18 de novembro de 2024

Prototipagem e recursos

Os recursos são o ponto central de toda atividade gerencial. A centralidade diz respeito ao fato de que tudo o que os gestores fazem o fazem por meio dos recursos e com recursos. Se o alcance dos objetivos são é a razão de existência de qualquer organização, é o manuseio dos recursos que tornam viável esse desafio. Os objetivos podem ser interpretados, portanto, como a consequência de toda uma sequência centrada nos recursos, que começam com a identificação dos recursos indispensáveis, sua obtenção, alocação, utilização, monitoramento do uso, avaliação do manuseio e prestação de contas. Em termos de processo gerencial, que são a sequência lógica que todo gestor precisa executar para ter o máximo de garantia de que os objetivos serão alcançados, os recursos dão sentido à segunda etapa, chamada de organização. Aqui, o sentido é de organizar, colocar em ordem, diferentemente do outro sentido de organização, enquanto grupo de pessoas que têm um objetivo a ser alcançado de forma planejada e negociada entre eles. Como todo projeto de inovação tecnológica constitui uma equipe, também pode e deve ser considerado uma organização, que tem uma missão definida a cumprir: a materialização de uma tecnologia. Para que esse objetivo tenha o máximo de possibilidade de se concretizar, é preciso saber executar o processo de organização.

O processo de organização tem dois longos caminhos. O primeiro é o que começa com a identificação e termina com a prestação de contas sobre os recursos obtidos. O segundo diz respeito, dentre outros, a) à organização das atividades (em fins e meios), que é o que antigamente se chamada de divisão do trabalho, b) organização do poder, c) organização da produção, d) organização das pessoas, e) organização do tempo, f) organização das entregas e g) organização do espaço físico. Esses dois subprocessos, dada a sua complexidade, estão fora do escopo deste ensaio. Vamos nos ater apenas aos aspectos relativos aos recursos que os membros de um projeto de inovação precisam conhecer, uma vez que terão que ter um administrador ou engenheiro de produção para fazer os planos de organização que o projeto necessita.

A primeira coisa que se deve entender é que os recursos são os meios através dos quais um produto ou resultado é alcançado. Um recurso não é sinônimo de dinheiro, apesar do dinheiro ser um tipo de recurso. Por incrível que pareça, o dinheiro não é e talvez nunca será o recurso mais importante em um projeto, ainda que é através da tradução monetária que praticamente todos os demais recursos são especificados. Também não se deve confundir recursos com a obsoleta palavra “verba”. De forma precisa, recurso é tudo aquilo que a equipe vai precisar para que possa construir uma tecnologia. Ainda com o perdão da repetição, os recursos são todos os meios necessários para que um fim (um objetivo) seja alcançado.

A segunda coisa é que todo produto tecnológico é feito de recursos. Veja uma lousa inteligente. Ela é composta de uma tela, cabos elétricos, partes eletrônicas, linguagens de programação, controle remoto e muitos outros componentes. Da mesma forma que uma bicicleta apresenta como componentes um guidom, assento, rodas, pneus e outros, toda tecnologia também é composta por partes, subcomponentes e peças. Tudo isso e cada pequena parte são chamados de recursos.

A terceira coisa é que, para que o produto tecnológico seja construído, também vai consumir recursos. É como construir uma mesa com cardápio eletrônico. Para fazer as pernas, consumiram-se madeiras; para o tampo ou base de trabalho de vidro, diversos tipos de vidraçaria foram testados; a parte elétrica consumiu diferentes tipos de cabos e fios elétricos; a parte eletrônica, diversificados esquemas de chips e sensores.

A quarta coisa é que, para que haja o manuseio de recursos ou matérias-primas, são necessários equipamentos, tecnologias, máquinas e instrumentos muitas vezes específicos. Esses recursos fazem uma forma de correspondência com os recursos intangíveis, de maneira que quanto mais complexos forem esses tipos de recursos, mais especializada e destra tendem a ser as intangibilidades que as manusearão. O manuseio de equipamentos para fazer uma salada de frutas não exige conhecimentos tão elevados quanto os exigidos para se pousar uma nave tripulada em Marte.

A quinta coisa é que toda tecnologia exige uma série de recursos intangíveis voltados para o produto, os materiais, as matérias-primas, o ambiente de negócio e com o macroambiente de atuação da equipe de projeto. É necessária, por exemplo, a capacidade gerencial para que a equipe consiga sucesso no empreendimento tecnológico que pretende entregar. Mas não é só isso: alguém precisa ter conhecimento e habilidades sólidas sobre o entendimento do comportamento do mercado, avaliação das tecnologias concorrentes, domínio sobre métodos de inovação tecnológica, capacidade de liderança, habilidade na resolução de conflitos, composição de equipes, mudanças nos membros das equipes sem causar desmotivação e conflitos, dentre outros.

O sexto grupo de recursos que é preciso considerar na inovação tecnológica são as instalações físicas, que normalmente são chamadas de ambientes de trabalho. Apesar dos prédios serem muito importantes, o ambiente, que é algo extrafísico, que não se vê, mas se sente, é fundamental. Muitas vezes o ambiente é mais importante do que as próprias instalações, porque estas podem ser alugadas, emprestadas, compradas etc., mas o ambiente, não.

Geralmente os projetos têm uma parte para que se listem os materiais e equipamentos necessários para a geração da tecnologia. Essa é uma visão um tanto quanto precária, bem míope, de recursos. Na verdade, eles dão conta de uma pequena parte da imensidade de coisas necessárias para um projeto dar certo. Por essa razão, gestores de projetos de excelência sempre lançam mão de uma outra lista que, infelizmente, não pode ser apensada para custeio nos financiamentos das inovações tecnológicas. Essa lista contém o que é mais importante do que a lista apresentad

Daniel Nascimento

É Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)

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