparado com outro feito a partir de 200. É necessário que isso seja entendido por que prototipar é construir justamente a parte física, visível, material de um artefato, físico ou extrafísico. Dito de forma mais sintética, a prototipagem é a composição, a junção das partes de um artefato. Vejamos alguns exemplos.

A construção de uma mesa ventilada, por exemplo, pelo próprio conceito, é composta de pelo menos duas partes: a mesa propriamente dita e o componente ventilador. A prototipagem vai mostrar, então, a mesa e esse componente. Como será visto mais adiante, a prototipagem conceitual tem essa missão, a de dar uma ideia completa, genérica, ampla, da tecnologia que se vai criar. Mas ela não é suficiente para produzir o artefato. É por isso que precisamos construir outros protótipos, cada qual com uma finalidade bem específica que, somadas umas com as outras, permitirão a materialização da tecnologia. Isso quer dizer, então, que não se faz um único protótipo para gerar uma tecnologia. Veja o caso de um aplicativo. Tudo começa com a prototipagem conceitual, que mostra a “cara” do produto e suas partes principais. Mas só isso não é suficiente para ele ser produzido. É necessário que se mostrem os subcomponentes de cada parte, assim como as partes dos subcomponentes. Cada forma de mostrar os elementos do aplicativo é um protótipo.

Deve-se diferenciar a prototipagem representacional e a prototipagem operacional. A representacional é oriunda de desenhos, cartogramas, maquetes e tudo o mais que dão uma ideia do conceito; a operacional é a tecnologia já pronta, finalizada, tal qual será entregue aos clientes, usuários e públicos-alvos. A diferença da versão operacional para a versão final é que a operacional ainda não foi submetida e aprovada nos testes a que terá que ser submetida. A prática, contudo, tem mostrado uma relação dinâmica entre esses dois esquemas de prototipagem: primeiro se faz a representação para, em seguida, sua operacionalização. No caso de aplicativos, por exemplo, primeiro é feito a prototipagem representacional para, em seguida, ser feita programação e desenvolvimento, que materializa o desenho e permite aferir sua operacionalização.

Daniel Nascimento

É Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)

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